sábado, 24 de setembro de 2011

WTC: dez anos depois

CUNHA E SILVA FILHO

Eu estava vindo das minhas aulas. Entrei em casa. A tevê estava ligada. De repente, surge na tela uma imagem que me deixou sem palavras. Fiquei calado, sem ação. O que via era algo que, à primeira vista, parecia ser um filme de aventuras, com ações violentas e chocantes tão comuns em filmes americanos.
Mas, qual nada. Logo ouço a voz do apresentador narrando o acontecimento pavoroso, inimaginável. Era um avião dirigindo-se a um arranha-céu e, o que é pior, indo chocar-se contra uma parte elevada do edifício. De imediato, bolas de fogo tomam conta daquela parte atingida e se espraiam abalando toda uma estrutura de ferro e de cimento. Logo depois, vem outro avião atingindo em cheio o outro arranha-céu. Tudo, ali, no alto, parecia se esboroar em meio ao fogo, à fumaça preta. Quase ao mesmo tempo, em Washington, um outro avião atinge o Pentágono. Com isso, se completam três ataques aéreos terroristas contra os EUA.
O quadro final da imagem tétrica, além de todas as suas sequelas hediondas – vidas estraçalhadas, corpos queimados, corpos vivos e desesperados, saltando dos andares altos das chamadas Torres Gêmeas para o vazio do espaço em direção à morte, bombeiros, em seguida, enfrentando a morte para salvar vidas entre tantos outros detalhes, pessoas, ainda vivas, sãs, telefonando, por celulares, pela últimas vez, para seus entes querido. Era essa a imagem que se tinha praticamente ao vivo de Nova Iorque. Enfim, o clímax do crime: os dois edifícios desabam deixando no entorno que uma fumaça grossa de poeira invadisse lentamente as ruas próximas da capital do mundo.
No mesmo dia do ataque fatal contra as Torres Gêmeas, não sei se pelo rádio ou mesmo em notícias posteriores da tevê, comentava-se que um grupo de alunos de uma conhecida universidade particular, logo ao saberem das notícias do ataque terrorista, davam vivas aos responsáveis por esse crime inominável. Nenhuma vida de inocentes merece o aplauso de opositores de regimes em qualquer parte do mundo.
Hoje, os americanos homenageiam os mortos do WTC (World Trade Center). Tributo justo de uma nação. Por isso, mesmo, com toda a pompa que a data merece, os americanos recordam a memória dos que estavam nos dois prédios e perderam a vida e dos que, lutando para salvar vidas, perderam também as suas próprias vidas: os bombeiros, principalmente.
As feridas, com os tempo, cicatrizam em parte, porém fica o substrato de toda aquela tragédia, combinando ressentimentos e saudades.
A década passada me convida também à meditações sobre causas e consequências. Distanciados no tempo, posso agora falar com mais objetividade dos fatos acontecidos, tentar procurar as raízes dos atentados, separar o joio do trigo e adiantar algumas conclusões.
Os americanos deram enorme contribuição em defesa das causas da paz universal. Haja a vista, a sua participação decisiva na Segunda Guerra Mundial, se excetuarmos os crimes de Hirochima e Nagazaki. Entretanto, os governos americanos da últimas décadas têm uma parte considerável de culpa pelo que o povo americano está passando no que concerne ao terrorismo internacional contemporâneo.
As repetidas intervenções armadas dos EUA em países que não se alinharam aos ditames da sua hegemonia ( Cuba, Vietnam do Norte, países do Oriente Médio), culminando com as invasões do Iraque, do Afeganistão, para citar dois casos paradigmáticos, invasões o mais das vezes sem sentido e decididas manu militari sem consultas e aprovação do Conselho de Segurança da ONU e todos os acordos e tratados internacionais de organismos e instituições que lutam pela paz no mundo, pouco a pouco foram transformando a imagem dos EUA, i.e., de uma nação que se proclama democrática e, na práxis, se comporta com a força do seu poderio bélico e econômico, portanto, incompatível com a convivência harmoniosa entre as nações menos desenvolvidas e vulneráveis a invasões.
Por tudo isso, a nação americana perdeu prestígio e, o que é mais grave, passou a ser motivo de ódio xenófobo por parte dos humilhados e ofendidos. Não foram poucas as vezes que o mundo viu a bandeira americana sendo pisada, rasgada ou queimada em praça pública por países que colocaram o EUA entre os seus piores inimigos. Talvez uma das razões mais fundas do terrorismo seja proveniente dessa realidade permeada de ódios, de ressentimentos e de indignação contra os americanos. E seguramente essa aversão ao militarismo americano não se limita a países do Oriente, mas se estende a outras regiões do mundo, como a América do Sul, a América Central e outras partes da Planeta. A aversão aos governos americanos se nutre de antagonismos geopolíticos e econômicos. Os EUA, ao longo da História, são, em última análise, os principais responsáveis pela imagem ruim e demonizada que o grande pátria de Lincoln construiu contra si mesma.
Em meio aos agudos problemas econômicos e sociais enfrentados hoje pelos Estados Unidos, essa homenagem aos mortos da tragédia de 11 de Setembro de 2001 deve ser um momento oportuno para que os governos norte-americanos despertem para os seus desatinos belicosos e deem solução urgente através da retirada de forças de combate no Afeganistão.
Que as promessas de campanha do presidente Barack Obama sejam de fato cumpridas, retirando de imediato suas tropas daquela região, não repetindo os erros do seu antecessor, que tanto mal fez aos EUA com guerras desnecessárias causando perdas humanas tanto do contingente militar americano quanto de inocentes civis mortos no Iraque, no Afeganistão, na Guerra do Golfo.
Vejo, hoje na tevê, na abertura da cerimônia em honra aos mortos do WTC o paradoxal encontro de Obama e Bush filho.A figura de Bush filho, diante das câmeras, não combina bem com o perfil de Obama.
Não se constrói a paz, nem se combate o terrorismo trazendo à tona um dos piores exemplos de comportamento político diante dos princípios democráticos. A presença de Bush filho não faz sentido face à realidade da História. Os Estados Unidos ainda têm tempo de reavaliar seus erros e se redimir diante dos massacres de suas invasões em terras alheias. A guerra ao terrorismo se faz com os instrumentos da paz e de mudanças de política externa. A paz e reabilitação norte-americana só serão alcançadas se diálogo franco e aberto houver entre os Estados Unidos e os seus declarados inimigos.

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