sábado, 12 de janeiro de 2013

Vegetação na laje dos edifícios?



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com


Louco eu, por gostar de cultivar plantas e hábitos esquisitos à maioria das pessoas? Basta um vasilhame vazio na lixeira - nada de desperdício - logo me desperta a criatividade: utilizo-o para enchê-lo de estrume, semear alguns caroços ou sementes. Dias depois, explode a vida, como fantástico mistério do grão de mostarda. Modesto copo plástico me induz um pezinho de mamão, quiabo, maxixe, transplantados, mais tarde, para canteiro definitivo. Quebro até cimento, em proveito de uma fruteira e a sombra. Aproveito folhas, resíduos de café, cinza na produção de adubo. Meses após, o resultado maravilhoso do suor derramado: uma salada do quintal. Preparo-a com folhas de quiabo, picadas e cozidas ao vapor da cuscuzeira. Quantidade racional de azeite de azeite de oliva e condimentos. Pronto, sirvo-me, sirva-se. Adeus àqueles puns repugnantes de quem só consome alimentos industrializados e carnes. Em ambiente de trabalho, o colega solta gases tóxicos? Receite-lhe salada com folhas. A/bunda/ntemente.
Transformei minha velha piscina de 12 metros, que só me dava despesas e dores de cabeça com incômodas visitas, em imenso canteiro. Minhas galinhas adoram cascas de ovos, cascas de bananas, toda sobra alimentar da cozinha. "Nada se perde, tudo se transforma" no reino da natureza.
Um recado aos mestres da engenharia e arquitetura: criem condições para suavizar a temperatura elevada da cidade, transformando a plataforma de cobertura dos prédios em pomares de pequeno porte. Se todos os edifícios dispusessem de canteiros na laje superior, juro que a vegetação absorveria boa parte do calor escaldante. O governador Alberto Silva pregou a utópica ideia, que não floresceu. Somente a consciência ambiental se proporia a mudanças estéticas e prazerosas em prol da natureza. Modelos de prédios com plataformas ecológicas já se constroem em algumas metrópoles. Pássaros festejam a criação.
Cultivar plantas frutíferas e alimentos naturais conjugam a atividade física mais saudável da história humana. A farmácia mais completa. Fonte de longevidade. Vida prazerosa e encantamento com o milagre da vida. Infelizmente, a classe social endinheirada, proprietária de sítios, só sabe utilizar paradisíacos recantos a badalação em final de semana. Pior, sem a participação da família nos mínimos hábitos do campo. Solução: passar para frente a propriedade a deixá-la no poder de irresponsáveis caseiros.
Somos produtos da terra(húmus), humanos. Ao húmus retornaremos. Quando nascemos, encontramo-lo cultivado. Ao despedirmos, um dia, outros continuarão a nossa tarefa, acrescentada.
O contato com a natureza aproxima-nos do Criador, revela-nos sua grandeza. Somos partícipes da criação, e não da destruição. Às vezes, num simples vasilhame cheio de húmus, um caroço ou semente arrebenta-se de mistério, como num grão de mostarda. Só um louco não percebe tamanha grandeza. E louco, eu não.

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