Cunha e Silva Filho
A
grã-finagem brasileira, como os reis nus, não querem ver cenas
horripilantes, noticiários de matanças, estupros, esfacelamento
familiar, pobreza, os vícios os mais diversos, reportagens sobre
sequestros, tráficos de droga, prostituição de menores, maus
tratos de policiais ou notícias sobre policiais que sabem cumprir o
dever e têm consciência do que fazem para o bem da população. O
caldeirão de notícias é prato variado e nele cabe tudo: o bom e o
lado mau da vida brasileira contemporânea. Esse tipo de jornalismo é
injustamente tachado de imprensa marrom, sensacionalista.
Não
sabem,, no entanto, os que o criticam que esse é o termômetro, quer
queira, quer não, que define com precisão cirúrgica o cotidiano de
nosso país. Sociólogos, antropólogos, políticos em geral que não
se dão ao trabalho de assistir a tais notícias e, ao contrário só
importância dão às estatísticas oficiais e a resumos de
auxiliares que filtram apenas o que interessa às autoridades
públicas, não conseguirão radiograr o Brasil social, o pais e suas
mazelas, suas injustiças, suas impunidades. Inclusive, aqui vai uma
sugestão também dirigida aos nossos governantes, i.e., a prefeitos,
governadores e presidentes da República: vejam esses programas que,
em alguns canais não-burgueses diariamente se especializaram nesse
tipo de jornalismo marginal (atente-se: não marginalizado). Seria aí
que encontrariam ideias fecundas para que alterássemos esse estado
constante de um país paralelo, não divulgado no exterior e que
mostra dois grandes problemas gravíssimos : a violência e a saúde
pública.
A
imprensa televisiva, mesmo a injustamente chamada sensacionalista
para os olhos da burguesia, a meu ver, serve de valiosa amostra dos
magnos problemas nacionais e, no caso particular, nos setores
públicos da segurança e da saúde.. Não adiantam as propagandas
pagas pelos governos municipal, estadual e federal a fim de
elducorarem uma realidade que não desejam seja vista por todos os
segmentos sociais. Agindo assim, só estarão contribuindo para a
degenerescência dos aflitivos males sociais que campeiam pela país
afora e são mais agudos nas metrópoles brasileiras.
A
população brasileira está gritando por uma polícia que esteja ao
lado dela e não como inimiga. A seleção de novos policiais civis,
militares está inadequada e longe de escolher jovens com bons
princípios e comportamento louvável.
Os
hospitais, da mesma forma, estão ausentes no atendimento de
contingentes menos favorecidos da nossa sociedade. Instituições
recém-criadas no Rio de Janeiro, comas chamadas UPAs, não estão
dando bons exemplos ao povo carioca quando se constata que em muitas
unidades delas não existem médicos para os principais setores da
medicina. Os salários de policiais, bombeiros, polícias civiis, de
delegados, de médicos e de todos os quadros auxiliares e
administrativos desses setores são vergonhosamente baixos a tal
ponto que os profissionais abandonam o emprego e vão procurar outras
atividades que lhes deem maior conforto familiar e uma vida digna.Na
realidade, o quadro nos dois setores é tão aflitivo que a escalada
da violência ganha terreno e já está incomodando a alta burguesia,
só faltando a escala mais alta da pirâmide social, os milionários
ou multimilionários. São Paulo e os seus bairros mais elegantes que
o digam, assim como o Rio de Janeiro e seus bairros mais requintados.
O
país não precisa só de sociólogos de gabinetes e a serviço da
burguesia e da cooptação ao status quo. Da mesma forma, os
economistas e outras categorias de profissionais. Todos parecem estar
distantes da realidade chã e simples da vida brasileira. Acorde,
gente. Deixemos de ser macunaímicos e afastemos de nós a situação
de bruzundangas.
Não
só de erudição, de curso de pós-doutorado na Europa e nos EUA,
países tão distantes das nossas condições e contextos
tupiniquins, se fazem as avaliações, as análises vivas e profundas
fincadas no matéria bruta que a dinâmica da vida social e cultural
no país exige com urgência e firmeza.. Deixem o ilusionismo
realista de lado. Fiquemos com o distanciamento necessário à
desalienação de nosso povo, afundado que está na escuridão da
ignorância, no desconhecimento dos seus direitos e obrigações e na
extrema penúria de reflexão crítica.
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