quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO


9 de fevereiro

CHUVA E APAGÃO

Elmar Carvalho

Após o recesso natalino e minhas férias, retornei na segunda-feira, pela manhã, a Regeneração, para reassumir minhas funções. Quando abri a geladeira, logo notei que não havia energia elétrica. Tomei conhecimento de que desde domingo o fornecimento desse serviço fora interrompido. Ou seja, estava havendo um apagão em grande área do médio Parnaíba. Todos lembram que importante autoridade federal garantira que o Brasil não corria risco de sofrer novo apagão, como ocorrera anos atrás, quando grande e importante parte do território nacional ficara sem o serviço de fornecimento de energia elétrica. Acontece que eu vi na internet que, desde o famoso apagão que assombrou os brasileiros, o nosso país já sofreu dezenas de vários apagões de menor escala.

Não preciso lembrar que no Piauí, sobretudo nas pequenas cidades, o serviço de energia elétrica é muito ruim, tanto em termos de voltagem, como de oscilações e interrupções, que por vezes se prolongam por várias horas. No caso do problema em Regeneração, o fornecimento retornou por poucas horas na segunda-feira, voltando a faltar de novo, para somente ser restabelecido depois do meio dia de terça-feira. Deixo que o leitor se encarregue de calcular e imaginar os prejuízos que a população sofreu, no tocante a conservação de alimentos, impossibilidade de uso de aparelhos eletrodomésticos, interrupção de serviços públicos, inclusive de fornecimento de água e telefonia, fora os danos causados ao comércio, sobretudo os que vendem produtos perecíveis ou os que precisam de energia para prestação de serviços.
Na tarde de segunda-feira, caiu forte chuva, que se prolongou noite adentro. Houve um pequeno temporal, com o vento uivando nas folhagens, perto de minha casa. Fui ao terraço para contemplar o espetáculo da natureza. As árvores se retorciam, bracejavam em louco requebrado e bramiam, sob os açoites da ventania. Na terça-feira também choveu muito. Lembrei-me de Ribeiro Gonçalves, onde trabalhei durante quase quatro anos. Certa feita, depois de uma viagem de mais de doze horas de ônibus, cheguei à agência no momento em que caía uma chuva de média intensidade. Como não havia serviço de táxi e não havia nenhum carro nas proximidades, tratei logo de enfrentá-la de peito aberto. Segui para o fórum, onde residia em pequeno apartamento destinado ao juiz. Foi uma semana de chuva, em que fiquei o tempo todo na repartição, apenas fazendo o percurso do gabinete para o apartamento, e vice-versa.

Essa chuvarada de Ribeiro Gonçalves terminou me sendo benéfica, porque me inspirou um poema de difícil e longa gestação. Fazia tempos que regurgitavam em meu cérebro algumas ideias, algumas metáforas, comparações e onomatopeias, mas os versos teimavam em não querer passar para o papel, ou para a memória e virtualidade do computador. Contudo, vendo essa demorada chuva ribeirense, ouvindo o seu batuque no telhado, a semente do poema terminou por rebentar, e os versos floriram do jeito como eu os desejava, refertos de córregos, pululantes de pulutricantes cachoeiras, cantantes como rãs, espumantes como corredeiras nos dorsos das pedras. Encerrando este registro, digo que a chuva de Regeneração me fez lembar o jornal A Luta, de Campo Maior, em que publiquei texto de minha autoria pela primeira vez; esse semanário estampou que a energia da CEPISA era como bode, se arreliava com água. E note-se que esse reparo foi escrito ainda na primeira metade da década de 1970. Invocando o rifão popular, pergunto: será se tudo continua como dantes no quartel de Abrantes? Ou, pior, será se tudo continua – para usar outro anexim – como a cantiga da perua, pior, pior, pior...?

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