10 de janeiro Diário Incontínuo
NA VÁRZEA DO
SIMÃO, ENTRE POETAS E PASSARINHOS
Elmar Carvalho
No sábado, dia
3, eu e a Fátima recebemos, no sítio Filomena, na Várzea do Simão, os poetas
Alcenor Candeira Filho e Neide Moscoso, Ana Lúcia (Aninha), esposa do vate, e
Canindé Correia. Ficamos num dos alpendres, a contemplarmos as árvores e as
flores do jardim, a sentirmos a brisa suave, que tornava agradável a
temperatura, e arrancava suave música das palmas dos coqueiros e das
carnaubeiras próximas.
O Alcenor e o
Canindé são meus amigos desde a segunda metade da década de 1970. Fizemos parte
do grupo de colaboradores do jornal Inovação, que relevantes serviços prestou à
cultura e à sociedade parnaibana. A Aninha tornou-se nossa amiga, desde o seu
casamento com o poeta. Foi uma manhã memorável, pela conversa amena, variada,
com pitadas de história, poesia, humor e tiradas espirituosas, ao sabor do
improviso. O Dico e o Diá, irmãos da Fátima, também estiveram presentes, mas
logo se ausentaram, em virtude de compromissos pessoais e familiares.
Não conhecia
Neide Moscoso, exceto através de seus ótimos poemas, concisos, densos,
subjetivos, líricos, mas sem transbordamentos eivados de pieguice. Conheci os
seus textos, através da intermediação inicial do poeta Alcenor. Foram enviados
por e-mail, e eu grata e gradativamente os fui publicando em meu blog. As
conversas, entrelaçadas, paralelas ou não, foram secundadas por sábias libações
e sóbrias degustações, como bem poderia dizer o imortal Pacamão, que já partiu
para o outro lado do mistério, ou hemisfério, como consta numa das anedotas que
ele protagonizara.
Na quinta-feira
seguinte, dia oito, sozinho, do observatório do mesmo alpendre, enquanto
esperava pelo almoço, fiquei a contemplar as árvores e os passarinhos. Como
temos procurado evitar, na área do sítio, que se espantem os pássaros, que se
lhes atirem pedras ou paus, verifiquei que um deles chegou a fazer seu ninho
num dos cantos da varanda, enquanto outros o fizeram nas árvores próximas.
Desse fato tirei a conclusão de que as aves se sentem protegidas no sítio
Filomena.
As aves canoras
de maior prestígio e de mais alto valor comercial se afastaram das imediações,
fugindo dos passarinheiros, das baladeiras ou estilingues e dos alçapões.
Contudo, ante nossas providências em nosso pequeno imóvel, inclusive plantação
de árvores frutíferas, constatei que alguns desses passarinhos já começam a
tomar chegada, a nos encantar com o seu canto mavioso. Espero que em breve já
possamos escutar o canto de corrupiões e chicos-pretos. Os corrupiões,
valentes, galantes, metidos em sua fatiota colorida, ostentosa; os
chicos-pretos, discretos, envergando o seu discretíssimo fraque negro.
Entretanto, ambos igualmente mestres em seus encantadores trinados e gorjeios.
Sempre ouvimos o
estribilho alegre dos bem-te-vis: “bem-te-vi, bem-te-vi”, que me serve de
advertência quanto ao olho onisciente do Senhor, que tudo vê, que tudo sabe.
Amiúde escutamos o canto saudoso e melancólico das ariscas rolinhas
“fogo-apagou”, que também nos serve de admoestação contra os percalços e
intempéries. Aliás, por falar em tantos passarinhos, a Fátima, junto ao portão
de entrada, mandou pintar um painel, pelas mãos hábeis de mestre Zico, em que
aparecem um bem-te-vi, em memória de minha mãe, que tanto admirava esse brioso,
alegre e belo passarinho, uma sabiá, representando sua irmã Remédios, que gosta
de cantar, e duas corujas de bom agouro, por causa de meu apego aos livros.
Ao meio dia,
como se estivesse cumprindo uma missão, chegou um pressuroso e diligente bando
de anuns pretos. Essas aves são quase sempre silenciosas, e não se destacam
pelo cantar. Pousaram sobre um cajueiro, que ficava bem perto de onde eu
estava. Embora negras como um corvo ou um urubu, não são aves de rapina e nunca
se lhes atribuiu a pecha de serem agoureiras. Jamais se disse que um anum preto
assombrasse alguém, como uma rasga-mortalha ou como o célebre corvo de Alan
Poe, este a entoar, melancólica e tetricamente, o seu refrão “nunca mais”,
despojado de qualquer esperança.
Em poucos
minutos, seguindo uma tática que eu já lhes tinha observado anteriormente,
derrubaram dois cajus maduros, e logo desceram para bicar a polpa tenra e
suculenta. Passado um curto instante, veio uma impertinente e inoportuna
galinha em direção a um dos cajus. Os anuns, sabiamente, não a enfrentaram, nem
se agastaram, e se concentraram em apenas um deles. Após três ou quatro
bicadas, a galinha enjoou o repasto e se retirou.
Essa mesma
situação repetiu-se, tendo como “herói” outro robusto galináceo. Pude, então,
perceber a sabedoria dessas aves, tão discretas em suas vestes negras, tão
humildes em seu silêncio. Não foram quinhoadas com bela plumagem e nem foram
dotadas de um mágico cantar, mas por isso mesmo não são perseguidas por
caçadores e meninos, com suas arapucas, armadilhas e alçapões. Mas Deus as
contemplou com salutar esperteza e providencial sabedoria.
Sem saber da visita , na Várzea do Simão, pelos amigos Alcenor Candeira, e Canindé Correia acompanhados de suas esposas e da poetisa Neide Moscoso, fiz o seguinte comentário tratando das lagoas do Prado, Boa Fé e Arraias.
ResponderExcluirOntem, estive com meu filho Vinícius na Várzea do Simão situada na beira do Rio Parnaiba , divisa dos municípios de Parnaiba e Buriti dos Lopes. Belo lugar e palco de muitas lembranças. Sempre chego lá, com o Canindé Correia, quando, o nosso amigo Elmar Carvalho com sua esposa Fátima, uma das herdeiras do lugar, está lá, como bom poeta curtindo a sinfonia dos passarinhos no alpendre de sua casa de campo.. Mas, como está em evidência na Delta Cap a imagem da Lagoa do Portinho sem água, devo informar que , nas imediações da Várzea ,as lagoas do Prado, Boa Fé e Arraias estão completamente secas com o chão torrado. Quanta desolação ao deparar-me com essa triste realidade no início de 2015. Diante do quadro, só me resta apelar para Deus, que, ele na sua infinita bondade faça chover na região ,para que não ocorra , como há um século atrás, a famigerada seca que assolou o Piaui e Ceará, inspirando a notável escritora cearense a atingir o mais alto degrau da fama no meio literário com o seu romance "O Quinze".
Vicente de Paula Araújo Silva (Potência)