Desafiei o deputado federal

José Maria Vasconcelos

A crônica ANIVERSÁRIO DE TERESINA PELAS TORRES DA SÃO BENEDITO despertou comentário e saudades do deputado federal Hugo Napoleão: "O seu artigo fez-me “remontar” aos idos de 1960. Teresina, bucólica e sempre linda, era aquilo mesmo.

Recordei-me, então, com saudades, dos idos de fevereiro de 1957, quando, menino, fui à inauguração da ponte (hoje chamada de JK) sobre o rio Poty. Desde criança, eu o atravessava de “pontão” para ir ao Itararé do Tio Pedro Freitas ou a José de Freitas (de quem, como sabe, sou bisneto). O DNOCS a construíra. Salvo engano, o meu Tio-Avô, João Martins do Rego, era o diretor em Teresina.

Fiquei a metros do presidente. Meu saudoso Pai, Aluizio Napoleão, lá estava. Era chefe do cerimonial. Viera, na comitiva, do Rio de Janeiro, no avião DC-3 da presidência da República.

Recordo-me que o governo esforçava-se para colocar paralelepípedos na Av. Frei Serafim, além da Miguel Rosa, a fim de que o Buick governamental pudesse passar. Esforço inútil. Em função do inverno, o carro deslizou e “sambou” até o rio.

Seguiram-se o almoço no Karnak, oferecido pelo governador Gaioso e Almendra e a decolagem para Fortaleza.

Desculpe-me, mas tenho o hábito de colocar maiúscula ao referir-me aos amigos e parentes. Abraço do leitor, modesto aprendiz e admirador."

Hugo Napoleão é um dos raros e notáveis homens públicos que descem de sua insigne posição para atender insignificantes como sou, mas cidadãos e eleitores exigentes. E não vem de agora a virtude do parlamentar. Ainda no primeiro mandato de governador, fora solícito em responder a um modesto bilhete, escrito a mão, que entreguei à guarnição militar de sua residência. Era sábado. Segunda-feira, 8 da manhã, telefonema do Karnak: "O governador solicita seu comparecimento, agendado para meio-dia." Eu, professor e diretor de escola particular, sugeria-lhe, no bilhete, criar uma universidade estadual, hoje UESPI. E não é que o governador elegantemente me ouviu? "O senhor não goza de muita popularidade entre os jovens. Que tal uma universidade com modestos investimentos, aproveitando prédios públicos?" Na época, as esquerdas batiam pesado no PFL do governador.

De seu gabinete, Hugo Napoleão telefonou ao secretário de Educação, Átila Lira, para esticarmos a ideia, em outro horário, da futura UESPI. Veja só, o bilhetinho pariu uma universidade. Mais tarde, um professor, que soubera do episódio, pediu informações para lançamento de um livro.

Quando se interagem cidadãos e representações políticas em objetivos sociais, todos ganham. Meu interesse não visava o faro do queijo. Ao deputado federal respondi, por email, solicitando-lhe mais desempenho, ele, cuja bagagem e oratória o fazem excelente tribuno. Hugo Napoleão não se engasgou com a espinha de peixe: "Ilustre professor, do meu I Phone, às 13.53, agradeci seus sempre valiosos comentários acerca de minhas atividades parlamentares e acrescentei que enviarei meus discursos de 2011, em publicação que sairá dentro de algumas semanas... Algumas proposições: criação da região das palmeiras, no norte do Estado, iniciativa que cria estímulos fiscais e outros da Grande Teresina; proteção ao consumidor injustamente punido pelo SERASA ou pelo SPC; autorização para que o Poder Executivo edifique uma Escola de Marinha Mercante em Parnaíba; criação da Frente Parlamentar Super-Sub pela construção naval, para a defesa nacional; criação de Subcomissão Permanente para acompanhar os projetos estratégicos das Forças Armadas; instituição, a nível nacional, do programa “Meu Primeiro Emprego”, que existiu ao tempo do meu 2º governo no Piauí, dentre outras como a valorização do vale do rio São Nicolau e a perenização dos rios Marataoan e Longá... O Brasil é a 6ª economia mundial. Mas não será 6ª potência enquanto tiver baixos índices sociais, IDH sofrível,  analfabetismo, e assim por diante, e enquanto não tiver forças armadas adequadas ..." Fiz alguns cortes para economia de espaço.

Se nossos políticos e gestores, em geral, cultivassem o hábito da prestação de contas e dos desafios dos cidadãos, sem temer a imprensa livre, o microfone aberto, todos lucraríamos, como cidadãos. Às vezes, um simples bilhetinho germina uma universidade pública. Claro, sem favorecimentos nem presunçosos dividendos pessoais.