quarta-feira, 2 de julho de 2025

VIAGEM

Autoria: Gemini
Autoria: ChatGPT



Ontem à tarde recebi um telescópio, que havia comprado alguns dias atrás, com o qual pretendo fazer uma viagem, na qual desejo passear pelos mares da lua. Irei até Saturno, para contemplar a sua beleza ímpar. Brincarei com os seus anéis e trarei um para minha mulher. Jogarei bola de gude com os seus vários satélites. Infelizmente, soube agora que meu telescópio, pelas suas características técnicas é de difícil manuseio para o foco e de pequena potência, vamos dizer assim. Desse modo, a minha viagem pelos mares lunáticos será de pequena ou nenhuma cabotagem. E creio que não alcançarei Saturno, segundo me informou um astrônomo amador – amador das estrelas e dos astros – amigo do Dr. Edilson Sousa Jr. Em virtude disso, publico abaixo minha viagem poética pelo Cosmos e pelo infinitamente pequeno e uma homenagem ao Boa Ideia, astrônomo amador de Parnaíba, um de meus PoeMitos.

 

VIAGEM

 

Elmar Carvalho

 

infinitamente pequeno

penetro o núcleo dos átomos

giro montado nos elétrons

na imaterialidade da matéria

 

visito as tocas

dos pequeninos e ariscos animais

percorro os labirintos

subterrâneos dos cupins

devasso os caminhos

intrincados das formigas

 

faço pantomimas e looping

nos vôos cegos e rasantes dos morcegos

descrevo parábolas e zigue-zagues

no vôo humilde dos insetos

estendo a tarja negra dos mortos

na planação solene dos urubus

 

absorvo os impactos

das patas dos elefantes

destrinço as ranhuras

dos cascos dos dromedários

escalo as cordilheiras

das corcovas dos camelos

 

sorvo a seiva suculenta

das sequóias

e me deixo sugar

pelas gramíneas e babugens

e me deixo prender

nos laços e abraços de morte

das parasitas e trepadeiras

e dou minha carne

ao banquete

das flores carnívoras

 

me transmudo em neutrino

e atravesso o cerne das rochas

e os veios impenetráveis dos metais

e estudo os segredos e mistérios

que não ouso revelar

penetro as gargantas

ígneas das crateras

e colho as lavas

incandescentes dos vulcões

penetro as entranhas

profundas da mãe terra

caldeirão de calda fervescente

e me lambuzo no magma

magnífico de calor

e me explodo em pingentes incandescentes

ajusto as placas tectônicas do planeta

sem tremores de terra e maremotos

 

ondeio nas ondas oceânicas

e pastoreio manadas de sereias

cavalgando os hipocampos

pelos campos de algas e medusas

senhor feudal

da abissal profundeza

adormeço em castelo

feito de esponjas e coral

sob a música encantatória

das sereias

 

deslizo no lodo verde dos musgos

chafurdo na lama nojenta das pocilgas

e no espojeiro celeste das estrelas

 

ressuscito as estrelas afogadas

nos mares também afogados

nas distâncias esquecidas

das possessões submersas

pelas águas sublevadas

 

 

minha via

é a via-láctea

onde sou presa

de seus tentáculos

de polvo galáctico

onde giro alucinadamente

nas espirais de sua coreografia

de esgarçante nebulosa

onde bebo o leite ardente

das tetas tentadoras da galáxia

onde colho as mais tenras estrelas

para enfeitar os cabelos da amada

 

me agarro na cauda flamejante

dos cometas e surfo pelo espaço sideral

assanho e penteio

a cabeleira alourada dos cometas

que vagam até a morte

em suas rotas repetidas

 

surfo nos mares lunares

e desvendo os enigmas

da face nunca revelada

em seu véu de eterna treva

combato o hálito de fogo do dragão

cavalgando lado a lado com são jorge

 

me crucifico

em auto-expiação

no cruzeiro do sul

 

pairo indeciso

ante as três marias

 

cavalgo o centauro

de alfa-centauro

e desafio a fúria

do minotauro

 

desenho o círculo

mais que perfeito

com o compasso

 

reavivo

a mais pálida

das estrelas

do sete-estrelo

 

apaziguo a fúria

das explosões solares

e restauro a pintura

da superfície carcomida

pela pátina das manchas

 

caminho pelo zodíaco

e faço o ritual de suas doze estações

faço a tosagem de carneiro

e com as suas lãs cubro a minha nudez

com um longo manto inconsútil

finco os aguilhões no dorso

e entre os chifres recurvos de touro

corto as garras afiadas e decepo

a juba desgrenhada de leão

reponho a virgindade

de uma ex-virgem desdenhada

unifico gêmeos e depois os separo

e os faço irmãos siameses

chacoalho os pratos da balança conspurcada

e depois equilibro os pratos purificados

remodelo as pinças de câncer

e retifico sua marcha oblíqua

desentorto os chifres de capricórnio

e tiro as arestas de suas pontas aduncas

dou vozes e cantos aos peixes

em aquário pesco sapecas sereias

e atiço o apetite dos felinos

transmudo o arco de sagitário

em arco de berimbau

e o faço dançar capoeira

decepo a cauda venenosa de escorpião

e dela faço cajado dos profetas

do apocalipse e dos cataclismos anunciados

 

vou ao nascedouro

das estrelas

e adormeço

na nebulosa dos berçários

 

exploro os infindáveis

universos paralelos

e infindavelmente não termino

apenas recomeço

 

subverto o espaço/tempo

e voyeur indiscreto espio

pelo sorvedouro das

fechaduras dos buracos negros

as suas atividades e singularidades

e vejo nas estantes de suas entranhas vorazes

todos os mistérios e segredos

do tempo estagnado

do tempo absoluto

sem futuro e sem passado

 

sigo em regressão

no tempo e no espaço

ao átomo primordial

rompo suas comportas

até assistir à primitiva

explosão

e além, onde não mais alcançava,

Deus pairava imanente

sobre as subpartículas atômicas

e sobre o cosmo infinito

sobre o tudo e o nada

sobre a parte e o todo

sem começo e sem fim

incriado criador


Boa Ideia


Elmar Carvalho

 

Um dia

ou melhor uma noite

Boa Ideia teve a ideia

de construir um telescópio

para sonhar/sondar aqueles pontinhos

cheios de pontinhas chamados estrelas.

Galileu Galilei da Parnaíba

construiu sua luneta

desvendou estrelas e planetas e cometas

e perscrutou os umbrais do infinito.

Autodidata da astronomia

com seu telescópio passeava

pelos “mares” da lua

dizendo coisa com coisa

que ninguém sabia.

Brincava de bambolê

com os anéis de Saturno.

Jogou bola de gude

com as luas de Júpiter.

Morfeu o levou para ser

centurião de galáxias. Mas

voltará não num rabo de foguete

mas na caudabundante flamejante -

mente reluzente do cometa de Halley.

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