José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Na
passagem de ano, ligeiro sentimento mórbido toca-me o espírito e a
imaginação, embora recheios de mesa, alegrias, abraços e
congratulações. Mensagem do alto bate-me à porta avisando que o
tempo ficou mais curto e fugaz por aqui. Como diz a canção: "O
tempo passa e com ele caminhamos juntos, sem parar. Marcas do que se
foi..."
Cada ano se esvai como a estação. Outro chega, alvissareiro,
exigindo consertos e reparos. Por algum momento, é preciso fugir às
luzes da ribalta, aos festejos e espumantes, recolher-se em
silencioso recôndito. Saudável concentração, prece,
agradecimentos ao Senhor da vida, a bênção e muitas lições.
Augúrios, agouros, presságios, prognósticos, diagnósticos,
filtrados ou dirimidos.
Ano
novo sem se renovar, em vão festas mil e congratulações. O ano que
se vai clamou por dias melhores, que se repetirão no outro que se
descortina.
Ao
convite do prefeito eleito, Jesualdo Cavalcanti, para sua posse em
Corrente, respondi: "Nobre prefeito, parabéns pelo retorno ao
poder. Admiro-lhe o talento e formação. Eu lhe cobro, porém, em
nome de Deus e do Brasil, administração com honra e dedicação ao
cargo, aos dons recebidos. Porque os talentos serão cobrados pelo
severo tribunal divino, acredite nisso, se quiser. Porque o dos
homens vale quanto pesa a grana por liminares espúrias. O Brasil
clama por uma varredura moral. Comece por você, dando exemplo de
dignidade. Os anjos dirão amém, e a sociedade o aplaudirá.
Desculpe meu estilo de lealdade nas palavras." Parece recadinho
de vovó pé de altar. Mas quanta valia! Se eu alcançasse milhares
de prefeitos eleitos no Brasil, repetiria os mesmos augúrios.
Infelizmente, perde-se a vergonha de proclamar o nome de Deus em
momento tão delicado por que passa a nação. Principalmente para
quem já perdeu a vergonha de ter vergonha.
Uma turma desalinhada com princípios do bem instalou-se na pirâmide
social e só produz maus presságios: Fora a vergonha, "Deus é
ópio do povo", fora o ensino religioso nas escolas. Manifestam
desmoralizantes condutas com tibieza nos princípios éticos. Caras
de pau, cinismo hediondo contra a dignidade nacional e ao patrimônio
público. Quem se atreve à heroica coragem de João Batista, a
denunciar, frente às narinas de Herodes, sem temer a degola?
Passagem
de ano, festas, mesas fartas, rojões. Sem um momento de reflexão,
propósitos de conserto, em vão as alegrias, tão fugazes quanto o
tempo.
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