SINTO
QUE O MÊS PRESENTE ME ASSASSINA
Mário
Faustino (1930 - 1962)
Sinto
que o mês presente me assassina,
As
aves atuais nasceram mudas
E
o tempo na verdade tem domínio
Sobre
homens nus ao sul de luas curvas.
Sinto
que o mês presente me assassina,
Corro
despido atrás de um cristo preso,
Cavalheiro
gentil que me abomina
E
atrai-me ao despudor da luz esquerda
Ao
beco de agonia onde me espreita
A
morte espacial que me ilumina.
Sinto
que o mês presente me assassina
E
o temporal ladrão rouba-me as fêmeas
De
apóstolos marujos que me arrastam
Ao
longo da corrente onde blasfemas
Gaivotas
provam peixes de milagre.
Sinto
que o mês presente me assassina,
Há
luto nas rosáceas desta aurora,
Há
sinos de ironia em cada hora
(Na
libra escorpiões pesam-me a sina)
Há
panos de imprimir a dura face
À
força de suor, de sangue e chaga.
Sinto
que o mês presente me assassina,
Os
derradeiros astros nascem tortos
E
o tempo na verdade tem domínio
Sobre
o morto que enterra os próprios mortos
O
tempo na verdade tem domínio,
Amém,
amém vos digo, tem domínio
E
ri do que desfere verbos, dardos
De
falso eterno que retornam para
Assassinar-nos
num mês assassino.
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