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RELEMBRANDO
FERNANDO MENDES
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
“Jornalistas são uma espécie em extinção”, foi o que ele disse, mas não
complementou: porém, ditadores, não; nem doutrinadores educacionais.
Não
pretendo falar sobre esses temas em mais que um parágrafo. Este. Se os
jornalistas e a imprensa, deixarem a figura de lado e passarem a falar ou
discutir sobre fatos mais interessantes – ou será que não existem assuntos mais
apropriados e em quantidade suficiente para encher colunas jornalísticas ou
espaços na mídia impressa? - do que os disparates e as verborreias do chefe da
nação, é provável que ele viesse a sentir falta do tempo em que parecia ser a
figura mais proeminente e noticiosa nos meios de comunicação de massa, e até
voltasse atrás em suas aleivosias e destemperos verbais. Quanto à doutrinação,
um adendo: tivemos vários ministros da educação muito bons; alguns, nem tanto;
outros, ruins, mas a probabilidade de o que está no ar ou de plantão superar os
últimos, ou melhor, de estes ganharem um novo companheiro, é bastante plausível.
No atual momento de ebulição e evolução globais, em que todos estão conectados
vinte e quatro horas diárias, querer que a infância, a adolescência, e mesmo a juventude,
apenas venham a ver ou saber, em matéria de ciência ou qualquer outra matéria,
o que seja ou esteja adotado, oficial e, formalmente, pelos gestores e
autoridades governamentais responsáveis pelas políticas público-burocráticas
voltadas à educação e cultura, é ou não uma espécie de doutrinação?
Também
não pretenderia me imiscuir nisso que preferiria fosse uma lorota exposta por
parte da mídia descompromissada com a verdade fática: essa loa de que o governo
não admite que não haja tributo sobre a produção e utilização particulares de
energia solar, não porque esteja pensando no cidadão-contribuinte, mas por não
simpatizar com os gestores da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL.
Isso seria o mesmo que dizer que, tão logo, conseguisse uma gestão que lhe
fosse simpática, a tributação estaria liberada; ou, então, que a figura estaria
sendo, mais que demagógica, hipócrita, se, logo, logo, viéssemos a concluir
que, desde o princípio, sua birra com o parlamento - que teima em querer
espoliar-nos um pouco mais, tributando item ou serviço em que o estado, as
instituições produtoras ou distribuidoras de energia elétrica, não têm gerência,
nem preocupação que não seja oferecer, como se sua fosse, a quem quer que seja
o excedente de energia produzida particularmente pelos cidadãos que nela
investiram -, seria de fachada, de brincadeirinha.
Tentarei,
doravante, falar sobre uma situação que vivenciei, dia desses, em determinada
região da cidade. Atravessava a praça quando dei de cara com um velho amigo que
tentava, ali, vender um livrinho de poesia caseira, que acabara de editar a
duras penas. Entabulamos conversa. Naquele momento e local, um pregador que, a
princípio, não distingui de que seita ou religião seria – depois, entendi de
qual se tratava, mas não vem ao caso, dada a laicidade de nossa institucional
condição religiosa, identificá-la, explicitamente: quem interessar, que possa
fazê-lo -, tentava chamar a atenção dos presentes, desafiando-lhes a fé: -
olhem, amigos, para ser um bom cristão, não basta ir à igreja todos os dias
(lembrei-me do cantor Fernando Mendes, do meu tempo de criança, e de música sua
que dizia: “não adianta ir à igreja rezar e fazer tudo errado...”), mas não se
livrar do pecado, se, ao sair da casa de Deus, vai para a “cerveja”, à boate,
enfim, à farra. Aquele amigo era do tipo que dá um boi para não entrar em briga
ou discussão, mas nem com uma boiada de torna dela sai. Deixando a pregação de
lado, cutuquei-lhe: vem cá, se beber, de fato, fosse pecado tão grande, por que
Jesus, naquelas bodas de Canaã, diante da falta de vinho para os convidados
presentes, atendendo pedido de sua mãe, transformou água – produto tão ou mais
precioso naquelas paragens – em vinho de boa qualidade? E continuei falando,
como que para abastecer-lhe de malévolas informações: quem foi o idiota, quase
disse, antes de este, que falou que se divertir, ir a boates, bares, por si só,
seja pecado? E concluí: se todos que tomassem sua cervejinha, social e,
educadamente, abdicassem de esse hábito, antes de irem para o céu que o
pregador estava oferecendo, veriam as cervejarias falirem, os bares e restaurantes
que as revendem irem à bancarrota, e os empregados, tanto na produção, quanto
na distribuição e revenda do líquido maltado, perderem seus empregos. Pecado, penso
que seja, e bem maior, é desejar o inferno para quem, pura e, simplesmente,
quer se divertir, principalmente, depois de ir à igreja. Errado mesmo é deixar
de fazer algo a que nossa consciência não atribua maldade ou culpa. Foi a deixa
que meu amigo estava precisando para interromper o pregador, pedir-lhe a
palavra e começar seu discurso.
Já
que deram tanto tempo ao meu colega aqui, referindo-se ao pregador, gostaria de
somente ter um minuto da atenção dos senhores: sou um metido a escritor,
filósofo e professor por formação, e proporia a vocês o seguinte: quem achar
que o cidadão aqui – apontando para o ex-pregador - está certo em dizer que é
pecado e que leva ao inferno, beber, pacificamente, sua cervejinha, uísque ou
pinga; ir a uma festinha com sua patroa, amigos, namorado ou namorada, mesmo
após sair de uma pregação religiosa das mais proveitosas, que fique onde está?
Por outro lado, aqueles que não veem qualquer mal nisso, que venham para mais
perto de mim. Dois ou três ficaram aonde estavam, os demais preferiram ouvir
meu velho amigo. Quanto a mim, dir-lhes-ia, satisfeito, fui-me, cantarolando
“Sorte tem quem acredita nela”, de Fernando Mendes.
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