sábado, 18 de junho de 2011

ADULTÉRIO NO PALÁCIO DO GOVERNO


JOSÉ MARIA VASCONCELOS

O exercício do poder é uma porta escancarada para o inferno, quando se adotam condutas de soberba, vingança, prepotência, corrupção, dissimulação, hipocrisia e adultério. Sim, adultério, verdade, presidente americano Clinton? Mentira, governador Shuazeneger? O poder já abateu reis, papas, epíscopes, pastores, magistrados e executivos. No pico da pirâmide, abnegam-se virtudes pregadas antes, e se negligencia o caráter. Decência não se prova com discurso. Testemunha-se.
Escândalo lacrado de silêncio escapuliu, virou notícia de pé de ouvido, pesquei a história, graças a um cronista que garimpa o subsolo da “alta sociedade”. Prudentemente, não citarei nomes das personagens. Fica por conta curiosa dissecá-la.
   De família camponesa, devagar conquistou espaços na vida pública, enfrentando batalhas, cultivando espírito coletivo. Ainda adolescente, tocava instrumento de cordas e compunha versos, convidado para saraus da nobreza. Dizia-se que o belo e talentoso rapaz, quando cantava afugentava estresse e espíritos malignos. Nutria especial amizade para com o filho do governante, de lhe dedicar poema, depois da morte prematura, em que dizia: “Tua amizade me era mais preciosa / Que o amor das mulheres.” Deu o que falar, mas o bonitão conquistava corações femininos. Apaixonou-se por donzelas e plantou-lhes rebentos.
  O rapaz popularizou-se, virou líder político, sagrou-se ao Palácio do Governo. Mulherengo, colecionava belas matrizes, não se importava acolhê-las no palácio. Espirituoso, também recebia, no gabinete, conhecido homem de Deus, para orar e consultar os céus.
   Insaciável, o governante ardeu-se de luxúria pelo talhe sedutor da esposa de seu segurança, que residia nas beiradas da mansão. Ela banhava-se no relento da casa, o chefe a contemplava da sacada do prédio, brechando a carne nua afogada em labaredas sedutoras, enquanto o marido se empenhava nas tarefas do chefe.
   Poder, prestígio e nobreza despertam paixões ousadas, proibidas e assassinas. O governante mandou chamar sua vizinha, trocaram afetos, adotou-a como concubina, transferiu o marido para longínquas e mortais missões.
    Se você é incapaz de dominar a curiosidade, de saber quais as personagens desta história, imagine controlar paixão proibida, domar uma conduta imoral. Quer saber, de verdade, as personagens desta história? Poeta, músico, instrumentista, guerreiro, salmista, profeta, pecador e santo rei Davi, dez séculos antes de Cristo. Apaixonou-se por Betsabé, esposa do general Urias, ao contemplá-la no banheiro. Urias morreu em posto perigoso de batalha, por ordem do rei, para conviver com a viúva. Profeta Natan, seu consultor divino, previu-lhe desgraças pelos dois pecados cometidos. Davi enfrentou, no poder, a fúria e conjuração do filho, Absalão, que morreu como Urias noutra batalha. Uma lição, até hoje, para os poderosos não brincarem de iniquidades com o cônjuge alheio, com a vida, com a coisa pública. Um dia, o castigo bate à porta, com justiça dos homens ou veredicto do além.

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