quarta-feira, 27 de julho de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO


27 de julho

PAULO CÉSAR E O LIRISMO DA VIDA

Elmar Carvalho

Quando fui à banca do Louro, em Parnaíba, para adquirir a revista Repaginando e os jornais culturais O Bembém e O Piagüí, encontrei o amigo Paulo César Lima (Curicaca). Sem delongas, disse-lhe que estava a me apropriar do livro Memórias e Memórias Inacabadas, de Humberto de Campos, publicado pelo Instituto Geia, em bela e caprichada edição, e que só o devolveria quando ele expressamente me solicitasse isso. O livro lhe fora presenteado pelo desembargador Lourival Serejo, que também é escritor e professor da Escola Superior da Magistratura do Maranhão, além de ser membro da Academia Maranhense de Letras e de outras congêneres municipais.

Tempos atrás, eu havia conversado com Paulo César sobre poetas maranhenses, em cuja capital ele havia se formado em engenharia. Disse-lhe que havia gostado de alguns poemas esparsos de Bandeira Tribúzi, que havia lido em antologias, e que desejava comprar um livro desse vate, mas que não o encontrava à venda no Piauí. PC disse que tentaria adquiri-lo para mim. Com efeito, pouco tempo depois esse bom e prestimoso amigo, através do des. Lourival Serejo, conseguiu-me um exemplar de poemas desse grande bardo maranhense. Através desse livro, fiquei sabendo que o senador José Sarney tinha grande apreço e amizade pelo poeta, e lhe fizera uma bela e comovida apologia por ocasião de sua morte precoce, que se encontra enfeixada na obra. Tribúzi, além do grande poeta que era, foi um cidadão exemplar e um alto funcionário da administração pública maranhense, talvez um dos precursores do planejamento estadual.

Conheço Paulo César desde os idos finais dos anos 1970. Em diversas ocasiões entretive boas conversas com ele, inclusive sobre literatura e poesia, e sempre lhe admirei a alegria contagiante, o senso de humor e a inteligência fina, em que sempre ele tinha algum episódio humorístico para contar. De família humilde, sem autoproclamados brasões de pretensas e pretensiosas nobiliarquias, formou-se em engenharia; por concurso público, é auditor fiscal do Ministério do Trabalho, cargo igualmente exercido por seu irmão Francisco José, o Zié, este formado em Direito. Seu outro irmão, o Augusto César, é médico no Rio de Janeiro. Devido a seu espírito alegre, brincalhão, é um dos mais animados foliões do carnaval parnaibano, do qual é uma das lideranças e incentivadores. A propósito dessa sua vertente momesca, colho na internet a informação de que “Francisco José Lima - o Zié manterá a tradição e vai desfilar na escola Unidos da Ponte, além dos irmãos Paulo Curicaca e o renomado médico Augusto César Lima - que vem especialmente do Rio de Janeiro para a festa momesca na Marquês [avenida] de Chagas Rodrigues”. Sei que a notícia se realizou, pois eu vi o PC, de apito na boca, a comandar o desfile de sua agremiação carnavalesca.

Faz algum tempo, fiquei de ir comer uma galinha caipira no sítio Serragem, do Paulo César. Por uma série de tropeços e contratempos, seja por minha parte, seja pela do PC, esse encontro gastronômico e de lazer ainda não aconteceu. Por isso mesmo, o Paulo comunicou-me, por e-mail, que a galinha já estava gorda demais, e poderia morrer por causa da obesidade. Não fiquei preocupado, porquanto tenho certeza que o seu plantel de galináceos é numeroso, e não há de faltar “penosas” para a programada e sempre adiada degustação. Como o sítio fica na margem direita do Pirangi, a sua sede sofreu uma grave ameaça, quando do arrombamento da barragem de Algodões, em Cocal. Contudo, apesar de lambida pela catastrófica “pororoca”, a casa permanece de pé, incólume, a nos esperar para o sacrifício do galináceo, que agora deverá ser um capão erado, porém de tenra e suculenta carne.

Quando eu disse que só devolveria o livro Memórias, um dos melhores livros no gênero, que tive o prazer de ler várias vezes, sempre com interesse e satisfação, e sempre com proveito espiritual pelas lições e experiências de vida, que ele transmite, mormente o esforço laboral e capacidade de superação de seu autor, Humberto de Campos, que emergindo da pobreza tornou-se um dos escritores mais aplaudidos em seu tempo, além de haver sido congressista e membro da Academia Brasileira de Letras, exceto se isso me fosse exigido explicitamente, o Paulo César, com o seu jeito expansivo, alegre e bonachão, não titubeou ao responder-me:
- O livro é seu, eu o consegui para você!
Como uma mísera e magra compensação, ofertei-lhe, ali mesmo, na Praça da Graça, um exemplar de meu livro Rosa dos Ventos Gerais, que por sorte trazia em meu carro. Rosa simples, rosa singela, rosa talvez sem perfume literário, mas na qual o amigo Paulo César talvez possa encontrar alguma beleza perdida, algum perfume fugidio e errante nos vários versos que ali estão estampados.

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