sábado, 5 de novembro de 2011

O S F U N D A D O R E S - JÔNATAS BATISTA


REGINALDO MIRANDA

Natal do Menino Jesus, povoação situada dez léguas ao sul da cidade de Teresina, mas em seu termo, hoje aprazível cidade de Monsenhor Gil, foi a terra natal de Jônatas Batista, um dos dez fundadores da Academia Piauiense de Letras. Seus pais, figuras de relevo naquela localidade, foram o tenente-coronel João José Baptista, professor de primeiras letras para o sexo masculino daquela povoação, e a prendada senhora Rosa de Jericó Caldas Baptista, esta filha do notável jornalista David Caldas, o adventista da República. Veio ao mundo em 18 de abril de 1885, quando não mais existia o avô materno, que sustentara o debate pela causa republicana no Piauí.
Poeta, jornalista, cronista, dramaturgo, ator, animador cultural de larga projeção, Jônatas Batista passou a meninice no povoado Natal, onde nascera, dividindo o tempo entre a escola de primeiras letras do pai, onde foi alfabetizado, e as travessuras de criança banhando no riacho Natal e perambulando pelas matas vizinhas com os meninos de sua geração. Mais tarde, por volta de 1897, mudou-se para a cidade de Teresina, a fim de prosseguir nos estudos. Inicialmente, matriculou-se em escolas particulares, passando depois para o Liceu Piauiense, onde cursou os estudos preparatórios e permaneceu até 1903, quando perdeu o genitor. Então, depois desse rude golpe viu-se obrigado a abandonar os estudos para assumir a luta pelo sustento da família. Assim, aos dezoito anos de idade teve de assumir imensas responsabilidades. Sobre esse assunto, relembra mais tarde o co-fundador da APL: “falecendo meu pai, em 1903, deixou-me o encargo de uma família numerosa e pobre, composta de minha mãe e nove irmãos, inclusive o Zito Batista, que chegou anos depois, a se impor no meio intelectual do Rio de Janeiro, como jornalista e poeta” (Os fundadores, p 232).
Com tais responsabilidades, iniciou-se na vida prática assumindo o cargo de Oficial do Registro Civil de um dos cartórios da comarca de Teresina. No mesmo período, para aumentar a renda, fundou com outros sócios o Externato David Caldas, que, infelizmente, teve efêmera duração. Em 1906, logrou êxito como segundo colocado para o cargo de Escriturário da Fazenda Nacional, porém, só sendo nomeado duas décadas depois. Continuou no exercício do primeiro cargo e iniciando-se na atividade literária. Em face de crítica literária, entre 1906 e 1907, envolveu-se em violento conflito com Esmaragdo de Freitas, de que por pouco não termina em tragédia.
No ano de 1907, aos vinte e dois anos de idade, Jônatas Baptista convola núpcias com Durcila Cunha, filha do consagrado professor e intelectual de renome, Higino Cunha, e que seria sua colaboradora em atividades culturais.
Jônatas Batista sempre militou no campo cultural, participando como sócio do Clube Filhos da Arte dirigido por João Antônio de Vasconcelos, com diversas encenações. Porém, intensificando essa militância a partir de 1908, quando participou da fundação do Clube Dramático 24 de Janeiro, oficialmente instalado em tal data, durante as festividades alusivas à adesão do Piauí a Independência do Brasil. Jônatas atuou como amador no drama de estréia Gaspar, o Serralheiro, definido como moderno, de propaganda de idéias novas e de princípios reivindicadores, anotou a pesquisadora Teresinha Queiroz. E outras apresentações do grupo seguiram em fevereiro e março do mesmo ano. Em 13 de junho(1908), foi apresentada a peça A filha do Diabo ou a Cega de São Paulo, com mais uma participação de Jônatas Baptista como ator, que se repetiu no mês seguinte. Durante os meses de agosto(13) e setembro (03 e 06), foi apresentada uma revista de costumes teresinenses, denominada Teresina de Improviso, escrita por Jônatas Batista. Embora criticada por alguns, valorizou temas, músicas e amadores locais, assinalando o nascimento de um dramaturgo que vai movimentar a vida teatral da cidade por mais de duas décadas.
Em 1911, surge o Clube Recreio Teresinense, seguido do Amigos do Palco(1913), com diversas atuações teatrais e participação de Jônatas Baptista na direção de ambos os grupos. Grande cultor da arte dramática, em 14.04.1914, apresentou o drama histórico Jovita ou a Heroína de 1865, em três atos sediados, respectivamente, em Jaicós, Teresina e Rio de Janeiro, conforme a trajetória de vida da notável heroína brasileira. Informa Arimathéa Tito Filho que a apresentação do drama se deu a 19 de abril de 1914, pelo Clube Recreio Teresinense. Ainda em 1914, escreve e recita o monólogo “Prá-barro”.
Em 7 de julho de 1917, Jônatas Baptista estréia com a revista “O Bicho”, envolvendo cerca de 40 amadores, com 20 números musicais. Teve mais duas apresentações, sendo a última em benefício das crianças pobres das escolas públicas de Teresina. Nesse mesmo ano, Jônatas ainda lançou as revistas Frutos e Frutas e Cidade Feliz, atuando nesta última também como ator. Envolvido em toda essa efervescência cultural, em 31 de dezembro desse ano Jônatas Batista participa da fundação da Academia Piauiense de Letras, ao lado do sogro e do cunhado Édison Cunha, além de outros próceres das letras piauienses, tomando assento na Cadeira n.º 04. Por esse tempo, aplaudido pelo público e reconhecido o mérito além fronteiras, associa-se à Sociedade de Autores Teatrais, sediada no Rio de Janeiro.
Continuando sua atividade teatral, em 1923 Jônatas apresenta a peça Alegria de Viver, de gênero alegre, com composições musicais de sua esposa Durcila Cunha Batista e arranjos do maestro Pedro Silva. Em 1925, publica folheto com a peça Astúcia de Mulher, apresentada anteriormente com composição musical da esposa e participação da filha Dilnah Batista e sua colega Walmira Campos, então meninas.
Militou na imprensa por longos anos, através dos jornais Arrebol(1904), O Mensageiro(1904), O Operário(1906), O Nordeste(1907), Cidade de Teresina(1912) e Diário do Piauí(1916).
Era maçom filiado à Loja Caridade 2ª, juntamente com Matias Olímpio, Valdivino Tito, Higino Cunha, Antonio Chaves, Celso Pinheiro e outros.
Conferencista,proferiu entre outras as seguintes conferências em Teresina: “A luta” (1911), “As crianças” (1913) e “Monstros” (1917), esta última sobre a Primeira Guerra Mundial.
Poeta de rara sensibilidade, “os seus versos estão impregnados de um simbolismo tão ardente em que não se sabe o que é mais forte, se o fluido da poesia, se o senso estético do artista. Sejam manifestações de revolta, sejam confissões de perdão, hinos de glorificações à vida, ou imprecações contra o destino – um quadro evocativo do passado, ou uma simples cena descrita da paisagem humana – as ressonâncias da alma do poeta aí percutem em toda a plenitude de uma vida interior, que se não logra conter nem no desdobramento das angústias secretas, nem na introspecção dos pensamentos íntimos” (Da Revista Universal, S. Paulo, abril/1938. In: Revista da APL n.º 17. Teresina,1938). Além de trabalho inéditos e dos já citados, publicou as seguinte obras: Sincelos, versos(1907); Maio, versos(1908), Alma sem Rumo, versos(1934), Mariazinha, opereta em três atos; Alegria de Viver, opereta;
Aguerrido, inteligente, comunicativo, bem relacionado, Jônatas Baptista, “foi, por algum tempo, grande animador da vida social em Teresina, promovendo festas, fundando clubes, jornais, instituições, tudo efêmero, de poucos dias ou de poucos meses, mas alegre, saudável, reconfortante”, testemunhou Cristino Castelo Branco (Frases e Notas. Rio, Irmãos Pongetti, 1957:141). Era um homem de paixões e iniciativas, conclui a pesquisadora, hoje acadêmica Teresinha Queiroz. Para Yara Neves de Melo, Jônatas era um espírito militante e pouco submisso, sobretudo um rebelado, franco, por vezes rude, com atitudes marcadas pela sinceridade sem refolhos, uma de suas características(Discurso de posse no Cenáculo Piauiense de Letras)
Depois dessa fase, em busca de estabilidade financeira, muda-se para o Pará, assumindo o cargo de Promotor Público de Altamira e Secretário da Intendência Municipal. Nessa mesma cidade destacou-se como advogado provisionado, atuando em muitas causas. Todavia, no final da década de vinte, transfere-se para Belém, onde assume o cargo de Escriturário da Fazenda Nacional, para o qual fora aprovado em concurso realizado anos antes. Na capital paraense, milita ativamente na imprensa, publicando seus trabalhos nos jornais e revistas.

Deixa a Amazônia no início da década de trinta, mudando-se para a cidade de São Paulo, onde continua a exercer suas atividades no novo emprego e vem a falecer em 15 de abril de 1935, aos 50 anos de idade, deixando a família ali radicada. Foi um militante cultural de projeção que deu vida às atividades teatrais em Teresina, inclusive, tentando modernizar costumes. Partiu sereno para a eternidade, deixando de si uma memória honrosa à qual, num preito de gratidão, ora prestamos justa homenagem.

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