segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

PELOS CAMINHOS DE MINAS E DO ESPÍRITO SANTO




ALCIONE PESSOA LIMA

Um dia desses, em que eu estava com o espírito aventureiro aguçado, resolvi sair pelas bandas das Minas Gerais. Logo após adentrar aquelas terras, deliciei-me com a beleza do “Velho Chico”, em tempos de grande enchente. Estava revoltoso como a demonstrar ódio pela destruição do homem ao seu leito e margens. Ali, eu e mais três companheiros, saboreamos um maravilhoso manjar, pescado naquelas águas.

E empós, seguimos viagem rumo à tumultuada, mas encantadora Belo Horizonte ou, como dizem os mineiros, “BH”. Antes, atravessamos Sete Lagoas, e logo me veio à lembrança o seu ilustre e saudoso filho “Zacarias”, comediante, há tempos falecido. Parece até que ouvi a sua maravilhosa risadinha.

Seguindo por aquelas paragens, comparei-me aos aventureiros nordestinos rumo à cidade prometida (São Paulo) e, então, saltou-me à memória os versos do grande patativa do Assaré, na “Triste Partida”:

Por terras alheias.
Nós vamos vagar.
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
.”  

O carro a correr a estrada, até que, já cansados, resolvemos pernoitar em João Molevar, uma cidadezinha simples, como é a gente mineira. Após um relaxante banho de piscina, fomos ao restaurante do hotel e tomamos um saboroso café com pão-de-queijo. E como é diferente o que eles fazem por lá!Inigualável!

Atento a cada detalhe, observei a forma como o mineiro fala, o sotaque, daí captei um diálogo entre dois conterrâneos: um ancião  sentado na calçada de sua residência, cumprimenta o vizinho que passa: “Bão, João?”. E outro, sem levantar os olhos, respondeu: “Bão!”. E tudo aquilo sem pressa.

Ao amanhecer, fomos até outra cidadezinha próxima a João Molevar, de nome São Pedro dos Ferros, para uma das companheiras rever uma “ex-sogra” ou mesmo, disfarçadamente, um ex-namorado.

Um dos companheiros sempre ao volante, até porque se trata de um aventureiro, já era acostumado por aquelas terras, como também gostava de dirigir, e ia explicando tudo, tornando, assim, mais interessante o passeio. Eu, somente a fotografar e admirar os vales e montanhas.

Por fim, atravessamos aquele Estado, vindos de Brasília, e fomos conhecendo lugarejos encravados nas serras, deles colonizados por alemães (Domingos Martins), até avistarmos e descansarmos um pouco na encantadora “Serra Azul”. Cenário de cinema! A natureza a nos revelar o seu encanto. Lugar propício a alpinistas, que, pelo simples prazer da aventura, arriscam suas vidas naquelas montanhas. Pareciam lagartixas.

De repente, ao iniciar da tarde, estávamos em Vitória, encantadora capital capixaba. Belas pontes! Uma mini Rio de Janeiro, com suas favelas. Daí, lembrar o grande Chico Buarque: “é gente humilde, que vontade de chorar”.

No alto do morro, o Convento da Penha. Estivemos lá e aproveitamos as belas paisagens daquela cidade.

Seguimos pela translitorânea (BR-101), no sentido Rio-Bahia e ficamos por três dias na cidade de São Mateus, antigo porto de escravos, onde há um rio de águas escuras. Dizem que contém lanolina. Achei que fosse petróleo, mesmo sabendo que não poderia haver uma mistura homogênea com a água.   

Era no período do Natal. Após suas festas, voltamos à Vitória e rumamos para o litoral sul do Espírito Santo, até chegarmos à famosa Guarapari, praia que tem mais mineiro que capixaba.
Pela estrada (privatizada), aproveitamos para comprar panelas de barro para futuras moquecas, obviamente, sem o uso do dendê, característica da moqueca baiana, como dizem os capixabas (e nós, também): “peixada”.

Já de volta a Minas, beirando as terras cariocas, começamos a sentir os ares da história do Brasil. Passamos pelo berço do grande Santos Dumont, que dá nome à cidade. Três Corações também nos fez relembrar outro herói brasileiro, o Rei Pelé. Lamentamos que em sua homenagens haja somente uma pequena e  humilde praça na qual está encrava uma estátua de seu filho ilustre.

Entre serras e vales, com muita plantação de café e desenvolvida pecuária, chegamos a Mariana, com suas igrejas seculares. Lá, ouvimos de um cicerone aulas sobre os ilustres mortos sepultados naqueles templos, construídos no estilo barroco. Ouvimos muito falar em “Aleijadinho”. E o belo passeio de “maria-fumaça”, pela “Estrada Real” (por onde o ouro do Brasil se esvaía) até a histórica Ouro Preto, terra dos inconfidentes? Paisagens inesquecíveis: cachoeiras, rios, túneis etc. Às vezes assustadoras, mas sempre surpreendentes. Lá, dizem os bêbados que ainda ouvem a voz da musa inspiradora de Tomaz Antônio Gonzaga (Marília de Dirceu), a recitar os versos: “Graças, Marília bela, graças à minha Estrela”.

Ao aproximar-se o final do ano, chegamos ao “Circuito das Águas”, região composta, dentre outras cidades, por Caxambu e São Lourenço, onde há águas medicinais e são visitadas por muitos turistas. Um ar bucólico, sentido, principalmente, em passeios de elegantes e exóticas charretes ou na travessia de lagos, através de teleféricos.

Em tudo por aquelas terras há poesia, história, cultura a serem conhecidas e sentidas. Até a maravilhosa Itabira, terra do poeta-maior, Carlos Drumond de Andrade, me inspirou versos nunca d’antes imaginados.
Ao entardecer, já de volta a Brasília, chegamos à romântica
Araxá. E lá estava a nos comover um lindo chalé, onde residiu Chica da Silva. Paramos no pátio do lindo Hotel Termas de Araxá, com sua construção imponente e parque ambiental acolhedor. Voltamos à entrada da cidade e resolvemos ali pernoitar. Não sem antes saboreamos uma maravilhosa picanha, que insisti em patrocinar a todos, principalmente, ao heróico motorista. E de lá não saímos sem comprarmos algumas peças artesanais.

Estávamos, assim, na região do “Triângulo Mineiro”, onde estão encravadas Uberaba, Uberlândia e Araguari. Esta serve de chacotas para os filhos das outras, por ser mais humilde e menos desenvolvida. Dizem, que são os três “B”: “Beraba”, “Berlândia” e a “bosta do Araguarí”. Pura maldade!

O carro a correr a estrada, e avisadamente, pois há ostentosas placas, chegamos pelas terras de Goiás. Lugar, dizem, de mineiros aventureiros que se tornaram os seus filhos, tanto que os sotaques são parecidíssimos.

Enfim, saciados pela aventura, ou mesmo com um disfarçado gostinho de quero mais, sem conseguirmos obliterar aqueles caminhos que tanto nos deram prazer e alegrias, guardados na memória, chegamos ao Distrito Federal, ponto inicial de todo esse trajeto.
 
Saúde, Minas Gerais e Espírito Santo! 

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