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POLÍTICA MATA
José Expedito Rêgo (1928 – 2000)
“A política é uma doença que só tem cura com a morte que faz morrer”. Stendhal (a Cartucha de Parma)
Se a pessoa gosta mesmo de política e dela toma parte ativa, dificilmente se afasta da vida pública antes de morrer ou da invalidez. Isso nós vemos todos os dias. Homens senis, imprestáveis já, fazendo figura ridícula, querendo ser candidato a isso ou aquilo, tomando lugar dos mais novos e capazes, numa sede inesgotável de poder e de mando, ostentando uma liderança que não mais possuem. Mesmo que não se candidatem a coisa alguma, querem ficar por trás dos testas-de-ferro, manobrando os fios das tramas eleitorais, indicando candidatos de sua confiança, sendo os chefes de fato, agindo na sombra e na água fresca, sendo ouvidos em primeiro lugar sobre qualquer decisão que seu grupo ou partido deseja tomar.
A proposição de Stendhal resume magistralmente o que pode esperar da política. É uma doença que só tem cura com a morte e que faz morrer. Não sabemos se os leitores já prestaram atenção ao desgaste físico que abate sobre um político que desempenha cargo de grande importância, como seja presidente dos Estados Unidos ou mesmo no Brasil. Comparem uma fotografia de Kennedy no tempo da candidatura a presidente e dois anos depois do início de seu mandato. Relembrem Sarney, no dia em que renunciou à direção do PDS e depois que acordou do susto de se ver feito presidente da República. Sua cabeça está completamente branca, ou estava, pois agora mudou a tonalidade para “acaju”.
É sabido que as doenças matadeiras, como o câncer, o infarto do miocárdio e outras instalam-se mais facilmente em um organismo debilitado pela depressão mental e o estresse. E nada deprime em maior grau do que uma derrota eleitoral, principalmente para aquele que estão acostumados a ganhar sempre. Ainda que venha a vitória, o desgaste da campanha juntando-se em seguida ao atropelo do exercício do mandato, quando este é importante realmente e abraçado com idealismo e sinceridade, são suficientes para esgotar qualquer um. Presidente da República, por mais bem sucedido que seja, não pode deixar de ter, diariamente, muita contrariedade, muito aperreio, muito desgosto e traumatismo psíquico, além do cansaço físico real consequente à vida estafante que é obrigado a levar.
Vemos, entretanto, que os ditadores, aqueles que consolidam o poder pela força e eliminam as oposições, governam com mais tranquilidade e vivem mais tempo, como velhos criminosos de consciências calejadas. São exemplos disso Stalin, Franco, Salazar.
Aqui entre nós, sabemos que morreram da doença política, mais recentemente, o velho Tancredo Neves; há mais tempo, Getúlio, Jango, Carlos Lacerda, Café Filho. Aqui no Piauí tivemos os casos de Dirceu Arcoverde e Petrônio Portela, para citar somente dois.
Há exceções naturalmente. Existem os bem-humorados que não perdem nunca, ou facilmente aceitam as derrotas, sem maiores preocupações. Há os oportunistas que sempre se ajeitam e nunca sofrem perdas de maior monta. E há certamente os que fazem da política um meio de vida e não um instrumento de morte.
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