sábado, 1 de setembro de 2012

ESTÓRIA A RESPEITO DA PRAÇA DA GRAÇA




Contracapa da revista Repaginando, ano I, nº 1, vendo-se ao fundo a pérgula da antiga Praça da Graça
Extraída da revista Repaginando, a foto mostra flagrante da comemoração da derrubada e queima dos tapumes, vendo-se, ao centro, Elmar Carvalho (sem camisa), os jornalistas Gláucio Rezende, Bernardo Silva e Iure Gomes


Vicente de Paula Araújo Silva “Potência”

Estávamos no ano de 1978, quando Parnaíba, tinha sido instituída como sede do 3º Pólo Turístico, mas não tinha autonomia para fornecimento de gasolina aos domingos. A Praça da Graça, até aquele ano, tinha uma arquitetura paisagística que encantava aos visitantes e orgulhava a gente parnaibana. Numa atitude bem intencionada, mas precipitada face a indisponibilidade financeira, o gestor municipal na época iniciou os trabalhos e não conseguiu dar continuidade aos mesmos, criando então um clima de revolta na cidade. Foi quando, na noite de 31 de agosto de 1979, há 33 anos, em conseqüência da campanha deflagrada pelo jornal INOVAÇÃO em favor da reconstrução da praça, aconteceram os fatos que constam no artigo abaixo, publicado em setembro daquele ano, na 22ª edição do pasquim citado.

Phb, 31.08. 2012

DA SÉRIE: MISSIVOS PARA SIMPLÍCIO DIAS

DA PRAÇA À GASOLINA OU A INOPERÂNCIA DOS NOSSOS POLÍTICOS AQUI E EM BRASÍLIA


Caro Fidalgo,



Aqui na Parnaíba, o que se fala no momento, é a respeito dos acontecimentos que embalaram e envolveram a queda da paliçada existente ali onde existiram a Lagoa da Onça e a Praça da Graça de saudosas lembranças. 

Embora fosse notória a revolta do povão em se ver privado do seu orgulho ao dizer com tanta convicção, que aquela praça era uma das mais lindas do norte e nordeste brasileiro, nunca se esperava que os fatos daquela noite chegassem a acontecer, como alardeava o “Zé Povo” nos instantes de explosão da revolta pela mutilação de que foi vítima o local. Foi mítica a maneira como aconteceu. Mas, como se sabe que a juventude é vibrante, e tendo sido ela quem encabeçou o gesto, justifica-se plenamente o modo rebelde que caracterizou a realização daquela ação popular. Particularmente, fico com Nelson Rodrigues, quando ele diz – “O óbvio, até mesmo o ululante, sempre acontece”. E, isso, nada mais que isso, ficou ratificado naquela noite de 31 de agosto, quando os estudantes com toda raça juvenil, queimaram os tapumes da fantasma obra de reforma da Praça da Graça, fato que certamente figurará nos anais de nossa história, como reedição de outras datas magníficas, em que estiveram no auge os valores e as glórias do povo parnaibano. 

Aliás, Simplição, desculpe a expressão ! A queda daqueles tapumes que escondiam a mentira da grande verdade, veio em boa hora tirar do sufoco a que estavam submetidos perante a opinião pública os nossos representantes políticos aqui e em Brasília, pelas suas inoperâncias nos momentos exigíveis em prol das causas que eles de fato e de direito deveriam defender. 

Esse é o caso da omissão da Parnaíba – sede do 3o Pólo Turístico Nacional – na listagem inicial das cidades turísticas granjeadas com o fornecimento de gasolina aos domingos, quando se sabe que até Sobral(CE), onde não existe um turismo incrementado, foi inserida graças à atuação oportuna dos seus líderes políticos. 

O interessante de tudo é que essa gente tenta ludibriar a boa vontade dos conterrâneos, dizendo-se atenta aos problemas e anseios do pessoal cá da terrinha. Mas, não tem nada não. O exemplo da queima dos tapumes da Praça da Graça, está aí dando mostra de que, hoje, o povo parnaibano, é consciente e seguro de suas pretensões, sabendo distinguir as tongas e milongas das manobras demagógicas daqueles que tentam iludi-lo. 

E assim, gente boa, vou ficando nestas próximas linhas, te dizendo que estamos em plena semana da pátria, na qual o povão parnaibano, participa orgulhosamente, tranqüilo e de peito lavado, ciente de que está cumprindo com o seu dever de cidadão brasileiro.

Cordialmente,

De Paula

BALADA DA PRAÇA DA (DES)GRAÇA (*)

Elmar Carvalho

Tábua após tábua
fica desnuda a praça
impunemente violada.
Surge, enfim, toda a desgraça
de uma praça arruinada,
que pedra por pedra
fora desfigurada.
Em seu solo sofrido
apenas carrapicho medra,
em sinal de protesto
pelo tristíssimo gesto
que lhe deixou em ruína.
Numa fúria ao mesmo tempo
diabólica e divina,
o povo cheio de uma
dor bem sentida e tristonha
destrói o “Muro da Vergonha”.
E a outrora Praça da Graça
aparece agora com crateras,
com lagoas, buracos e grotões,
relembrando as primitivas eras
em que em seus socavões
a onça bebia na Lagoa da Onça.
Meteram na praça uma geringonça
que destruiu sua beleza.
Sua lembrança tornara-se uma mágoa
no coração do povo parnaibano,
que deixando cair a pérola de água
como que regava suas
palmeiras ornamentais.
Mas no dia da vingança
da derrubada do “Muro da Vergonha”,
que impedia o povo de contemplar
a terra revolvida, o relógio
tombado, a pérgula arruinada,
o percorria as ruas
em verdadeiras passeatas marciais,
em olímpica apoteose,
sob o aceno das palmeira imperiais,
que antes choravam orvalhos
em prantos, lamentações e ais
pela ruína dos cimentos,
das pedras e dos cascalhos.

(*) Este poema foi publicado no jornal Inovação, nº 22, edição de setembro de 1979, comemorativa da derrubada do Muro da Vergonha, que era como eram denominados os tapumes que escondiam os escombros da Praça da Graça. Após este histórico episódio, o governo municipal se apressou em reconstruir o logradouro, embora em outro formato, que não tinha a beleza da velha praça. Foi republicado na revista Repaginando, Ano I, Nº 01, Maio/2011, Zen Editora, editada por Reginaldo Costa.

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