quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Foto do casal Francisco Miguel de Moura e Mécia, pertencente ao arquivo de F. M. M.

27 de janeiro de 2010

Remexendo em velhos papéis, encontrei o convite que o bardo Francisco Miguel de Moura me havia enviado para as bodas de ouro de seu casamento com dona Mécia. A comemoração estava marcada para o dia 08.12.2009, dia de N. S. da Conceição. Por ser feriado nacional, confirmei-lhe a minha presença, tanto por telefone, como pessoalmente, quando nos encontramos em nossa reunião na Academia. Infelizmente, em virtude da Semana da Conciliação, o Tribunal de Justiça transferiu o feriado para a segunda-feira seguinte, dia 14. De modo que, não podendo comparecer às bodas do casal amigo, que conheço desde o final da década de setenta, resolvi encaminhar-lhe, de minha Comarca, um e-mail, a que dei o título de C@RTA AO POETA CHICO MIGUEL, que para honra minha foi lido na festa. Julgo importante transcrevê-lo como parte integrante deste Diário, que não é contínuo:
Caro poeta Chico Miguel,
Deveres profissionais me impedem de participar de sua festa de Bodas de Ouro, comemorativa de seu feliz meio século de feliz união conjugal, como era meu desejo, para confraternizar com o amigo, dona Mécia, seus filhos e nossos vários amigos comuns. Entretanto, nada me impede de lhe dirigir algumas palavras, que calo no peito há muito tempo, aguardando o momento propício para deixá-las aflorar.
Você é um típico sertanejo, apesar da pele clara e dos olhos azuis. E como bom sertanejo, é antes e acima de tudo um forte, no dizer euclidiano. Nascido em Francisco Santos, então povoado de Jenipapeiro, estudou, mourejou, você que é um Moura, estirpe de boa fama, e venceu. Criou os filhos com dignidade, sobretudo através da boa palavra e do bom exemplo.
Sob sua liderança, reerguemos, nós, um punhado de escritores, a União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE-PI. Você promoveu vários eventos em sua profícua administração e legalizou a entidade, para que ela existisse de fato e de direito.
Diria que o amigo é um poeta do coração e da razão, no perfeito equilíbrio dessas duas vertentes. Sem ser um cerebralista, cultiva a inteligência, a criatividade, o labor, a leitura e a lapidação perfeccionista dos seus escritos, desbastando a sua fatura literária dos lugares comuns, das construções insípidas e da mesmice. Mas sem deixar de lado a emoção e a paixão, e os sentimentos desprovidos de pieguice.
Creio seja você o último remanescente dos polígrafos, a esgrimir a prosa e os versos com invulgar habilidade, e tanto na prosa como no verso produzindo diferentes gêneros da arte de escrever. Em textos eminentemente literários tem cometido belos poemas, urdido admiráveis versos, e enfrentado com galhardia e desembaraço o romance e o conto. Na teoria literária, na crítica e na historiografia, escreveu um notável livro de nossa história literária, elaborou percucientes e instigantes ensaios e crítica literária, em que se percebe a sua avantajada cultura humanística e o seu invejável lastro de conhecimento em literatura.
Considero-o, sem nenhum favor, um de nossos mais honestos intelectuais e críticos, porque não faz concessões espúrias, nem tampouco ignora aqueles que realmente têm merecimento, dando a cada um o seu justo valor, entretanto sem achincalhes desnecessários e desumanos e sem alardes laudatórios.
Sem dúvida é o amigo um legítimo escritor e poeta, por devoção e vocação incontrastável. E alimentou essa vocação e devoção através de longas leituras, perquirições e ruminações reflexivas, mediante uma inteligência poderosa, porém cultivada no constante esforço pessoal, de que sou testemunha.
Regeneração, 8 de dezembro de 2009
Elmar Carvalho

2 comentários:

  1. Elmara,

    Quem tem um amigo como seu pai, não precisa de mais. Dele, você deve orgulhar-se.
    Educado, sábio e generoso - nas avaliações literárias nem tanto assim - por isto confio em que suas palavras sejam tradução de verdade bem própria.
    Mando-lhes, nesta oportunidade, a você, a ele, a toda a família, um abraço fraterno e carinhoso
    francisco miguel de moura

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