Jesualdo
Cavalcanti Barros*
Na
mesma data em que assumiu o governo do Piauí (21.05.1931), na
qualidade de Interventor Federal, o tenente Landri Sales Gonçalves
tomou uma medida verdadeiramente revolucionária: baixou decreto
suprimindo as Secretarias de Estado. Ao mesmo tempo, criou a
Secretaria Geral, para superintender “todos os ramos da
administração”, a ela diretamente subordinando Diretorias
encarregadas das atividades-fim (Fazenda, Interior e Justiça,
Agricultura, Viação e Obras Públicas, Instrução Pública, Saúde
Pública e Chefatura de Polícia).
Para
usar uma expressão tão em voga nos dias atuais, Landri enxugou a
máquina administrativa, tornando-a leve, ágil e funcional. Por quê?
Ele mesmo justificou a drástica medida perante o chefe Getúlio
Vargas, em relatório de 1932, entregue por intermédio de Juarez
Távora: “as
condições financeiras do Piauí não comportavam o luxo de
Secretarias de Estado.”
Bons tempos
aqueles em que, em nome da racionalidade e do combate ao desperdício,
se considerava um “luxo” o uso da estrutura de secretaria, sempre
pesada e onerosa, sobretudo para setores ou atividades que mal cabem
nos limites de um simples projeto ou programa. Ou mesmo de uma seção.
Pois secretaria significa, a grosso modo, toda uma parafernália de
departamentos, divisões, assessorias, gerências, coordenadorias e
quejandos, com seus chefões e chefetes não raro arrotando
pose e mordomias (gabinetes, secretárias, carros e telefones), tudo
por conta do contribuinte. E assim o dinheiro some. Em suma:
para organizar a atividade-meio, gasta-se o dinheiro que deveria ser
investido na atividade-fim.
O Piauí de
hoje, seguindo o mau exemplo do Planalto, abusou desse “luxo”.
Daí o gigantismo do aparelho estatal, com suas consequências
desastrosas: o paralelismo de ações, a superposição de órgãos,
o inchaço da folha, a evaporação das receitas. Enfim, o
desperdício de tempo e de dinheiro. Face à ineficiência
administrativa resultante desse verdadeiro “samba do crioulo
doido”, pipocam as brigas por espaço, os confrontos de vaidades,
as ciumeiras, as rivalidades. E as consequências todos sofremos.
Economizando
para poder investir, Landri tornou-se um dos melhores administradores
que o Piauí teve até os dias de hoje, inclusive pelo combate
sistemático a mordomias. Sem comentários, reproduzo nota contida na
resenha dos ofícios expedidos pelo Secretário Geral, publicada no
Diário Oficial de 2 de setembro de 1931, sobre uso de carros
oficiais pelos altos dignitários do Estado:
“Ao
Sr. Diretor da Fazenda, mandando providenciar para que sejam
devidamente descontadas em folha, pela Tesouraria daquela repartição,
as importâncias abaixo discriminadas, provenientes de corridas
feitas em carro do Estado pelas autoridades que se seguem:
Ten.
Landri Sales Gonçalves................19$600
Ten.
Antonio Martins de Almeida
12$600
Sr.
Heráclito Souza
3$500
Prof.
Felismino Freitas Weser . 2$800
Cap.
Torquato Pereira de Araújo
2$100
Ten.
Bruno Jansen Meireles
4$900
Prof.
Martins Napoleão
4$200
Cel.
João Bastos 7$700
Dr.
Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves 49$700
Total
.....................107$100.”
E assim
ocorria todo mês, com esses e outros nomes. Na publicação do mês
seguinte (4 de outubro), por exemplo, o valor descontado subiu para
153$600.
Assim, a
contar do todo poderoso chefão Landri, pagavam do próprio bolso
pelo uso de carros oficiais as mais altas autoridades do Estado, como
as citadas acima: Antonio Martins de Almeida, Secretário Geral;
Martins Napoleão, Diretor Geral da Instrução Pública; João
Bastos, Diretor da Fazenda; e Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, Diretor
da Agricultura, Viação e Obras Públicas. Sem nenhum desdoiro.
Por isso é
que o dinheiro dava.
*Ex-presidente
da Assembléia Legislativa e do Tribunal de Contas do Estado
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