Fonseca Neto
Lembra o
padre Vicente Britto, de ascendência oeirense, que “o ser humano é
história e dos encontros aparecem as respostas”.
Uma das
características mais acentuadas do processo seiscentista de
repovoamento da bacia do rio Punaré (Parnaíba), é ter ele se dado
com a implantação de currais, seguindo a orientação de seus
afluentes. Toda a terra necessária à pecuária, foi tirada, por
injusta guerra, à população nativa, constituída por grupos
humanos há milênios vivendo por aqui.
O casal de
fazendeiros, Maria Freire da Silva e José Vieira de Carvalho, está
entre os troncos familiares aqui chegados nos cinquenta primeiros
anos da colonização, e entre seus filhos, uma delas, Domiciana
Vieira de Carvalho, casou com um moço português da corte, Valério
Coelho Rodrigues, fixando-se no sítio do vale do Canindé, lugar da
hoje cidade de Paulistana.
Domiciana
e Valério tiveram 16 filhos, 8 mulheres e 8 homens. Os filhos se
multiplicaram e também as fazendas do casal. E assim como a
atividade ligada à gadaria tinha caráter extensivo – os rebanhos
se reproduziam e seus donos tinham que incorporar mais terras de
pastos e águas – os filhos deles iam casando e fundando cada vez
mais longe suas fazendas e currais. Com efeito, espalhar-se-iam pelos
vales mais úmidos do rio São Francisco, limites das capitanias de
Pernambuco e da Bahia, e da própria capitania do Piauí, rio Canindé
abaixo.
De 1712 a
1762, o que chamamos de Estado do Piauí constituía apenas um
município, da Mocha, rebatizado para “Oeiras” exatamente nesse
ano de 62, quando efetivada a cidade-sede como cabeça de capitania
em 1759, época em que os Vieira de Carvalho e Coelho Rodrigues
ganhavam proeminência na vida social piauiense em formação.
Em meados
do século seguinte, o XIX, dos 15 filhos – um tornou-se religioso
e celibatário – e dos seus enlaces com várias outras famílias
fazendeiras, sua descendência em netos e bisnetos sobe a mais de uma
centena de indivíduos. Já misturados, diga-se, e agora, além
daqueles, ostentando, entre outros, os sobrenomes de Souza, Sousa
Martins, Araújo Costa, Macedo, Andrade, Costa Veloso, Lopes dos
Reis, Ferreira, Costa Mauriz. E hoje, viventes, da sexta à décima
gerações, a descendência de Domiciana e Valério constitui
certamente a mais extensa rede parental piauiense, notadamente da
metade sul do Estado, além de ser a maior família do extremo oeste
pernambucano e norte baiano e também sul do Maranhão – para este,
antigo Pastos Bons, ainda no primeiro quartel do Oitocentos, migrou
um ramo dos Souza Coelho, do vale do São Francisco, região de
Petrolina e Juazeiro.
Tão
extensa essa teia familiar que é muito difícil andar por Oeiras,
Paulistana, Petrolina, Afrânio, Pastos Bons, para não se cruzar em
poucos minutos com frutos pendentes da árvore desses avoengos
paulistanenses. Descendência visibilizada sobretudo pela
proeminência que alcançaram muitos de seus filhos, sobretudo nas
funções políticas e no campo das letras. Alguns deles? O famoso
Visconde da Parnaíba (neto); José Sarney (hexaneto); Wilson Martins
e Roseana Sarney (septanetos); Nilo de Souza Coelho e Nilo Moraes
Coelho (ex-governadores de PE e da BA) e Luiz Coelho da Rocha
(ex-gov. MA); Abimael Carvalho (general); Dagoberto Carvalho Jr
(escritor, da APL); Antonio Coelho Rodrigues e Celso Barros Coelho
(juristas e parlamentares federais); Fernando Bezerra Coelho, atual
ministro da Integração, de Dilma Rousseff. E a memória familiar
assegura que 80% dos prefeitos de Petrolina, quase todos de Afrânio,
e de Dormentes (PE), e muitos de Oeiras, inclusive o atual. Clérigos?
O padre Marcos de Araújo Costa (neto); o bispo Augusto Rocha, que
celebrou a missa tricentenária. Em Passagem Franca, MA, Rosa Coelho,
aos 101 anos, neta de José Vasco de Souza Coelho (deputado geral do
Império), do ramo de Pastos Bons, é talvez a mais longeva
descendente desses Coelho de Valério.
Domiciana
tinha origem paulista, daí o topônimo Paulistana. Valério, um
português, da região do Porto, onde nasceu no dia 3 de setembro de
1713. Para celebrar os 300 anos de seu nascimento, grande Encontro se
fez no último domingo, no terreiro da fazenda deles, hoje a praça
central da cidade de Paulistana. O governador Wilson Martins e o
prefeito Gilberto Melo lideraram a grande festa, solene e popular.
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