quinta-feira, 7 de julho de 2022

ARROUBOS DE SUBSERVIÊNCIA

Fonte: Google

 

ARROUBOS DE SUBSERVIÊNCIA


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

                Costumam dizer os ficcionistas, diante de um texto, áudio ou vídeo, no qual descrevem ou mostram atos ou fatos com algumas similaridades ou características comuns a pessoas, coisas ou lugares reais, que não fora sua intenção fazer aquilo e que, pois, qualquer semelhança teria sido mera coincidência. O mesmo acontecerá conosco daqui em diante.

             Já há algum tempo ele vinha manifestando arroubos de subserviência política e militar. De tanto treinar, o menestrel do besteirol se especializou no assunto. Politicamente, dualista: aqui, torce pela esquerda; lá, pela direita; em ambos os casos, como não é nenhum bobo, defendendo a manutenção do status quo. Ética e moral que se lixem.

                Naquela oportunidade, viria a público, assomaria faceiro tentando, subliminarmente, reavivar nossas recordações - acalmadas, tranquilas, sossegadas, conformadas, graças à ação do tempo - sobre uma chaga política que julgávamos já extirpada do nosso meio: o “mapismo” eleitoral, assunto desenterrado após décadas de salutar e confortável lisura nos processos de votação. Que oportuno o ressoar, o retomar do tema, agora, com o início formal de um período que culminará – queira ele ou não – com um grande e democrático pleito eleitoral, do qual se espera, senão que seja dos mais pacíficos e tranquilos, dos mais legítimos, justos e honestos. De sua ação deletéria, chama as forças armadas para testemunhar.

                Parece querer a figura – talvez porque vislumbre que, consumado o processo eleitoral, o resultado das urnas eletrônicas não agradaria seus ídolos políticos – que voltemos nossas ações, ou melhor, as que ele nos propõe, às benditas urnas, às quais indivíduos, cujo pensamento sobre o assunto coincide com o dele, de repente, passaram a considerar frágeis, violáveis, enquanto receptáculos do voto digital individualizado, pois, indevassáveis, se a intenção, segundo os mesmos céticos, for fiscalizá-las, auditá-las; daí, quererem o retorno, ainda que não em sua totalidade, do voto impresso e, no seu rastro, a possibilidade da fraude eleitoral; há décadas, bom que relembre, cidadão, sua lisura, eficiência e segurança foram comprovadas aqui e alhures; na verdade, ela é um dos poucos motivos de orgulho, do ponto de vista eleitoral, para a nação e os brasileiros sérios. Se houvesse razões suficientes, tempo e custos prontos para serem ignorados, caso lhes fossem aplicados inéditos ou inusitados procedimentos visando depreciá-las, após negadas as suspeitas, será que vaticinadores de desgraças, como certos fanfarrões, admitiriam ter dado com os burros n’água? Elas deixam os cidadãos que preferem uma boa disputa política tranquilos, sossegados; surpresas, em havendo, talvez as decorrentes de mudança de intenção do eleitor na hora de registrar seu voto, frustrando candidatos, partidos e pesquisas perniciosas, fictícias, feitas para tentar enganar pessoas comprometidas com um processo eleitoral legítimo e justo.

                Que as forças armadas fiquem nos quartéis, nas casernas, casamatas, executando ou articulando planos e ações visando a segurança do povo brasileiro e a manutenção da soberania nacional; permita, prezado, que das urnas e de todo o desenrolar do processo eleitoral cuidem as autoridades judiciais legítimas, competentes. Manifestação como a daquele, só se justificaria na hipótese de estar saudoso dos tempos em que a população civil, por ser perigosa, na visão dos ditadores, é que precisava ficar intramuros, no recinto das cidadelas domiciliares, enquanto elas saíam às ruas para vigiar-nos, impedir que fizéssemos ou disséssemos algo que não soasse bem diante do script idealizado.

                Se isso for exigido nos autos que a arguirem, que a interpretação da Constituição seja feita por quem de direito. Em tempo de eleição, ideal é que órgãos e pessoas, legalmente, responsáveis pelos procedimentos eleitorais, e não leigos ou falastrões, se manifestem; que, no momento em que se faça necessário, qual seja, o do depósito do voto nas urnas eletrônicas, e após a apuração dos resultados, possa vir a Justiça eleitoral para, ainda que todo o processo haja transcorrido de forma exitosa, dar prazo para recursos julgados cabíveis, em seguida, anunciar, oficialmente, os nomes dos eleitos. A maneira mais eficiente de as forças armadas se mostrarem presentes e atuantes, nesses momentos, é se mantendo ao largo, cuidando de suas atribuições individuais e corporativas que, bom ressaltar, necessariamente, não incluem atividades eleitorais.

                Apenas reiterando, a quem interessar possa, por aqui, ninguém é mais competente para imiscuir-se em processos e procedimentos eleitorais do que a Justiça Eleitoral – assim não fosse, por que já não extirpada do organograma administrativo do Poder Judiciário? -; do mesmo modo, ninguém entende mais do Métier que as forças armadas desempenham – zelar pela segurança de todos os brasileiros ou habitantes do Brasil, manter e garantir a soberania nacional – do que elas mesmas.

                Menos mal que pretensa incitação à intromissão no processo eleitoral pelas forças armadas, em que alguém vaticina, inclusive, sobre sua não realização, caso aquelas não sejam ouvidas, seja pregada por voz, senão inaudível, de baixa intensidade; de individuo, cuja inexplicável subserviência talvez devesse ser matéria de estudo psicológico ou psiquiátrico.   

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