(*)
Francisco Miguel de Moura
Sou
formado em Letras, mas também em Crítica de Arte, uma pós-graduação
na Universidade Federal da Bahia. Mas não custa nada, de vez em
quando a gente meter o bedelho onde não é chamado. Acontece que na
sexta-feira 06-12-2013 fui convidado pelo cantor e compositor Lázaro
do Piauí, atual Presidente da Fundação Cultural do Piauí, para
participar do programa “Nossa Terra - Nossa Gente”, do qual é o
apresentador. Era apenas a gravação. O programa só vai ao ar no
domingo. Ou seja, conheci a televisão por dentro e por fora. E
posso garantir que não houve cortes, foi tudo para o ar tal como na
gravação. Perfeita.
Participei como escritor, levei livros e fotos e também
minha mulher, aliás, ela me levou, pois já quase não dirijo.
Apresentei meus livros, falei sobre o fazer literário, dei minha
opinião sobre a literatura de antes e de hoje, referindo as minhas
participações na sociedade em conjunto com outros escritores, além
de uma parte de minha família e meus amigos – assim quis o
apresentador Lázaro do Piauí. Chegou até a falar na data do
casamento de Francisco Miguel de Moura e Maria Mécia Morais Moura
(minha esposa), completando 53 anos de vida conjugal, no domingo, dia
8.
Confesso que gostei e senti que repercute na sociedade o
dito programa “Nossa Terra, Nossa Gente”. Mas gostei muito de
também conhecer os participantes, companheiros daquele evento: Um
grupo novo de sambistas do Monte Castelo, um cantor já famoso pelos
prêmios que recebeu e que há muito tempo retornou de Brasília e
outras parte do país. Nome: My Brother. Esse moreno tem uma voz
forte e bonita que bem merece o respeito da classe e dos ouvintes.
Realmente é um cantor de boca cheia, com repertório variado, indo
do samba do morro ao samba-canção, passando pelas recentes
inovações do samba. Deu-me uma saudade quando cantou “Fascinação”,
dedilhando seu próprio instrumento, como tocaria em qualquer
sensibilidade do planeta, mesmo sem ser artista. E aqui lembro
da história, não sei se folclórica, de que o empedernido poeta
João Cabral de Melo Neto não gostava de música. Não posso
acreditar. Se assistisse ao My Brother, naquela tarde,
estremecer-lhe-ia alguma coisa por dentro.
Participante do programa foi também a cantora Raquel
Moura, com sua doce e marcante voz e um repertório que vai desde as
músicas feitas por ela mesma e pelos parceiros que a acompanham
instrumentalmente, sem esquecer as grandes marcas da música popular
brasileira, tudo já constando do seu CD, em fase de distribuição.
Sabem onde ela nasceu? Em Bocaina - PI, perto de Picos, de Francisco
Santos. Porém mora em Valença do Piauí, onde seus pais se
estabeleceram. Mas as coincidências foram tão grandes que o
Lázaro gritou “Não tem jeito, a Raquel Moura é parenta do
escritor Chico Miguel de Moura”.
Como escritor, meu propósito era falar
intelectualmente, recitar poemas (recitei apenas dois: o mais popular
e um outro que eu havia escrito na véspera). Mas terminei cedendo à
magia do discurso do Lázaro, divertido, gostoso e alegre, na fala do
povo e das coisas do povo. Programa descontraído como é Lázaro do
Piauí, onde se misturam tantas coisas, “a bagunça como o povo
brasileiro gosta”, mas uma bagunça organizada, dizia ele. E como
se não tivesse sido planejado. Mas foi bem planejado pela
inteligência e criatividade do apresentador, aqui e acolá,
colocando coisas muito engraçadas da nossa gente, junto com gírias
e anedotas, ele próprio recitando um belo poema caboclo.
Ainda não falei do grupo “Estampido”, ali
representado por dois participantes que disseram e mostraram a
alegria que levam a vários lugares, tais como hospitais de doentes
do câncer e abrigo de idosos.
Sei que há muitas pessoas que desejam conhecer e
reconhecer a nossa cultura popular, que é rica. Mas é preciso ter
cuidado, porque há muita coisa oficial que não passa de uma
deturpação da cultura do povo. Não vou citar programas nem
ninguém, mas que tem, tem. No Carnaval e no São João ainda se pode
respirar um pouco do que foram. Mas já está me coçando a língua
pra referir o “Boi do Piauí”. Para mim, nosso boi é muito mais
aquele que se chama de “Reisado”, onde o boi é apenas uma
figura, embora a principal do teatro livre do povo, aquele que
assisti quando criança. Infelizmente num programa de tevê com
seu tempo medido e contado não dá para apresenta muitas coisas, mas
tenho certeza de que o Lázaro concordaria comigo neste ponto.
Há poucos dias recebi uma carta de um piauiense que
mora na Áustria e tem muita vontade de conhecer a cultura popular
piauiense. E para isto gostaria voltar ao Piauí, embora já tendo
morado em Teresina, para rememorar algumas coisas e ver outras.
Alguma coisa ainda encontrará; mas as manifestações do passado
estão morrendo e na tentativa de avivá-las ocorrem muitas
deturpações. Mas venham, venham outros mais conhecer nosso povo e
nossa gente e não deixem de assistir, se possível ao vivo, o “Nossa
Terra, Nossa Gente”. Aí somos apresentados como somos e não como
querem que sejamos.
Aqui tem muito mais belezas do que no Rio, Minas ou São
Paulo. Aqui é o centro cultural do Brasil, como disse Luiz Fernando
Veríssimo, em suas andanças por este país, numa crônica bem
humorada. Podem acreditar que nosso boi não morreu, morreu foi o boi
deles, nos tais “rodeios”, um arremedo das nossas “pegas do boi
solto e brabo do sertão, feitas pelos destemidos vaqueiros, em seus
gibãos de couro”.
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*Francisco Miguel de Moura - Escritor e Membro da APL - Academia Piauiense de Letras, em Teresina (PI) e da IWA - International Writers and Artists Association, em Toledo,OH, Estados Unidos.
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