terça-feira, 25 de setembro de 2012

SENTIMENTO PRESO



SENTIMENTO PRESO


Francisco Miguel de Moura


Um sentir puro e preso - tortura
Marcada nos primeiros dias
De alguém que apenas nascia
Entre trancos e barrancos, o futuro
De olhos fixos nos braços,
Pedindo calor de peito e mãos,
Desgarrado dos primeiros tatos
Olhos feridos no segundo teto,
Em novas mãos e outros braços...


Calar pra sempre, quem condenaria?


Mas se um ferrão plantou-se noite e dia,
No fundo de dois corações?


E o que dizer, então? Num poema
Que ninguém vai ler nem ver?
Numa palavra só, balbuciada
Em vão, que ninguém quer saber?


Há culpa sem perdão? Não há.
Mas dúvida e covardia, sim.
E a indecisão imprecisa, fria
Da paixão a rolar e morder-se,
A-mor-da(n)çando sem guia?


Um sentir puro e preso tortura
Dois entes: o ser e a criatura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário