Fonseca
Neto
“...
nascida nos sertões de dentro, com a bravura de suportar vácuos sem
fim e solidões insolentes”.
Assim,
citando o professor A. Tito F.°, encerrei aqui a nota da semana
passada, referindo-me às celebrações dos 250 anos de Oeiras-cidade
e capital. Texto feito para apresentar a segunda edição do “Passeio
a Oeiras”, de Dagoberto Carvalho, jr, no qual, adensando o
fraseado, Tito F.° realça, da secular cidade, ser ela esculpida “no
sertão bruto, de chão glorioso, onde jazem heróis verdadeiros” e
assim “original” e “única”.
Fui a
Oeiras participar das aludidas festas no dia 24 de setembro e na
cabeça essas imagens do mestre Ari e seguindo o roteiro desse
“livro-poema” que faz evocativamente “peça lírica do
passado”, cada beco, calçada, portal, manuscrito, e, sobretudo, a
humanidade ali vivente. Fui ver a cidade do presente e palestrar
sobre as cidades que ela contem em sua multissecularidade.
Brava e
suportando vácuos sem fim e solidões insolentes? Chega-se ali e
encontra uma cidade de franjas fervilhando, com visíveis
acelerações, muito parecida com qualquer cidade sertaneja de seu
porte. Adentra-se o sítio urbano original e sentimo-la calma,
silenciosa,a descortinar os elementos estéticos marcados no diverso
porfiar de seus arteiros. Sugere que paremos para ouvir suas
narrativas saindo de todo canto e cantaria, suas histórias,
encanterias. No meio do largo maior, sagrado e profano, pulsa a
Europa lusa, entre medieval e mercantil. É preciso apurar as vistas
e afinar oiças para se perceber as matérias essenciais no vácuo
aparente e se descobrir o insinuar insolente de suas solidões.
O passeio
festivo da semana passada, recordando a titulação da vila da Mocha
em cidade de Oeiras, capital do Piauí, movido em vagas das mais
significativas memórias da localidade, constituiu um exemplo disso
tudo.
Reunidos
dentro e fora do antigo palácio dos presidentes provinciais – o
Sobrado Major Selemérico de hoje – assistimos a entrega ao oficial
do Instituto Histórico de Oeiras (IHO), pelo atual secretário de
Governo, do decreto de cidade-capital, a ser relido por
“bando”.Recebido pelo oficial-leitor, na forma da tradição de
1762, da janela-sacada do edifício, fez ele sua releitura
solene,antecedida do canto/execução do hino da cidade. Decreto
firmado pelo primeiro governador,o português João Pereira Caldas,
com o “republique-se” do atual, o oeirense Wilson Nunes Martins.
Num dos salões foi descortinado o quadro-documento com os textos
setecentistas assinalados.
Feito
isso, puxada pelos dobrados da banda Santa Cecília, partiu a
procissão cívica em direção da antiga Casa de Câmara e Cadeia,
hoje sede da Prefeitura, para um segundo “bando” ou pregão.
Depois rumou-separa o adro da Igreja da Vitória, onde o terceiro e
último “bando”. Aqui, ele se fez às seis horas da tarde em
ponto, ante um poente completamente tomado de esplendor arroxeado –
e tinha que ser roxo o fim desse outro passeio – deixando para trás
uma tarde muito quente. Enquanto um grupo de devotos cantava o terço
da hora do Ângelus no interior da catedral, a banda puxou a
“Aquarela do Brasil” e um performático dançou no meio da grande
roda dos comemorantes.
Deslocaram-se
logo todos para o interior do cineteatro. De novo a apresentação da
Banda, depois os Bandolins de Oeiras; palestra; coquetel. Colheu-se a
ocasião para a posse do bispo d. Juarez Sousa e do secretário
Wilson Nunes Brandão como sócios efetivos do Instituto Histórico e
Geográfico Piauiense (IHGP). O IHO anunciou as festividades alusivas
de seus 40 anos. A Confraria entregou diploma. De tudo se fez muitas
fotografias. E atas.
Com
praticamente todos os sócios presentes, o IHO foi o organizador
principal de tudo, junto com a Confraria Eça-Dagobertiana da cidade.
O Governo do Estado e o IHGP, no nível das responsabilidades
respectivas, também compartilharam a grandeza do evento. E sobretudo
muitos estudantes e professores a tudo assistiram. Vereadores, o
promotor da comarca, além do presidente da Fundação Nogueira
Tapety.
Tal a
velha Goiás, ex-capital enraizada em sertanias, Oeiras é invicta,
cheia de charme. E não se entrega à insolência das solidões.
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