terça-feira, 8 de março de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO




8 de março

MATÉRIA VERSUS ESPÍRITO

Elmar Carvalho

Fui ao Tribunal de Justiça, na sexta-feira, tratar de vários assuntos, um dos quais de meu interesse funcional. Ao entrar no gabinete da presidência, além do presidente Edvaldo Moura, encontrei o des. João Menezes da Silva, que também presidiu a corte de Justiça do Piauí. Trata-se de cidadão afável, educado, e que sempre me foi muito simpático, desde o meu início na magistratura. Disse-lhe que estava requerendo meu abono previdênciário, em virtude de minha permanência na atividade. Há vários meses completei tempo de serviço e idade para aposentar-me, uma vez que comecei a trabalhar aos dezenove anos, quando ingressei na ECT e posteriormente na extinta SUNAB, sem sofrer a interrupção de um dia sequer, em minha prestação laboral.

O des. João Menezes, a sorrir com gosto, ao saber de minha pretensão, e sabendo que também me dedico às letras e à cultura, indagou-me por que eu desejava a gratificação, uma vez que eu, por ser poeta, deveria viver de brisa e de coisas etéreas e espirituais, e não de bens financeiros e econômicos. Respondi-lhe que o poeta poderia dispensar as coisas materiais, mas que a sua família precisava de alimentos e outros bens concretos, inclusive dinheiro. Por fim, expliquei ao bom magistrado João Menezes, que era o juiz que sustentava o poeta, encarnado na mesma pessoa física, que sou eu mesmo.

Dizem que o intelectual Eduardo Prado, ao contemplar verdejante campo, teria perguntado a sua mulher Alice, em criativo jogo de palavras: “De que ali se vive?” Conta a lenda, que ela, imediatamente, teria respondido com outro trocadilho em torno do nome do marido: “É do ar do prado”. Não podendo eu, ao contrário de Alice, mesmo cultivando as coisas espirituais, viver apenas de brisa, espero seja o meu abono deferido.

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