quarta-feira, 2 de junho de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Elmar Carvalho


2 de junho

DE POEMAS E DE PECADOS

De manhã cedo, em Regeneração, fui a uma farmácia, perto da matriz de São Gonçalo, colocar crédito em meu celular. Enquanto era atendido, de repente, caiu uma chuva torrencial, que me prendeu no estabelecimento. Aproveitei para olhar a chuva e os pequenos córregos que se formaram e desciam em direção ao Mulato, que separa o centro do bairro Jaicó. Quando o tempo amainou um pouco, resolvi ir à gráfica Mulato, para conversar um pouco com a Nileide. Conversamos sobre assuntos diversos, mormente sobre cultura, experiência de vida, comportamento e sobre os pecados abordados pelo Zuenir Ventura em seus livros temáticos. Nos detivemos a analisar o triste sentimento da inveja. Disse-me a Nileide que foi esse pecado que mais trabalho deu ao escritor, porquanto ninguém admite ser invejoso. Falamos sobre os despreparados para o exercício de cargos públicos, sobretudo os que se empolgam demais com o poder e sobre os que o usam sem a observância do princípio constitucional da impessoalidade, e querem administrar a coisa pública como se fossem donos. Contou-me ela que o seu irmão Moacy, dotado de senso de humor e verve, foi visitar um amigo na sua repartição. Ao chegar, encontrou um conhecido com quem costumava brincar e que era expansivo e cordial com ele. Notou que o cidadão estava “fechado”, monossilábico, quase taciturno, e que mal lhe respondera o cumprimento. Em conversa com o amigo que fora visitar, recebeu a informação de que essa pessoa sorumbática havia se tornado o chefe da repartição pública. O irmão da Nileide, incontinenti, observou que havia notado que algo errado havia acontecido com ele. Ou seja, deram-lhe um cargo público sem que ele estivesse preparado para assumi-lo. Por isso mesmo, o povo, em sua sabedoria, diz que a formiga quando quer se perder cria asas. A Nileide aproveitou para me mostrar um livro que havia recebido de seu parente Climério Ferreira, poeta e músico da melhor cepa. Era um livro graficamente belo, impresso em papel grosso, quase cartonado, algo semelhante a uma caderneta. Seu título era Da Poética Candanga, e tinha o subtítulo de Poesia sobre Poesia. Pela subtitulação e pela rápida folheada que fiz, foi fácil inferir que tem metapoemas e que intertextualiza com autores diversos, sendo que alguns estão entre os melhores poetas contemporâneos do Brasil. Pelos poucos poemas que pude ler, tenho certeza que se trata de uma ótima obra poética, cujos poemas estão na mesma altitude das matrizes de que provieram.

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