sábado, 27 de fevereiro de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO



27 de fevereiro

De manhã fui olhar parte de minha biblioteca, que fica em outra dependência da casa. Logo dei de cara com o livro Sábado Árido, de meu saudoso amigo Jamerson Lemos, poeta visceral, de muita sensibilidade e criatividade. Jamerson era poeta todo dia, o dia todo. O opúsculo já está maltratado pelas intempéries do tempo, e levemente roído nas bordas das páginas pela irreverência e iconoclastia das traças, que não respeitam nem as boas nem as más obras. As traças não se importam com o teor do livro, mas apenas com o sabor do papel. É um pequeno grande livro. Claro, pequeno no tamanho, grande na qualidade literária. O livro foi publicado em 1985. Em dedicatória datada do ano seguinte, o bardo escreveu: “Ao meu irmão Elmar Carvalho o sol do meu dia-a-dia, com o meu abraço”. Entre outras pessoas de sua amizade e admiração, dedicou-o a sua esposa, Maria das Dores, e a seus filhos Jamerson Júnior, hoje médico, e Ceres Josiane, também com curso superior. Transcrevo o que dele disse A. Tito Filho: “Li, com entusiasmo, SÁBADO ÁRIDO, poemas em que Jamerson Lemos procura captar o essencial da vida. Os versos curtos são notavelmente rítmicos. O pensamento é íntimo e nostálgico, ideológico, mas sempre verdadeiro, pleno de angústias vitais”. Nada tenho a acrescentar à consideração crítica do mestre, exceto que concordo com ele em gênero, número e grau, para usar uma expressão surrada e gasta. A maior homenagem que se pode prestar a um poeta é ler ou recitar os seus versos. Jamerson é um poeta para ser lido e recitado, por causa da qualidade do conteúdo e da melodia de seus versos. Segue abaixo um de seus poemas, extraído do referido livro:

ARMADILHA

Jamerson Lemos

a música escorre pela noite
como estreito regato.
Igualmente minha mente
escorre pela noite.

isso ou aquilo, antes, depois,
uma rua tortuosa,
pequena cidade a ferver
distante.

quanto tempo fui tolo?
a música escorre pela noite,
pulsa como um coração.

4 comentários:

  1. Caro Poeta,
    A julgar pela dedicatória, o bardo Jamerson Lemos deveras (res)(ins)(ex)pira poesia (Tento aqui jogar com as palavras como observei em Rosas dos Ventos Gerais).
    Por falar em tal sublime obra, quero comentar sobre um de seus poemas, AUTO-DEFINIÇÃO. Assim como em cada instante único somos um novo ser, percebi na leitura que a definição de alguém num instante confunde-se com a de outro n'outro instante ou até em um intervalo de tempo. A sua Auto-definição naquele instante descreveu a minha em um instante recente.

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  2. Caro Nelson,
    Não devemos mudar ao sabor dos interesses e das conveniências pessoais, já que não somos biruta de aeroporto, que muda ao sabor do vento, mas na busca do autoaperfeiçoamento e em virtude de nossas convicções, que se alteram de acordo com novos conhecimentos e com a experiência de vida. Dizia um filósofo da antiguidade que só não mudava quem se demitia do direito de pensar. Essa frase foi muito repetida pelo político piauiense Petrônio Portella, que acabou, para muitos, sendo o autor desse pensamento.

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  3. Caro Elmar, será que você pode me ajudar numa dúvida? Tenho em mãos um poema, A Flor e o Lago, atribuído a J. Lemos, que penso ser o Jamerson Lemos, mas não tenho certeza. Você possui mais livros dele, ou teria contato com a família? Os primeiros versos são "Era uma vez um cristalino lago/e ~a beira dele retratada a flor...".
    Agradeço desde já a atenção.

    Lenine Santos.

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  4. Saudoso Jamerson Lemos sou Teresinense e Vivo em Goiânia há 20 anos´é de obras como a sua que se extrai tudo de bom dessa terra, dessa Gente...
    Meu muito Obrigado Pela Propagação dessa vertente,
    visceral e profundo...

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