PEQUENO ENSAIO FILOSÓFICO SOBRE TESES INÓCUAS
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Sempre
e onde quer que irrompam as crises econômicas, principalmente, mas também as
políticas, com elas emergem os arautos da verdade absoluta, luminares, sábios, conhecedores
de todas as causas e porquês.
Como
bombeiros que avisam sobre as possibilidades de grandes incêndios, mas que não são
ouvidos nem chamados a debelá-los quando acontecem. Uma babel de estudiosos das
ciências econômicas e administrativas, consultores generalistas, cientistas
políticos, experts em mídia, dialética ou retórica; meros oradores intrometidos
ou disléxicos.
Aqui,
no Brasil, essas sumidades apresentam uma singularidade: no mais das vezes, já
serviram ao estado e a governos na condição de auxiliares diretos ou de
confiança dos governantes de plantão. Todavia,
quando lá estiveram, se não contribuíram para que as catástrofes emergissem,
mostraram-se incapazes de orientar ou aconselhar seus comandantes quanto ao
tratamento que lhes deveria ser aplicado. Longe do poder público, essas figuras,
amiúde, não somente se lançam a fazer presságios, divagações, alertas terríveis
acerca das possibilidade de novas crises, como se transformam em prolíficos
fornecedores de soluções para evitá-las, criadores de salvaguardas e de
fórmulas mágicas que, se postas em prática pelos gestores públicos, provavelmente,
impediriam futuros sobressaltos, ou talvez minimizassem ou mitigassem os males
intercorrentes ou consequentes à instauração das mesmas. Esses sábios, de uma
hora para outra, passam a ensinar como consertar erros que contribuíram para
que ocorressem ou permitiram que fossem cometidos; porém, não mais nos palácios
governamentais ou ministeriais, mas em púlpitos, em entrevistas, seminários,
convenções; e não mais como auxiliares de governos, mas na condição de
palestrantes remunerados, consultores, enfim, insignes especialistas em
economia e política.
Outro
dia, um veículo midiático convidou alguns desses experts - economistas, na
maioria, ex-ministros das áreas econômicas; cientistas políticos, consultores e
congêneres - a darem palpites e sugestões que pudessem, imediatamente,
solucionar os problemas que impedem o Brasil de se transformar em um foguete
desenvolvimentista. O saldo dessa experiência resultou em um ensaio filosófico
sobre teses recorrentes, improváveis ou inócuas.
A
ironia ou demagogia que alguns dos iluminados convidados impingiram aos temas
elencados pode ser sentida no posicionamento de três deles. Um, apesar de saber
e afirmar que são direitos sociais, constitucionais e básicos de todos os
brasileiros, dentre outros, a educação e a saúde de boa qualidade, entende que
quem, necessária e, complementarmente, paga um plano de saúde e uma escola
particular, a fim de ter a educação e o tratamento de saúde que os pertinentes
sistemas públicos, mesmo obrigados, não oferecem, deveria abdicar de tais
garantias legais, que ele chama de privilégios ou luxo, deixando para os menos
aquinhoados a universidade pública e o sistema único de saúde. É, no mínimo,
imoral qualquer sugestão imposta ao contribuinte no sentido de induzi-lo a
abrir mão dos parcos direitos aos quais faz jus como contrapartida aos tributos
que paga. Assim como o cidadão, o estado precisa cumprir as leis. O outro,
romanticamente, acha que todo processo judicial teria que ser concluído em até
três anos, ou o magistrado responsável por ele não seria promovido. Mera
demagogia. A menos que o poder legislativo seja instado a mudar as leis que os
juízes apenas aplicam, de modo a diminuir a quantidade de instâncias, recursos,
apelações e protelações legais existentes, tudo vai continuar como antes, ou
pior.
O
terceiro conselheiro crê que se toda mãe tivesse direito de votar em cada
eleição tantas vezes quantos fossem seus filhos menores de dezesseis anos, os
eleitos passariam a se preocupar, a longo prazo, com as questões
previdenciárias, ambientais e as políticas de investimentos. Será? Ora, se já
erramos com um voto per capita, com vários então...
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