terça-feira, 30 de março de 2021

Minha conversão a Jesus Cristo

Fonte: Google/Rádio Coração




DIÁRIO

[Minha conversão a Jesus Cristo] 

Elmar Carvalho

29/03/2021 

No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

Início do Evangelho de São João    

Dias atrás, ao participar de uma sessão virtual da Academia Piauiense de Letras, eu disse que considerava meus confrades como uma extensão de minha família, e que, portanto, eu deseja compartilhar um acontecimento importante de minha vida. Tentarei reconstituir o que lhes disse então. Outrora, na empolgação de minha ardente juventude, disse, no impulso de um poema, que gostaria de ser um simples lavrador.

O saudoso José Parentes de Sampaio, alto funcionário do Ministério da Fazenda, entre divertido e irônico, falou, mal terminara a minha declamação: “Poeta, ainda está em tempo de você realizar o seu sonho; você ainda é muito jovem”. Os circunstantes sorriram, alguns até talvez tenham gargalhado, mas não me deixei abater.

Caindo em mim, e me lembrando de quão sofrida é a vida de um rurícola, respondi que, na verdade, já era tarde, que já estava acostumado com o conforto da cidade, e que por isso minhas mãos se tornaram muito finas, acostumadas apenas ao manejo de uma caneta ou às teclas de uma máquina de escrever. E que a minha pele já não se acostumaria ao sol causticante que castiga o nosso Nordeste, sobretudo nas caatingas, no semiárido e nos sertões adustos.  

Por essa época e mesmo até muitos anos depois, eu achava que para mim talvez fosse melhor se eu tivesse uma vida frugal e uma Fé simples. Meus pais, que sempre foram muito unidos, gostavam muito de uma canção, que por vezes cantarolavam, cuja estrofe inicial [da letra] era esta:

Fiz uma casinha branca lá no pé da serra

Pra nós dois morar

Fica perto da barranca do rio Paraná

O lugar é uma beleza

Eu tenho certeza, você vai gostar

Fiz uma capela, bem do lado da janela

Pra nós dois rezar

Hoje sei, com base no aforismo, que é sempre mais bonita ou mais verdejante a outra margem do rio. Muitas vezes não damos valor ao que temos, para gostar muito mais do que não temos. Uma pessoa só inveja no outro (ou do outro) aquilo que não tem. Por isso mesmo, Fernando Pessoa escreveu estes versos, sobre as coisas que não se tem, integrantes do poema Ao volante do Chevrolet pela Estrada de Sintra:

“(...)

Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,

Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.

(...)

À esquerda lá para trás o casebre modesto, mais que modesto.

A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha.

Se alguém me viu da janela do casebre, sonhará: Aquele é que é feliz.”  

Esses versos bem se harmonizam com aqueles da poeta Cecília Meireles, constantes do poema “Ou isto ou aquilo”. Seja como for, o certo é que não quis ou não pude ter a vida e a Fé singelas que por alguns anos almejei. Por muitos anos, embora cristão e católico não-praticante, fiquei na dúvida sobre a divindade de Jesus, sobre se ele seria filho direto de Deus, integrante da Santíssima Trindade. Queria crer, me esforçava para crer, mas a dúvida pertinaz se apossava de mim.

Contudo, a Fé em um Deus único e onipotente era inabalável. Na verdade, a minha inteligência não concebe a inexistência de Deus. Não consigo imaginar que o existente possa ter vindo do não-existente, que o tudo possa ter surgido do nada. Li as mais esdrúxulas hipóteses e teorias, com que os cientistas tentam escamotear a existência de Deus, pelas quais o universo poderia ter sido criado ou ter surgido sem a interferência de Deus. No meu poema “Deus, deuses e o nada”, ao pensar na hipótese de o tudo ter surgido do nada, disse:

E a esse deus-nada

eu tiraria meu chapéu

que sequer tenho mas tiraria.

 

II – Mas o nada não cria nada

porque o nada é nada e nada

somado com nada é nada

e multiplicado por nada é nada.     

Por causa dessa dúvida, que me incomodava há alguns anos, passei a ler obras de teologia, e sobretudo li e reli várias biografias de Jesus, entre as quais cito as seguintes (com o nome do autor entre parênteses): Jesus existiu ou não (Bart D. Ehrman), Jesus, o homem mais amado da História (Rodrigo Alvarez), Jesus, uma biografia de Jesus Cristo para o Século XXI (Paul Johnson), O que Jesus disse? O que Jesus não disse? (Bart D. Ehrman), Quem é Jesus (R. C. Sproul), Os últimos passos de Jesus (Bill O’ Reilly e Martin Dugard), Jesus de Nazaré (Bento XVI) e Vida de Cristo (Fulton J. Sheen).

Essas obras, em termos de fatos, pouco ou nada poderiam acrescentar ao que consta na Bíblia, sobretudo nos quatro Evangelhos. Diferem apenas eventualmente em interpretações ou ilações, ou na ênfase que possam dar a estas e a certas passagens das Sagradas Escrituras.

Os que mais defendem a divindade de Jesus, se apegam aos milagres, como sinais e provas de sua natureza divina, e a várias profecias referidas no Velho Testamento, sejam fáticas, simbólicas ou prefigurações da vinda do Messias ou Cristo. E citam várias passagens em que o nascimento, vida e morte de Jesus Cristo foram anunciados por esses escritores bíblicos e profetas. Alguns citaram pitonisas, oráculos e eventos do paganismo que parecem ser augúrios da vinda do Messias.  

O arcebispo católico Fulton J. Sheen foi inexcedível no esforço de demonstrar a divindade de Jesus. Além de citar essas várias passagens do Velho Testamento como prova de que Jesus era filho direto e unigênito de Deus, e, portanto, era o Messias ou Cristo anunciado, também se referiu a eventos e sinais ocorridos em países do paganismo, que apontam para a vinda de um homem-Deus. Sobre isso, leiamos o que disse o arcebispo Sheen, em seu referido livro, após afirmar que figuras históricas como Sócrates, Buda, Confúcio e Maomé jamais tiveram sua vinda preanunciada:

"Entretanto, com Cristo foi diferente. Por conta das profecias do Antigo Testamento, Sua vinda era esperada. Não existiam profecias a respeito de Buda, Confúcio, Lao-Tsé, Maomé ou qualquer outro; mas existiam profecias a respeito de Cristo."

"Só Cristo cruzou essa linha, ao dizer: ‘Buscai os escritos do povo judeu e a história narrada pelos babilônios, persas, gregos e romanos’.”

"Voltemos ao testemunho pagão. Tácito, ao falar para os antigos romanos, disse: ‘As pessoas, em geral, são convencidas pela fé nas antigas profecias de que o Oriente deve triunfar e que da Judeia há de vir o Mestre e o Senhor do mundo’.”

  

Sheen, em seu desiderato de demonstrar que Jesus era mesmo divino, chega mesmo a dizer que se ele não o fosse, sequer poderia ser considerado um homem bom. Porque nesse caso muitas de suas pregações e afirmativas cairiam por terra, uma vez que não passariam de mentira, inclusive a finalidade de sua morte não passaria de uma fraude ou logro. A Nova Aliança do corpo e do sangue de Cristo não faria nenhum sentido. A salvação através de Cristo seria apenas um embuste.

Sim, porque se ele não era divino todas as suas promessas seriam vãs, seriam mentirosas, e nesse caso ele jamais poderia ser considerado um homem bom, uma vez que não passaria de um impostor, de um deslavado mentiroso, ao proclamar que morreria em favor de todos os homens, ao afirmar que era filho de Deus. Portanto, para o arcebispo Sheen, se Jesus não era “Filho do Deus vivo”, também jamais poderia ser um homem bom:

"Um quarto fato distintivo é que Ele não se adequa, como outros mestres mundiais, à categoria estabelecida de homem bom. Homens bons não mentem. Mas, se Cristo não era de maneira alguma quem disse que era, isto é, o Filho do Deus vivo, o Verbo de Deus encarnado, então não podia ser “só um homem bom”; era um patife, um mentiroso, um charlatão e o maior enganador que já viveu. Se não era quem disse que era, o Cristo, o Filho de Deus, então era o anticristo! Se era apenas um homem, então não era um homem ‘bom’."

Paul Johnson afirma, de forma contundente, que foi moda, no final do século XIX, início do século XX, alguns eruditos e historiadores negarem a existência de Jesus, mas que nenhum estudioso sério sustenta hoje essa visão; que não sabe como esse modismo possa ter se alastrado, pois há evidências abundantes de sua existência. Afirma que escritores romanos próximos à época de Cristo, como Plínio, Tácito e Suetônio, “consideravam isso certo, assim como o preciso e consciente historiador judeu Josefo”, que escreveu uma geração após sua morte.

Acrescenta que muitos personagens famosos da antiguidade nunca tiveram sua existência questionada, ao contrário de Jesus, que não obstante foi tema de quatro biografias, uma das quais da lavra de uma testemunha ocular, e as outras transcrições de relatos orais de testemunhas; que todas foram levadas a público entre trinta e quarenta anos após sua morte, e todas concordavam nos pontos fundamentais. Todas foram confirmadas em muitos detalhes por cartas contemporâneas de seguidores de Cristo. No final da introdução, o autor afirma que seus objetivos foram clareza e concisão, e que seu desejo é transmitir a alegria e a força que recebera “ao seguir os passos de Jesus e refletir sobre suas palavras”. Sobre a robustez e idoneidade dessas provas documentais, ele afirma:

"(...) meio século após sua morte, quatro biografias escritas em grego foram divulgadas, e todas chegaram até nós. No final do século haviam surgido 45 documentos autênticos sobre ele, e que também sobreviveram. Desde então, primeiramente documentos e depois livros inteiros foram publicados em número crescente, em todos os idiomas." 

Recentemente, lendo o e-book A Bíblia no meu dia-a-dia, verifiquei que o seu autor, o Mons. Jonas Abib, fundador da comunidade católica Canção Nova, recomendava um método de leitura dos livros componentes da Bíblia, numa ordem diferente da do cânone editorial. Assim, na sequência por ele recomendada, em primeiro lugar vinha a Primeira Carta de São João. Em sua justificativa, ele diz: “... ninguém “é digno”! Ninguém nunca será digno. A salvação é totalmente gratuita. Não é por mérito, mas por amor. Por misericórdia. (...) Somos eleitos! Somos escolhidos! Caminhamos na alegria da salvação; no entusiasmo de saber que fomos os escolhidos. (...) Na conclusão de sua carta, São João diz: “Isto vos escrevi para que saibais que tendes a vida eterna, vós que credes no nome do Filho de Deus” (1Jo 5,13).” A seguir, ele recomendava a leitura do Evangelho de São João.

Portanto, fiz a releitura desses dois livros da Bíblia, na ordem recomendada pelo Mons. Jonas. Li com a convicção de que estava lendo um texto que, além de inspirado pelo Espírito Santo, fora escrito por um apóstolo de Jesus, por um homem que lhe ouvira as pregações e as parábolas, que lhe presenciara os feitos, especialmente os seus vários milagres, que são sinais de sua divindade, assim como fora testemunha de sua dignidade, de sua autoridade e convicção quando disse ser filho de Deus, por quem fora enviado.

Com a leitura dessas obras, mormente com a releitura da Primeira Carta de São João e de seu Evangelho, de forma concentrada, refletida, grifando certas passagens, adquiri a certeza de que Jesus é o Cristo, de que realmente ele é o filho de Deus, e de que ele, o Verbo, estava com o Pai antes de o tempo e o espaço existirem.   

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