segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

OS VERAS E A BARRA GRANDE


Vicente de Paula Araújo Silva (Potência)1

A denominada Rota das Emoções, é a exploração organizada do turismo regional por um consórcio formado pelos estados do Ceará, Piauí e Maranhão. Efetivamente, essa região tem muitos fatos históricos em comum a partir do século XVII. A Barra Grande está inserida nesse contexto. A sua atual condição de zona litorânea do
município de Cajueiro da Praia tem uma trajetória de lutas ao longo dos tempos a partir de 1604, quando Pero Coelho de Sousa, vindo da Paraíba chega a foz do Camocim e segue para a Serra da Ibiapaba, com o objetivo de expulsar os franceses lá estabelecidos desde 1590, iniciando-se então, o processo de colonização pelos portugueses, da região em tela, que tem muitas estórias registradas ao longo dos tempos, dentre as quais salientam-se: Em 1607, partem de Recife com destino ao Maranhão, os padres da Companhia de Jesus, Luís Figueira e Francisco Pinto, sendo este último morto pelos tapuias, simpatizantes dos franceses, em 11/01/1608; Em 1612, os franceses integrantes da expedição de Razilly e Daniel de La Touche, que estavam em viagem para a implantação da Colônia francesa na ilha do Maranhão, aportaram na Ponta de Jericoacoara; em 1613, Jerônimo de Albuquerque parte de Recife rumo ao Maranhão com o fim de expulsar os franceses que lá estavam; em 1656, partindo do Maranhão por terra, após 35 dias de viagem, chegaram a Serra da Ibiapaba os jesuítas Pe. Antonio Ribeiro e Pedro Pedrosa, implantando então, a missão da Ibiapaba; Em 03/03/1660, partem do Maranhão em visita à missão da Ibiapaba, os jesuítas Pe. Antonio Vieira e Gonçalo Veras, acompanhados do tapuia Jorge Ticuna, filho do chefe Algodão, que havia retornado da viagem a Portugal para agradecer a El Rei, a presença da missão jesuíta na serra da Ibiapaba.
Assim, oficialmente, o Pe. Gonçalo Veras foi o primeiro membro da família Veras, a estar nos Estados do Maranhão, Piauí e Ceará. Outros Veras, estabeleceram-se na região. Em 19/07/1705, o Cel. João Pereira Veras e sua mulher, receberam sesmarias de terras a partir do mar pelo rio Acaraú. Entretanto, foi o cearense Domingos Ferreira de Veras, neto dos portugueses naturais do Porto, Tomás Pereira de Veras e Joana da Costa Medeiros, quem introduziu a família Ferreira Veras na região compreendida entre a orla marítima da ribeira do Acaraú ao delta do rio Parnaíba, e as serras Meruoca, Ibiapaba, incluindo os vales dos rios existentes nessa área.
Os Veras da Barra Grande são descendentes da miscigenação de pescadores chegados da praia de Bitupitá, com os nativos tremembés e comboieiros vindos do sertão cearense e das serras Meruoca e Ibiapaba. Atualmente, compõem esses clãs familiares os sobrenomes: Ferreira Veras, Teles, Barroso, Pereira, Sousa, Araújo, Cardoso, Soares, Damasceno, Santos e Fontenele, entre outros. Essa aprazível praia, está situada entre as barras dos rios Timonha e Camurupim, e até a primeira metade do século XVIII, gentios tapuias da nação Tremembé, ainda habitavam em aldeias, localizadas entre o mar e os lugares hoje conhecidos como Tapera e Ilha das Cabras, nas proximidades da Barra Grande.
A cumplicidade do abastado fazendeiro cearense Domingos Ferreira de Veras com a Barra Grande, data da primeira metade do século XVIII, fato comprovado pelo registro de batismo a seguir, transcrito do Liv. Missão Velha, 1740/1747, fl. 119v: “Aos oito dias de abril de mil setecentos e quarenta e três, na Faz. Tiaya, em casa do Cel. Domingos Ferreira de Veras, bautizei a Vicente, filho de Vicente e sua mulher de nação Tremembé, e lhes pus os Santos óleos. Item no mesmo dia bautizei a Quitéria da nação Tremembé. Todos estes tapuias assima ditos são do rancho do tapuia velho chamado Machado que há muitos annos vivem sobre si e assistem entre a barra do rio Timonha e a barra do rio Camoripim junto a beira do mar, pertencentes a aldeia do Aracati Mirim, cita nesta freguezia de Nossa Senhora da Conceição do Acaracu. Pe. Lourenço Gomes Lelou, cura e vigº da Vara do Acaracu”.

¹ O articulista teve as avós materna e paterna, Gonçala Ferreira Veras e Joana Alves Teles, nascidas no final do século XIX, nas localidades Leitão e Arara , próximas a Praia de Bitupitá, atualmente município de Barroquinha (CE)., sendo as mesmas parentes próximas das famílias Veras e Teles da Barra Grande.

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