quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

AS MUDANÇAS DO NATAL



Francisco Miguel de Moura *

Abriu-se a  janela:
No emaranhado de folhas
 um sol resplandece
regina ragazzi



Machado de Assis termina um poema com esta chave de ouro: “Mudaria o Natal ou mudei eu?” É preciso meditar sobre isto. Todos nós mudamos. E a festa do nascimento da mais sábia, bela e doce pessoa que veio mundo – Jesus Cristo, o filho de Deus?  O fato histórico não mudou, o comportamento dos homens é que mudam com as circunstâncias do tempo. Sobre os natais de quando eu era criança, não vou falar: ninguém vai querer ler nem ouvir, quanto mais acreditar. 

Comecemos por hoje. Algo que me aborrece por esta época é o verbo “comprar”. Tudo vira propaganda, tevê, internete, lojas, carros de som nas ruas. Os “shoppings”, então!... Mostram o Papai Noel, a Árvore de Natal. São os símbolos.  Até as livrarias. Entrei numa delas, a melhor da cidade, e o que encontro bem de frente? Uma árvore de Natal formada por uma pilha de livros. Até aqui tudo bem, deveria ser muito interessante. Mas, depois de observá-la, não me convenceu de forma alguma. O título do livro, daqueles volumosos, 300/400 página, eram um só, e o autor um só. Não me demorei ao pé porque vi que se tratava de um tremendo “best seller” tipo americano, que certamente são romances de bruxas ou de vampiros – assuntos que enchem as prateleiras das lojas para iludir os tolos. Os tolos que eu digo são aqueles maus leitores que compram o livro exclusivamente pela propaganda da mídia. A mídia quer vender, ela não tem nenhum interesse em que os leitores, pensem, sintam, cresçam com histórias que têm lições de vida, de gente, de almas, quando não tratam de tempos passados e traçam a história com algumas descobertas empolgantes (no caso dos livros históricos). 

Se a pilha fosse de Bíblias, livros de proveito e exemplo para crianças e adolescentes, alguns clássicos antigos e modernos – que tantos há e ficam encalhados, escondidos nos lugares mais difíceis da loja, parece que para ninguém vê-los nem ter vontade de abrir e ler uma página sequer, seria louvável. Aponto livros de criança porque Natal é festa muito especial para crianças, festa de nascimento. 

E qual o nascimento que se comemora na data de 25 de dezembro?  De Jesus. Ele nasceu em Belém da Judeia e se tornou (ou já era?) a pessoa mais importante do mundo em que o Império Romano pagão dominava com suas guerras. Jesus viveu com seus pais em Nazaré, sua aldeia e aprendeu tudo com Maria e José. Ficou trabalhando com este, na oficina de carpinteiro, até os 12 anos. 

Registra o evangelista Lucas: “Seus pais iam todo ano a Jerusalém para a festa da Páscoa. Tendo ele atingido os doze anos, subiram a Jerusalém, seguindo o costume. Acabados os dias de festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais percebessem (...) Três dias depois o acharam no Templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e os interrogando. Todos os que o ouviram estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas”. 

Nem todo mundo é católico, mas não pode desconhecer a história edificante de Jesus, o quanto pregou aos povos do seu tempo. Sem ser revolucionário político, dizia “não vim revogar a lei de Moisés, mas apenas aperfeiçoá-la”. De suas pregações, o “Sermão da Montanha” é o mais conhecido pela sabedoria que encerra em poucas palavras. Sua revolução foi trazer à humanidade o mandamento do amor. Antes, com os judeus, tudo era na base do “dente por dente, olho por olho”. O papa Bento XVI, em seu livro sobre a “Infância de Jesus”, entre outras coisas, retifica que “Maria deu à luz a Jesus entre 7 e 6 anos antes de Cristo”. Daí trazer a revista VEJA, de 28 de novembro de 2012, uma reportagem com o título “JESUS NASCEU ANTES DE CRISTO”. Explique-se: a Era Cristã, o ano nº l, começa depois do nascimento de Jesus, em virtude da confusão do calendário gregoriano, feito vários séculos depois do nascimento de Jesus. A retificação leva em conta a tradição, os evangelhos e a conjugação destes com a estrela“supernova”, cuja explosão aconteceu coincidentemente com a visita dos magos do Oriente ao menino Jesus. 

Agora, a pergunta: - Por que não comemorar tão grande feito, o de Jesus, o seu nascimento, em lugar de colocar um tal de Papai Noel que vagueou pelas névoas da Rússia e adquiriu outros costumes e hábitos que não são os da nossa tradição oral e escrita, ocidental e bíblica?

Porque o materialismo alijou os sentimentos da alma, dominada por uma civilização global, descartável, em que tudo se troca pelo poder e pelo dinheiro, na qual parece ridículo ser religioso, acreditar em verdades eternas. Muitos que invocam, hoje, o nome de Deus, o fazem em vão. Sobre o amor, meu Deus, quem já não viu e ouviu tanta barbaridade, nestes tempos de idéias tão grosseiras, tão sem rumo?!  Os filósofos se foram, os poetas estão indo, e os santos?... Quantos são os santos? Sabemos quem são os pecadores: aqueles que não cantam o poder de Deus e da Natureza, que não pensam numa eternidade, numa vida diferente depois da morte. E por isto abraçam a guerra, as orgias, os vícios desde os mais simples aos mais torpes. Não têm nem um pouco de humanidade. Quem quer saber de uma comemoração bem comportada do Natal?  O Natal histórico e religioso não mudou, repito. 

Começamos com Machado e com ele terminaremos a nossa crônica. Esse grande escritor, no leito de morte, olhando uma nesga de céu pela janela ciciou para seu melhor amigo e confidente: “A vida é boa”.  Deus, sendo como é a fonte da vida deve tê-lo perdoado.  A nostalgia do homem é não ser Deus. Mas somos um pedaço de Deus, somos filhos de Deus, irmãos de Jesus, seu filho querido e escolhido para vir salvar o mundo, com a pregação do amor. Natal é amor. Não é troca. Portanto, a melhor atitude diante do Natal é saudar o próximo, os vizinhos, a família e comungar a vida, a natureza e a sociedade humana, mirando-se na sabedoria e santidade de Jesus.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta e cronista brasileiro, mora em Teresina - Piauí e envia votos de Feliz Natal e Próspero 2013, com abraços a todos os seus leitores.

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