ALCIONE PESSOA LIMA
É tão real o mundo em que vivo...!
E, de repente, um tremor do outro lado da terra
Que em segundos todos sabem.
Eu, apenas com um pincel na mão, busco traçar, no meu imaginário, o ideal.
Subtraio, do quadro à minha frente, a parte que existe e imagino outra
A completar a natureza.
Imponho a todos um sorriso escancarado...
Não quero ver tudo pelo avesso...
Desejo ornar com flores os destroços de uma cena surrealista,
Sem representá-los verdadeiramente.
Ofereço aos espíritos outra imagem de beleza.
Não a que retrata a natureza em fúria.
As almas não podem ficar mergulhadas em um pesadelo...
Tampouco no repouso que lhes pesam.
Há uma vontade de reagir e confiar na natureza reconstrutora.
Apagando da mente as vidas ceifadas.
Não quero pintar a dor que na retina insiste em fixar-se.
Sei que sou pequeno e frio, igual a todos.
Reconheço formas corporais a Deus e ao Demônio.
É visível a descida de suas moradas com um único objetivo: disputar a terra.
A liberdade no meu pensar me faz crer
Que todos os acontecimentos do mundo têm a mão do seu soberano.
Acho que é uma guerra sem trégua e sem regras
Que revela ao homem novos caminhos,
A penetrar na superfície que os sentidos lhes descobrem.
Quero pintar antes paixões e idéias,
Pois a minha arte está de costas para pessoas e atos.
Os fatos deixam pesada a minha alma.
Peço calma ao ego que se recusa a imaginar o ideal,
Deixando, assim, o tom poético do meu espírito.
Perco-me em um abismo.
Imagino-me quase por inteiro, mas certo de que saí do nada
E atravessarei o tempo e desaparecerei, talvez, nos braços do meu Criador.
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