segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Os juízes Carlos Brandão, Elmar Carvalho, Luís Moura e Paulo Roberto Barros

Esculturas do Juca Lima


20 de dezembro

 MUSEU E BIBLIOTECA NO CENAJUS

Elmar Carvalho

Estava no centro histórico e comercial de Teresina, caminhando em direção à agência central do INSS, onde ia buscar uma certidão sobre o meu tempo de contribuição previdenciária, quando o celular tocou. Era o doutor Paulo Roberto que me ligava, a me avisar que conseguira que o seu dentista me atendesse na próxima quarta-feira, à tarde. A seguir, passou o telefone ao amigo Carlos Brandão, que me convidou a me encontrar com eles, no CENAJUS – Centro Nacional de Cultura da Justiça, entidade que dirige, ligada à Justiça Federal, mas sem personalidade jurídica. Ambos são magistrados dignos, humanitários, estudiosos, desprovidos de empáfia e arrogância, e maçons da melhor cepa.

A entidade funciona no antigo prédio da Justiça Federal do Piauí. Até meados da década de noventa, a Seção Judiciária do Piauí, contava com apenas um juiz federal; um dos quais foi meu professor na UFPI, no caso o doutor Hércules Quasímodo da Mota Dias. Gravei o seu nome porque o primeiro prenome é uma homenagem ao heroico semideus da mitologia Grega, grande trabalhador, pois se celebrizou por ter realizado doze dificultosos e penosos trabalhos, e o outro, foi retirado, certamente, do livro do romancista e poeta Vítor Hugo, intitulado O Corcunda de Notre Dame. Era um magistrado digno e honrado e um professor de muito mérito, entretanto não fazia jus aos dois prenomes, porquanto não tinha a musculatura avantajada do semideus e nem a feiúra do bom e sofrido Quasímodo, conquanto não fosse também nenhum Apolo nem Adônis. Tive a oportunidade de conhecer a Biblioteca Abdias Neves, da prefeitura de Teresina, e um museu de peças do artesanato piauiense, que lá se encontram bem abrigados, em ponto central da cidade e perto das linhas de ônibus. Abdias Neves, patrono da biblioteca, foi senador da República, magistrado. romancista, poeta e historiador. Polemista, sobretudo em questões anticlericais, literariamente era um um talentoso polígrafo. Membro e patrono de uma das cadeiras da Academia Piauiense de Letras. Entre suas principais obras, destacam-se o romance Um Manicaca e A Guerra de Fidié.

Pedi para a atendente verificar se na biblioteca havia livros de minha autoria. Felizmente, no cadastro constava as minhas principais obras, entre as quais lá estavam, enfileiradas nas estantes: Noturno de Oeiras, Cromos de Campo Maior, Rosa dos Ventos Gerais e Lira dos Cinqüentanos. No museu, estavam expostas notáveis obras dos grandes mestres do artesanato piauiense, inclusive do parnaibano Juca Lima, que conheci, assim como conheci seu pai, o velho jornalista e tradutor comercial Souza Lima, autor do livro Vareiros do Parnaíba e Outras Histórias, que conta a saga dos antigos porcos d' água, quando a Princesa do Igaraçu despontava como a mais importante cidade comercial do Piauí, com grandes firmas sediadas em seu território, entre as quais podem ser referidas a Marc Jacob, a Casa Inglesa, a Pedro Machado, a indústria Moraes, a do sr. Ranulfo Torres Raposo, e quando os navios de grandes empresas de navegação de cabotagem percorriam o Igaraçu e o Parnaíba, indo em demanda do porto de Tutoia ou de lá voltando, transportando passageiros ou mercadorias, sobretudo na época do auge do extrativismo vegetal, quando os coroneis da carnaúba imperavam, orgulhosos de seu dinheiro e cabedais. Terminei “viajando” na redação, assim como viajei vendo as obras do Juca e dos outros artistas.

Quando cheguei, flagrei dois estudantes aos beijos e abraços, num dos corredores. Não ficaram constrangidos com a minha presença, e continuaram com os seus colóquios. Contei aos dois colegas, que um dos governadores de Minas Gerais ficou embevecido ao contemplar um casal de namorados, da janela do palácio. Ao ser indagado por um secretário e amigo se estava com inveja, respondeu que não; que estava com saudade. De minha parte também não senti inveja, mas somente uma pontinha de saudade de meus tempos juvenis, dos quais tento me afastar com sobranceria e sobriedade. Um pouco depois, chegou outro colega, o juiz de Direito Luís Moura. Nesses tempos de modernismo tecnológico, celebramos o encontro dos quatro magistrados da Justiça federal e estadual com uma fotografia tirada através de meu celular. Hoje, o telefone celular é muita coisa, porquanto é multifuncional; é até telefone!...

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