terça-feira, 29 de maio de 2012

Desista, Professor!



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Produto raro, produto caro. O princípio vale para compra de banana, maçã, ouro, barro. Também para contratação de profissionais. Em toda esquina, encontra-se professor, quase sempre despreparado, desmotivado, biqueiro. Está provado porque ganha mal. Pior, sob o jugo perverso de gestores mais interessados nos salários obesos da parentela ociosa ou na defesa das empresas do ramo.
Criou-se a cultura de se elegerem diretores das escolas públicas pela votação democrática da comunidade, porém, na ponta da hierarquia, prevalecem caprichos pessoais e partidários. É como convidar enfermeira para contabilizar despesas públicas. Faltam especialistas e inundam a administração de peixes políticos.
Acompanho, desencantado, há décadas, a luta inglória do magistério por salários condizentes à nobre profissão. A sina dos profissionais da Educação é aguentar o inferno da ingratidão e desvalorização. Alimentam sonhos sublimes e heroicos, erguendo bandeiras do idealismo, sob a vergasta de merrecas até para o básico da sobrevivência.
Proporia uma atitude covarde, mas realista, ao desestimulado professor: desista da profissão, especialmente da rede pública. Nem sempre heroi é quem se manda por último. Desista, professor. Quanto antes. Estudantes não merecem permanecer sem aulas ou assistir a náuseas, barricadas e muxoxos de infeliz profissional.
Gestores dão bananas ao idealismo patriótico de construir uma sociedade pela educação de vergonha. Investem mais na pança das ambições pessoais, roubam. Fazem que fazem, banqueteando-se com a volúpia de construtoras e afilhados. No frigir dos ovos, escondem a omelete, dão cascas a otários barnabés e à opinião pública.
No início da minha profissão de professor, na rede estadual, amarguei a experiência de navegar em barca furada aguardando socorro de navio. Apaixonava-me a tarefa de convivência com os jovens. Ex-alunos são-me testemunhas do enorme interesse de lhes abrir as mentes. Quando regressava para casa, 11 da noite, esgotado, sentia-me um bolor. O contracheque magro não me amenizava o esforço. À hora do recreio, ouvia dos companheiros rosário de lamúrias, salários atrasados e mixurucas promessas. Tomei uma decisão: buscar novos horizontes, onde me satisfizesse, pelo menos, ganho mais razoável no magistério, ministrando cursos, lecionando em cursinhos e escolas privadas, apesar das fragilidades encontradas. Ainda há uma guerra de concorrência saudável, em vez da autoestima mofada na escola pública.
Quando surgem heroicos professores para classificar seus alunos, em nível nacional, políticos soltam rojões, até no Congresso, como autores dos méritos. Como se inaugurassem obras inacabadas para engabelar a própria consciência.
Só aumento salarial não qualifica competência profissional. Há que se selecionarem gestores especializados na área que administra (repito: enfermeira não pode exercer contabilidade pública). Cobrança de qualidade e dedicação.
Infelizmente, professor e médico plantonista do setor público, se não se habilitarem para voos mais altos em atividades competitivas, sempre amargarão raquíticos salários no faz de conta dos gestores públicos. Porque, neste país, só servem os que não servem. Só servem os malabaristas da malandragem estatal. Se eles quiserem, até motorista do palácio pode eleger-se prefeito de interior. Aí, meu irmão, minha irmã, o barato é que sai caro.

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