domingo, 22 de setembro de 2013

Seleta Piauiense - J. Coriolano


O Piauí


J. Coriolano [José Coriolano de Sousa Lima] (1829 - 1869)

Vós pensais que minha terra
Menos que as outras encerra
De beleza e de primor?
Enganai-vos: é tão bela,
Tão prendada que como ela
Poucas há, se alguma o for.
É terra, cujas campinas
Se matizam de boninas.

Tem tantas frutas gostosas,
Tantas aves sonorosas,
Tem um sol tão criador!
Tem uma manhã luzida,
Tem uma tarde sentida,
Que recorda tanto amor!
É terra, cujas campinas
Se matizam de boninas;

Tem caças mui saborosas,
Que vivem tão descuidosas,
Sem temer o caçador!
Suas madeiras têm favos
Que abrigam seus filhos bravos
Da fome e mais do calor.
É terra, cujas meninas
Mostram nas faces boninas.

Seus rios são caudalosos,
Navegáveis e piscosos,
Emanam dizendo – amor!
Tem lindas flores fragrantes,
Ouro, prata e diamantes,
E outras minas de valor.
Fogem por entre boninas
As nascentes cristalinas.

Tem um céu tão anilado,
De noite tão estrelado,
Tão gentil e encantador,
Que eu não sei se assim o digo
Porque conservo comigo
O que chamam próprio amor.
Mas quem nega que as meninas
Mostram nas faces boninas?

Seus filhos são mui briosos,
São, em geral, talentosos,
Têm à pátria fido amor;
Suas filhas são fagueiras,
São lindas, são feiticeiras,
De branca ou morena cor.
É terra cujas meninas
Mostram nas faces boninas.

Tem uma lua saudosa,
Uma brisa harmoniosa,
Que exala suave odor;
Tem mancebos dedicados,
Valorosos, extremados
Na paz, na guerra, no amor.
Tem vales e tem colinas
Matizadas de boninas.

Vereis nas altas palmeiras,
Ou nas copadas mangueiras
Chilrar o alado cantor;
Vereis, libando a doçura
Do cravo, da rosa pura
O fulgido beija-flor.
Vê-lo-eis pelas campinas
Beijar olentes boninas.

Vós pensais que minha terra
Menos que as outras encerra
De beleza e de primor?
Enganai-vos: é tão bela,
Tão prendada que como ela
Poucas há, se alguma o for.
É terra, cujas campinas
Se matizam de boninas.

Minha terra é o El Dorado,
Deleitoso, afortunado,
Que Walter Raleigh sonhou;
É o país de Cocanha,
Onde a ventura é tamanha
Que a vida nunca abafou!
Oh! ide ver a minha terra
Que tanta beleza encerra!    

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