27
de setembro Diário Incontínuo
VARIAÇÕES
SOBRE A MATANÇA DE ANIMAIS
Elmar Carvalho
Tempos
atrás, uma alta autoridade, numa festa carnavalesca, fantasiou-se de
“comandante”. Parece que ele, até numa brincadeira, queria
demonstrar ser o que ele de fato era: um comandante. Era como se
desejasse levar a sua autoridade e cargo até para o recinto de uma
simples brincadeira momesca, ou então precisasse convencer-se a si
próprio de que de fato era um comandante, embora de uma nave
burocrática e estatal. Parecia necessitar da bengala de seu cargo,
mesmo numa festa de fantasia, em que seria mais coerente ele
aparentar ser o que não era, já que se tratava de uma festa de
simulacros.
Anos
atrás, vi um homem, envergando uma roupa militar de camuflagem, com
um potente rifle, posar de poderoso caçador, com uma onça morta a
seus pés, como se essa covardia fosse um grande feito, digno de
figurar nos fastos da história. A foto fora estampada em jornal de
grande circulação. Para mim, não passava do registro de uma
barbárie travestida de fanfarronice visual.
Até
admito que seria um feito notável, talvez mesmo heroico, se ele
tivesse enfrentado o animal sem nenhuma arma de fogo, ou apenas
armado com um cacete, no máximo com uma faca, que seria uma espécie
de prótese ou simulacro de uma poderosa garra. Mas o homem, naquela
fotografia, parecia orgulhoso, como se fosse um semideus mitológico
e senhor da vitória. Parecia, em seu sorriso, jactar-se de sua
covardia, como se tivesse cometido uma façanha homérica e gloriosa,
merecedora de uma epopeia.
Meses
atrás, vi na revista Veja uma foto que reputei chocante. Nela
aparecia um elefante morto, próximo de uma locomotiva e dos trilhos.
O animal tinha a boca aberta, como se tivesse emitido um forte e
desesperado urro de dor. Sendo o elefante um animal muito
inteligente, me pareceu razoável imaginar que ele percorria aquela
floresta, por onde passava a ferrovia, com desenvoltura, sobranceria
e destemor, vez que era o maior e mais forte animal terrestre,
contudo sem insolência e desprovido de ferocidade gratuita para com
os outros animais.
Apenas
a girafa é mais alta que ele, mas isso mesmo apenas por causa do
pescoço, como gosta de dizer um amigo meu, ante as pessoas que se
julgam maiores e mais importantes que os outros. O elefante parecia
frágil, pequeno e indefeso diante daquele monstro de ferro e aço.
Por essa razão, alguma medida de proteção aos animais deveria
existir, quando são feitas obras e desenvolvidas atividades de
tamanho impacto ambiental, com o objetivo de serem preservados os
animais silvestres, inclusive os ferozes, que vivem em harmonia com o
seu ambiente natural.
Vi
na TV, vários meses atrás, uma matrona rica, que, diante das
câmeras e da mídia, se dizia protetora dos animais, se vangloriar
orgulhosamente, para um grupo de “turistas caçadores”, dos quais
era guia e hospedeira, de haver matado uma onça grávida.
Fiquei
enojado dessa mulher tão hipócrita, que para os meios de
comunicação alardeava ser ecologista, mas que na verdade era uma
cruel exterminadora de espécimes, que dizia proteger e defender. Não
consigo imaginar que orgulho possa existir em se matar, sem nenhuma
necessidade, um animal, que apenas desejava usufruir a vida selvagem
e instintiva, para a qual fora criado.
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