segunda-feira, 10 de maio de 2010

SELETA PIAUIENSE


MEU CORAÇÃO

Jonas Fontenele da Silva

Meu coração é um velho alpendre, em cuja
sombra se escuta, pela noite morta,
o som de um passo, o gonzo de uma porta
que a umidade dos tempos enferruja.

Quem vai passando pela estrada torta
que leva ao alpendre, desta estrada fuja.
Lá só se encontra a fúnebre coruja
e a Dor, que à prece o caminheiro exorta.

Se um dia, abrindo o casarão sombrio,
um abrigo buscasses contra o frio
e entrasses (doce criatura langue!),

fugirias, tremendo, ao ver de um lado
a Crença morta, o Sonho estrangulado
e o cadáver do Amor banhado em sangue.

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