terça-feira, 18 de setembro de 2012

Secas tórridas e negligências, desde 1559


Caldeirão, em Piripiri
Barragem Corredores, em Campo Maior
Barragem do rio Longá, em Barras
Barragem do rio Piracuruca



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com


Nada de chorar ou resmungar por falta de chuva ou secura prolongada, como punições dos céus ou sinais apocalípticos. Fenômenos climáticos obedecem, quase rigorosamente, a ciclos de chuvas generosas e secas tórridas. É só tirar proveito, como saborosa a carne de sol, cultura da seca. Várias regiões do planeta já se adaptaram a ciclos climáticos, de lascar, como Oriente Médio e parte dos EUA. No tempo de Abraão e dos faraós ocorriam secas.

Pior que fenômenos climáticos é ignorância da população, queimadas criminosas, incompetência e interesses espúrios de políticos e gestores.
Desde a infância, acostumei-me contemplar a natureza, a exemplo de meu pai: fases lunares e seus efeitos na floração das plantas e no parto dos bichos, a neblina indesejável, presságio de pouca chuva. Em setembro e outubro de 2011, caíram chuvas torrenciais, destruindo a floração de caju e manga. Em crônica, eu advertia que o fenômeno anunciava inverno fraco a partir de janeiro. Em 2009, escrevi "APROXIMA-SE GRANDE SECA", que ocorre no final ou começo de cada década, especialmente nos anos terminados em 7, 8 e 9, ou em 1, 2 e 3. O ciclo de invernos generosos prevalece nos anos terminados em 4, 5 e 6. Lembra-se da crônica, "SHOPPINGS SERÃO INUNDADOS"? Não deu outra: meses depois, as águas do Poti adentraram a Av. Raul Lopes e saudaram o Shopping Riverside. A leitora, Cláudia, de Timon, lembrou-se da matéria, telefonou, gracejando-me de profeta.

O primeiro registro de seca, no Nordeste, data de 1559(final de década). No século XVIII, autoridades começaram a se preocupar com os efeitos das secas, porém sem obras estruturantes. Em 1877(final de década), a seca matou mais de 550 mil pessoas. D. Pedro II enviou técnicos franceses e portugueses a Quixadá-CE, para construção do açude Cedro, aproveitando a mão de obra dos fragelados. Só em 1909(final de década) foi inaugurado, com grades e cerâmicas da Europa. Gigante, mas me entristeci vê-lo transformado em bonito balneário e raquítica agricultura. Açude Orós-CE, projeto do século XIX, e de estudos técnicos na seca de 1912(começo de década). Foi lembrado nas secas de 1931, 32, 51 e 52(começo de década), porém a construção somente na grande seca de 1958(final de década). Antes da conclusão, em 1961, chuvas torrenciais encheram-no, provocando enorme ruptura e tragédia. No final da década de 1920, plena seca, o DNOCS construiu o açude do Forquilha, que beneficiou centenas de agricultores. Transformou-se em vila, hoje cidade. Lá, nasci.

No Piauí, construiu-se açude em Piripiri(Caldeirão: há mais funcios do DENOCS do que peixes), Cocal (Arrombado pela enchente de irresponsabilidades), Beneditinos, Campo Maior, que servem mais para balneários e se esbaldarem em farras); barragem em Piracuruca(projetada para culturas agrícolas; virou invasão e recreio de ricos). A cidade às margens do rio perenizado não produz um pé de tomate, só baladas e comilanças na Prainha. Em Barras, em vez de agricultura, plantaram-se botecos, chamegos e sacolejos nos arredores da barragem. Lagoas, a maioria perenes, espalham-se pelo Piauí para quase nada de cultivo: Parnaguá (a mais bela e borbulhante), Cajueiro, Joaquim Pires, Luzilândia. Poços jorrantes para cachaçadas e prazeres. 1.500 km de rio Parnaíba e afluentes - vários órgãos públicos cheinhos de funcionários, enquanto o tomate e produção agrícola vêm de outros estados, inclusive de regiões mais secas, como Ceará e Pernambuco. Que falta de vergonha! Açude Jaburu, Serra da Ibiapaba, exemplo de cultura produtiva e comercial. Barragem do Jenipapo(São João do Piauí), Petrônio Portela(São Raimundo Nonato), Bezerro (José de Freitas), Nazaré do Piauí, todos só atraem festeiros e farofeiros. A lagoa de Buriti dos Lopes é aproveitada para modesta cultura de arroz.

Grandes latifundiários e aliados políticos interferem nas decisões, em escala federal, em proveito próprio. Beneficiam-se da divulgação dramática das secas para não pagarem dívidas contraídas. Desse jeito, podem inventar SUDENE, PROTERRA, EMATER, DENOCS, CODEVASF.

Seca não é castigo dos céus. As ambições é que ressecam corações. Mirem-se no empreendedorismo de Israel e países vizinhos. Secura produtiva é com eles.

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