terça-feira, 28 de dezembro de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Zé Francisco, Neto, Elmar, dona Socorro e o casal Celso e Nevinha


Sítio Carajás, vendo-se ao fundo Zé Lira, envergando a camisa 10 da Seleção Brasileira

28 de dezembro

NO SÍTIO CARAJÁS

Elmar Carvalho

Resolvemos fazer uma parada estratégica no bar do Lira, para não chegarmos cedo ao sítio Carajás, onde haveria uma comemoração festiva do professor Neto Chuíba e seus familiares, e também para que ficássemos a contemplar a pequenina serra grande de Santo Antônio do Surubim. Ficamos a conversar eu, meu irmão César e o Zé Francisco Marques, quando este recebeu uma ligação telefônica, que lhe chateou no início, uma vez que o telefonema apresentava defeitos técnicos, e, além do mais, era em inglês, não obstante ser ele um mestre nesse idioma. No início o Zé Francisco achou que poderia ser uma espécie de trote, mas quando a ligação melhorou e ele pôde ouvir bem as palavras, passou a também responder em inglês, até porque leciona essa disciplina. Na verdade, era o professor Neto avisando que já estava na hora de a gente comparecer ao seu evento. Ao seguirmos pela estrada de piçarra, que liga Campo Maior a Alto Longá, o Zé Lira nos ultrapassou em sua motocicleta, em alta velocidade; mais parecia um foguete ou um Flash Gordon motorizado. Levava uma caixa de cerveja na garupa do veículo. Logo, constatamos que o destinatário era o sítio Carajás. Na casa ampla estavam hospedados vários parentes do Neto, inclusive irmãos, tios e sobrinhos. Estavam presentes o sr. Celso da Costa Araújo e a esposa Nevinha. Ele é funcionário aposentado da usina da barragem de Sobradinho. Contudo, por sua dedicação e eficiência, foi recontratado pela empresa. Na saída, o simpático casal nos convidou para passarmos uns dias em Sobradinho, em seu sítio. Prometemos ir. Várias e coloridas redes estavam armadas ao longo da varanda, em franco convite à preguiça, que ninguém é de ferro.

Quando o professor Neto pôde nos fazer companhia, o assunto do telefonema em inglês veio à tona. Para atiçar os brios do Zé Francisco, eu disse que o Neto lhe dera uma surra de língua ao telefone, e que ele mal conseguira rastejar no idioma de Shakespeare. Porém o Zé Francisco insistiu na “tese” de que sua dificuldade fora mesmo por causa da ligação que não estava boa. Foi uma boa justificativa e demos o caso por encerrado. Do sítio, temos uma bela visão da serra e dos tabuleiros campomaiorenses, que nessa época estão verdes e repletos de babugens; mais pareciam um jardim. Ao lado da cerca, havia vários mandacarus e chiquechiques. Por isso, quando dediquei o meu livro Noturno de Oeiras e Outras Evocações ao dono da casa, escrevi que com tantos chiquechiques o sítio Carajás não poderia deixar de ser mesmo chique.

O nosso anfitrião na verdade se chama Antônio José Araújo Silva. O nome Neto Chuíba, pelo qual é conhecido, é uma homenagem ao seu avô, legendário vaqueiro, patriarca do clã, que tinha essa alcunha, praticamente incorporada como nome de família. Com a morte de seu pai, o Neto, ainda bem jovem, transformou-se num esteio da família, e foi quase uma espécie de pai para os seus irmãos Osmar, João e Vinícius, contribuindo decisivamente para a criação deles, ao lado de sua mãe, dona Socorro, que, embora viúva, não perdeu o ânimo e guardou a Fé. Os três irmãos foram para Carajás, e hoje desfrutam de boa situação econômica, como empregados da Companhia Vale (do Rio Doce). Anualmente, durante as férias, visitam a terra natal. Como uma gratidão ao local que lhes acolheu e lhes deu condição de sobrevivência digna, batizaram o sítio de Carajás. O Neto é hoje um dos mais respeitados professores de Inglês, e certamente poderia ser aplicado a ele o que se atribuiu a Rui Barbosa: capacidade de ensinar inglês aos ingleses. Coroando esta crônica, afirmo que a libação foi na medida certa e as iguarias, fartas e variadas. Sem dúvida, foi um inesquecível dia de domingo.





Um comentário:

  1. Na correria de SP, eu só me sinto a vontade quando dou uma esticada a Campo Maior, Pedro II (minha cidade natal) e Maranhão para rever os amigos e tomar umas geladas. As relaçõs entre amigos e a natureza, busco celebrar as singularidades do prodígio humano frente as desígnios da natureza. Nos recônditos da memória residem aspectos que a população de uma dada localidade reconhece como elementos próprios da sua história, da tipologia do espaço onde vive, das paisagens naturais ou construídas. Fevereiro próximo estou sinalizando umas férias com a permissão do Senhor.


    h/sp

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