segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Campo Maior, 250




Campo Maior, 250

No município permanece a cabeça norte do ‘feudo’ da Casa da Torre de Tatuapara, litoral baiano, o sítio Abelheiras: prova da dilatação gadeira que afugentou os valerinos longazes.

Fonseca Neto

O município de Campo Maior aniversariou – 250 anos – no último 8 de agosto, exato dia em que sua população agitava-se em meio a uma mudança de prefeito. Fato histórico secular assinala a instalação da municipalidade, dada no ano de 1762.

Com a palavra, um notável historiador da terra (fala Olavo Pereira F.° sobre tua amada!): “Campo Maior vicejou [...] naquele território chamado Longá, suavemente estendida na planície de perpétuas, fincada de carnaubeiras prateadas, entre a serra azul de perfil preciso e arestas cortantes e o rio de águas mansas e refulgentes que consagram o espírito, sombreado de moitas de mofumbo, habitado de surubins e mandis, onde lavadeiras de bustos ao sol ainda hoje coram roupa nos lajeados ardentes. (...). As posturas pombalinas encontraram ali uma configuração rarefeita de 30 fogos, assentados em consonância com a natureza. As novas construções foram se perfilando sem, contudo, eliminar por completo as irregularidades do caminho grande predefinido [rumo a Barras] pelas primeiras moradias. Na vizinhança da igreja-templo [de Santo Antonio] se levantaram os edifícios mais representativos. Aí se cristalizou Campo Maior”.

Esse lugar tão poetica e historicamente narrado é uma das paragens mais encantadoras dos sertões do Piauí, vale do rio Longá, antigamente habitado pelos nativos alongá, ou longazes. Gente suprimida desse paraíso a partir do século XVII cristão, por obra de latifundiários sedentos de corpos para escravizar e currar e de seu chão para criar e curralar bovinas criaturas trazidas do outro lado do mundo – o gado vacum, cavalar, muar, cabrum. Obra, idem, de padres da igreja romana que também pastoreavam e cativavam almas.

Naquele 8 de agosto o primeiro governador do Piauí ali esteve em missão oficial, solenizando a instalação do município, por meio da eleição da Câmara de vereadores, erguimento do Pelourinho, além de outras medidas concernentes à estruturação da nova unidade política do reino de Lisboa, vinculada ao Estado (colonial) do Maranhão e Grão Pará. Para a sede, seguindo a diretiva régia, foi fixado o lugar-matriz da Freguesia de Santo Antonio do Surubim, por sua vez situada num núcleo colonial branco criado ainda na transição do Seiscentos para o Setecentos, com a designação de Bitorocara. Ressalte-se, daí, que Campo Maior é assistido regularmente por cura católico desde pelo menos 1712-1713. Diz dom frei Manuel da Cruz – bispo do Maranhão que a conheceu, em 1742 – que, por decisão do rei (resolução de 20 de maio de 1740), por ele, bispo, em pessoa, posta em prática, foi criada e erigida “em nova vigararia colada o curato da igreja de Santo Antonio do Surubim”. Hoje sede diocesana, a igreja católica é parte indissociável da estruturação jurídica, política, administrativa e cultural de Campo Maior. Na esfera propriamente econômica, são muito relevantes, seus currais, além do pó cerífero da carnaúba. Figuras notáveis nas letras e noutras artes dali surgem para os cultivos de si e do mundo.

É da toponímia lusa a chancela citadina Campo Maior, que, aliás, ajustou-se à paisagem local, bem caracterizados campos verdes de bastante planura, sobressaindo as ditas palmas das carnaubeiras providenciais. Nesse município, no Oitocentos, mobilizado pela ideia de Liberdade, aconteceu a crucial batalha do Jenipapo, um acerto de contas banhado em sangue entre trabalhadores sertanejos e os símbolos da dominação reinol.



CROMOS DE CAMPO MAIOR

Elmar Carvalho

VII

Na casa grande da fazenda
o brasão é uma grande
caveira de boi erado
de chifres enormes
às vezes descrevendo
curvas
como obra de arte.
O vaqueiro e o cavalo
se fundem e se confundem na desabalada
                                                    alada
carreira quase vôo
campeando gado pelos campos
                             de Campo Maior.
A perneira e o gibão
dependurados na parede
como se vestissem invisível corpo
são a lembrança palpável do vaqueiro
morto na desobriga.
O vaqueiro em seu terno de couro
segunda pele áspera de seu corpo –
solta seu canto de guerra
e paz: o aboio – eeeeei! boooooi!
O eco é o aboio de
outro vaqueiro: – eeeei! boooooi!



Um comentário:

  1. Sempre que vou a Campo Maior faço as minhas caminhadas no entorno do açude grande.


    Na curva da orla
    O vento espalhou seus cabelos.

    A brisa leve, vindo da Serra
    Toca o seu rosto
    Pele lisa, lábios
    Perfeitos, vermelhos
    Perfil de sobrancelhas.

    Observo o seu caminhar
    Na tarde ensolarada
    Suor que transpira
    Desejo de te amar.


    (hl-sp)


















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