segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

AS LEMBRANÇAS


JONAS FONTENELE

- “Eu nasci há dez mil anos atrás, e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais... Se você provar que eu estou mentindo, eu tiro o meu chapéu”. Raul Seixas, cantava e ainda canta até hoje nos rádios os versos acima. Eu as vezes tenho essa impressão, que nasci há muito tempo atrás. A velocidade da informação nos faz parecer, muito rapidamente, dinossauros. Lembro, não faz muito tempo, do mimeógrafo (você sabe lá o que é isso?), do orelhão de ficha, do kisuco, da crush, do conga (tênis) do kichute e outras coisas que nem adianta mais se lembrar, viraram poeira no tempo que implacavelmente não perdoa.
Na minha infância, vivida na rua General Sales – Parnaiba/PI (sei lá quem é esse general) hoje João Emilio Falcão Costa (pelo menos conheci o filho e o neto), bairro São José vi coisas e personagens, que me marcaram a existência, personagens que vi pela ótica de menino, portanto posso aqui cometer alguns desatinos, aceitando portanto desafios e contestações. Personagens que nunca mais ouvi falar e que talvez você leitor possa conhecer e me atualizar nesse mundo globalizado.
Lembro de um personagem que passava na rua, todo bem vestido, tocando violão, com uma gaita fixada neste,(tempos depois vi Bob Dylan com o mesmo sistema) em cada braço um prato de bateria, chocalhos nos pés, e um bumbo às suas costas, de modo que quando andava, tudo de forma sincronizada era acionado e um som maravilhoso saía, e nós ficávamos olhando aquele personagem, pensando até onde ia aquela maluquice, e ele garbosamente passava tocando a sua música, violão, gaita, bumbo, prato, tudo ao mesmo tempo, num ritmo impressionante, esse eu nunca mais ouvi falar dele.
Tinha outro personagem, que ia muito a minha casa, amigo que era do meu irmão José Porfírio Carvalho, conhecido por Joãozinho, que vivia com um cabresto de chinelo entre os dedos a balançar freneticamente, sabia dentro do seu universo, de todas as capitais do Brasil e do mundo, era só perguntar e ele respondia sem titubear, era um verdadeiro atlas geográfico ambulante.
Eram muitos personagens, tantos que o espaço reduzido da matéria faz cometer injustiças, mas tinha um que eu gostaria de saber de sua localização e peço sua ajuda leitor, para tentar localizá-lo, já que imagino ainda esteja vivo. Chamava-se PAULO e eu o conhecia por PAULO CRENTE, já que na minha época era muito estranho não ser católico, e a família do PAULO não era, nem sei mesmo a sua religião, mas chamávamos (eu e todos que conhecia) ele e os seus irmãos, de CRENTES, que assim o distinguíamos da turba. PAULO morava na rua acima da nossa, e era, como você vai perceber uma pessoa extremamente diferente. Ele um dia foi ser sócio de um irmão meu o LUIZ, em uma oficina de consertar rádio e aí virei seu fã, pois ele era um artista, vi e assisti inúmeras coisas que ele fazia à nossa frente, sem truques de luz e sem muita “novela”. Era ao vivo e em cores, sem rufar de tambores.
PAULO costumava comprar combustível e estocava na oficina que ele mantinha com meu irmão LUIZ CARVALHO, que era vizinha a nossa casa. Se era para abastecer algum carro? Não meu caro leitor, era pra despejar nas enchentes que aconteciam com frequência na nossa rua, e como chuva naquela época (????) combinava com falta de luz, era só chover que PAULO derramava o combustível acumulado na enxurrada e tocava fogo, era bonito se ver aquele fogaréu descer rua abaixo amedrontando quem não tinha idéia do que era aquilo, era diversão pura.
PAULO fazia coisas que são inimagináveis até o dia de hoje, como por exemplo descascar coco com os pés, veja você descascar coco com as mãos e um facão já é dificil, PAULO descascava com os pés e sem nenhuma ferramenta. Não era só isso, colocava uma tábua abaixo de sua língua e com um martelo e um prego, atravessava-a sem dó nem piedade, isso em plena luz do dia ao nosso lado. Fazia pior, jogava água no chão, ficava descalço e colocava segurando pela mão, uma colher no bocal de luz, (a corrente elétrica é 220w) a gente não entendia como ele não morria de choque, mas era assim mesmo o PAULO.
Uma vez o vi colocando no liquidificador a seguinte mistura: mertiolate (lembra?), mercúrio, leite, cachaça alemã, abacate e depois de triturar tudo, beber como se fosse a mais saborosa mistura do mundo.
Nessa época tinha um programa de televisão na TV TUPI (eita ferro) comandado pelo animador J.SILVESTRE, que tinha um quadro chamado OS FORA DE SÉRIES, que exibiam pessoas que faziam coisas excepcionais, não tardando que, em Fortaleza, aparecesse um programa que também tinha um quadro parecido. PAULO como era de se esperar, foi lá várias vezes e cada vez surpreendia muito mais. Lembro de uma vez que ele ficou de cabeça pra baixo e nessa posição bebeu um litro de água, isso para ele era moleza. Perdi o contato com o PAULO e toda vez que falo dele, sou olhado com desconfiança, pois acham que eu estou mentindo. Só quem o conheceu sabe que o que eu estou falando, ainda é pouco pelo que ele fazia.
Outro dia fiquei sabendo que em Piripiri ou Piracuruca, tem um sujeito que faz um espetáculo usando carneiros, que depois de provocados começam a dar cabeçadas, sendo que o seu proprietário os encara de frente, dando forte cabeçada na cabeça dos caprinos, estes invariavelmente perdendo o duelo. Não sei porque mas acho que esse aih é o PAULO. Quem souber, me avise no email jonasfontenele@hotmail.com, e quem achar que eu estou mentindo, como dizia o poeta, eu tiro o meu chapéu.

3 comentários:

  1. Caro Jonas,
    Esse Paulo da sua estória é o verdadeiro cão chupando manga, como diz o povo.Se eu não fosse seu amigo, também acharia que você está com potoca ou contando estória de Trancoso. Esse nosso amigo ou tinha um parafuso a mais ou a menos, ou pelo menos frouxo.

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    1. Elmar, eu não contei mais pqe a coisa era esquisita mesmo, mas espero que alguem de Parnaiba lembre dele e me auxilie a contar suas diatribes. Abs

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  2. Acredito que esse Paulo era literalmente um imortal, e hoje deve viver "encantado" em outra dimensão do espaço-tempo.

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