1º DE FEVEREIRO
DIPLOMACIA GASTRONÔMICA E PROSÓDIA INDIGESTA
Elmar Carvalho
No seu Diário Completo, vi a anotação em que Josué Montello conta que, em reunião diplomática internacional, em que se tratava da paz na Indochina, o representante da França, depois de observar que o representante oriental, por desconhecer os costumes do ocidente, comera um queijo com papel prateado e tudo, procedera da mesma forma, para evitar qualquer incidente, mal estar ou constrangimento. O diarista, a seguir, narra que ouvira importante personalidade, ao falar da galopante inflação brasileira de três dígitos, cometer grave erro de prosódia, ao pronunciar a palavra dígito (proparoxítona) como sendo digito (paroxítona); que, tomando como exemplo a atitude do representante francês no episódio diplomático, resolveu, na conversa, também pronunciar digito, e não dígito, para não melindrar o interlocutor.
Essa leitura me fez lembrar o caso que se passou com um amigo meu, notável erudito, profundo conhecedor da língua portuguesa, inclusive de etimologia, já que é um latinista, além de versado em grego. Esse meu mestre ouviu alta autoridade pronunciar a palavra díspares (proparoxítona) com a tonicidade de dispares (paroxítona). Só que o meu amigo, ao contrário do exemplo do primeiro ministro francês e do ilustre romancista, não condescendeu com o erro. Embora de forma cerimoniosa, cautelosa e até pedindo desculpas, esclareceu o ilustre homem público, muito conhecido na época, sobre a prosódia correta do vocábulo. Contou-me o mestre que a autoridade, imediatamente, abriu a gaveta, de onde sacou um dicionário, para averiguar a veracidade do corretivo, quando só então deu a mão à palmatória.
Pela parte que me toca, devo dizer que jamais iria comer queijo com papel laminado e nem iria pronunciar um vocábulo de forma errada porque uma outra pessoa o fez. Poderia até evitar comer o meu queijo, e não pronunciar a indigesta e indigitada palavra, substituindo-a por uma sinônima ou construindo a frase de modo a evitá-la, mas não seguiria a lição da autoridade francesa, no caso do queijo, nem do meu colega diarista, na questão da prosódia. Neste último caso, ficaria com o exemplo do meu amigo e mestre piauiense. E torceria para que, nos dias violentos de hoje, a pessoa beneficiada com a correção sacasse apenas o dicionário, e não um revólver, por exemplo, ou mesmo uma palavra agressiva.
Prezado poeta,
ResponderExcluirSegue abaixo, um ensaio de Josimar Barbosa, jovem regenerense que já tem mais cem poesias.
"ASSIM SOU EU
Louco por suas loucuras
assim sou eu, é assim que sou...
Louco das minhas loucuras
sem cura, que dura, aventura.
É assim que sou...
noite e dia, vivendo de melancólicas
noites frias que oferecem-me o dia
e o sol do amanhecer...
é assim que sou... sonho e sonhador
pancada e dor, amado e amador
assim sou eu
é assim que sou...
a música que toca e toca meu coração
um doido varrido, louco e estranho
louco por suas loucuras
assim sou eu
é assim que sou...
sou verso
sou poeta e poesias."
Ele pediu-me que apresentasse este trabalho ao senhor para, por gentileza, ser criticado.
Caro Nelson,
ResponderExcluirNa próxima segunda-feira voltarei ao serviço. Apareça, na terça ou na quarta-feira, para batermos um papo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA propósito, como foi a cerimônia de lançamento de Noturno de Oeiras, no dia 04/12/2010?
ResponderExcluirPerdoe-me por ter comentado, inicialmente, algo tão alheio ao "post" acima.
ResponderExcluirCom relação às posturas citadas pelo nobre poeta, digo que, pelo pouco conhecimento empírico que tenho, em vez de corrigir o interlocutor, eu seguiria sua sugestão inicial, certamente, tentaria sair pela tangente. Digo isso porque já aconteceu comigo de, na tentativa de fazer um bem com uma correção, ser visto como incoveniente ou prepotente, mesmo tentando ser o mais polido possível. Acrescento que comer papel laminado estaria fora de cogitação.
Agradeço pelo convite. Mas creio que o nosso papo ficará para a semana subsequente, infelizmente. Acontece que estou passando minhas férias em Teresina fazendo um curso de verão.
ResponderExcluirSempre faço menção ao seu blog na minha página no facebook, um site de relacionamento. Aliás, postei uma nota contento uma poesia sua, Auto-apresentação. Espero que não se incomode, adianto que citei a fonte.
Ao contrário, agradeço-lhe a divulgação do poema. Conversaremos na outra semana e sucesso no curso que o amigo está fazendo.De fato, hoje em dia, as pessoas se ofendem facilmente. Parece que a intolerância vem crescendo assustadoramente, e ninguém quer ter limites e nem ser contrariado em nada.
ResponderExcluirAcabo de ver o vídeo Noturno de Oeiras, no YOU TUBE. Só assim fiz um "tour" pela velha capital! De fato, ele é recheado de expressões que conduzem para uma viagem pelo sobrenatural. A meu ver, também perpassa por vários aspectos culturais de Oeiras, bem como cita pontos turísticos de lá.
ResponderExcluir