HISTÓRIAS
DE ÉVORA
Este romance será publicado neste sítio
internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos forem
sendo escritos.
Capítulo XXX
Dança e namoro
Elmar Carvalho
No sábado, conforme combinado no
balneário, Marcos se preparou para ir à festa no Évora Clube. Sua mãe lhe
entregou uma pequena quantia, suficiente apenas para o bilhete de entrada,
alguns refrigerantes e, no máximo, três cervejas.
Seguiu para o bar do Zé Afonso, onde
já estavam Mário Cunha e Fabrício, bebericando umas cubas-libres, preparadas
por eles mesmos (com mais ou menos coca, com mais ou menos limão), conforme o
gosto de cada um, no Cantinho dos Inocentes. Faziam a chamada base ou
preliminar para as poucas cervejas que tomariam no clube, no intervalo das
danças.
Quando terminaram o litro de rum, já
quase no horário marcado para o início do baile, seguiram para o centro, não
sem antes fazerem uma entrada estratégica na Zona Planetária, como se fosse uma
batida de vistoria ou de reconhecimento. Os prostíbulos estavam animados, com
muitas raparigas, fregueses e curiosos. As mulheres expunham suas carnes em
varais de açougues imaginários, como disse certo poeta, referindo-se a esse
meretrício de nome tão sugestivo, quanto poético e apropriado.
O grande cantor de bolero Roberto Müller
se esgoelava na vitrola em alto volume. Os copos de cerveja sobre a mesa eram o
cenário perfeito para a música que ele cantava, sucesso absoluto nos lupanares
da cidade: “Entre espumas”. Os rapazes pouco demoraram. O que mais lhes
interessava eram as namoradas, ninfetas em flor, que poderiam conquistar na
festa.
Marcos não era um bom dançarino, mas,
de qualquer modo, nenhuma garota reclamara, até então, de sua performance. Na
verdade, ele usava a dança para arranjar namorada, sem maior compromisso e sem
risco de vexame, já que desnecessária a costumeira “cantada”, que sempre
poderia redundar em um “fora”. Conforme o modo como a garota se lhe aconchegasse,
ele saberia se a conquista seria “tiro e queda”, como gostava de dizer.
Se ela aceitasse o aconchego, o
enlace dos braços e o afago das mãos a deslizarem em suas costas e cintura, era
porque “estava a fim”. Ele, em consequência, a convidaria a irem para a praça,
a pretexto de que fazia muito calor, o que de fato era verdade, pois o clube
não era climatizado.
Se acaso houvesse recusa, isso não
seria entendido como “levar um fora”, já que não a pedira em namoro. Na praça,
longe das vistas de curiosos, encostado em uma árvore, canteiro ou mureta, o
casal se esbaldaria em abraços apertados, carícias calientes, em escaldantes e
invasivos beijos na boca. Era o que se chamava, na gíria dos jovens da época,
pinar ou “dar um pino”.
Às vezes a moça, dadivosa, pródiga em
amabilidades, quando não havia ninguém por perto, deixava o rapaz lhe tocar os
seios, por cima da roupa. Em raras ocasiões, no calor da excitação, a medo, com
certa relutância e muita cautela, o que concorria para mais valorizar o ato
dadivoso, a garota consentia em ofertar os seios, e os exibia como duas joias
preciosas e delicadas; mas, ao menor sinal de passos ou aproximação de alguma
pessoa, os recolhia com incrível rapidez e perícia.
O rapaz, ao vê-los túmidos, hígidos,
empinados, com a auréola eriçada e os mamilos ressaltados, tinha um verdadeiro
alumbramento. E os tocava e beijava com sofreguidão, com a adrenalina a todo
vapor, quase como se estivesse a cometer um crime, embora com a permissão
relutante e medrosa da “vítima”.
Marcos já possuía essa experiência,
desde que fizera dezesseis anos. Porém, em nome de sua liberdade, nunca firmava
compromisso para novos encontros com a parceira, conquanto isso pudesse
acontecer ao sabor de novas festas e do acaso. Portanto, já praticava o que
hoje se chama “ficar”. Contudo, pressentia que, desta feita, haveria certo
compromisso, e que certa fidelidade ou exclusividade lhe seria exigida.
Laura, com seu jeito sério,
compenetrado, não aceitaria ser mero desfrute de quem quer que fosse. O rapaz
logo a enxergou, sentada a uma das mesas do amplo saguão, com três amigas. Foi
ao bar, com Fabrício e Mário, onde tomou dois copos de cerveja, a pretexto de
criar coragem. Em seguida, se dirigiu até onde a jovem estava. Sem rodeios, a
convidou para dançar.
Ela sorriu em cumprimento, e se
levantou, sem pressa, mas sem se fazer de difícil. Encaminhou-se em passos
lentos, elegantes e firmes até a pista de dança. Marcos a acompanhou, enquanto
lhe admirava as belas curvas, que o vestuário, embora discreto, tão bem acentuava.
De fato, uma volta ao passado, Poeta. Com jeito, sem resvalar para a libidinagem pura e simples, mas com um tanto assim do estilo Anjo Pornográfico, vais desnudando aos jovens de hoje os costumes e as técnicas de abordagem dos jovens de época nem tão distantes assim.Um ótimo capítulo.
ResponderExcluirMeu Mestre José Pedro Araújo,
ResponderExcluirCom esse seu "empurrão" sei que conseguirei concluir esse meu modesto romance, que já vai me consumindo muitas energias.
Você captou o "espírito da coisa", ou seja, o que eu de fato desejava transmitir.
Obrigado.