HORÁCIO LIMA
A angústia da pobreza aparece nos momentos de mendicância. É essa penúria e muito mais que circundam a vida de quem procura um meio de sobrevivência. Assim como a cana-de-açúcar é do usineiro e o boi é do fazendeiro, o cultivo do milho é um presente da natureza para o povo pobre, é um alimento básico da população de baixa renda, seja pela variedade de preparo ou por suas possibilidades alimentícias, digo eu, pelo que observei nas minhas andanças recentes no Piauí e Maranhão. A bordo de um ônibus da Viação Transbrasiliana com destino a Teresina pude observar ao do longo percurso até chegar à capital o plantio do milho. Ao chegar ao perímetro urbano de Angical do Piauí, e contando com a solidariedade e amizade dos motoristas, as crianças adentraram no coletivo, vendendo as suas espigas de milho assado, fincadas nos espetos. Nesse coletivo um menino aproxidamente de oito anos vendeu todas as espigas de milho para os primeiros passageiros da ala de frente, e ainda sobrou passageiro com vontade de saborear a iguaria. Quando o ônibus estacionou, o menino saiu em disparada pelo acostamento, feliz da vida. Como o motorista percebeu a vontade de outros passageiros, deixou, mais adiante, outro menino da mesma idade adentrar no ônibus. A disputa pelo milho assado foi grande. Inclusive eu, levantando da poltrona, dei um sinal de que queria provar daquele milho. O menino, ao se aproximar de mim, só tinha uma espiga de resto. Falei ao amiguinho: tem troco pra dez reais? O menino respondeu: tenho sim, seu moço. Ao abrir a sua porchete, vi que ela estava recheada de notas de um real. Fiquei feliz por ter saciado a minha vontade de comer milho verde assado, enquanto o menino de Angical ficou feliz também por ter alcançado o seu êxito em um dia de glória. Assim, ele saiu correndo pelo acostamento, com um sorriso largo no seu rosto frágil, retornando para Angical, para executar mais uma tarefa do seu dia a dia.
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