segunda-feira, 22 de abril de 2013

Altos



Fonseca Neto

Da cidade assim chamada para a capital do Piauí são apenas 40 quilômetros. Entre aquela e esta, uma estrada de rodagem asfaltada e um verde triunfal de encher olhos: caminho que vai ganhando sentidos de alameda sinuosa, que ora faz olhar à esquerda, mais à frente, à direita. 
Indo de uma para a outra, e assim mirando o passeante a paisagem que se faz fugidia, verá pelos lados, terreiros, mourões e porteiras. Lá por entre aqueles serrotes, o pórtico colmeico da penitenciária do César. E lá naquela boca de mata, a estrela chã se levantando aos céus, capela das devoções, penitência dos sitiantes. Há moradas, moradias e vida comunitária à beira do caminho.
São marcas de coisas que ficam em nós quando rumamos de Teresina para Altos, cidade sertã que sente o “cheiro” da Capital; que, ao “cismar, sozinha, à noite”, noites claras agostinas, vislumbra o amarelão das nuvens, do luzeiro poenteiro, da chapada sem corisco. 
Altos, bela Altos, que os de lá dizem de João, de Paiva e de São José. De lá tiraram as Coivaras, o Pau d’Arco e a Prata, das nascenças do bom Zé. 
Altos é a cidadela piauiense exemplar, por suas fazenças fundantes, nos planaltos potienses: porque trocou pequizal por mangueira, estrangeira, se fez de roça em cidade, o paivanado em paróquia. Católica essa Altos de João e José, filha das freguesias primevas e do derredor mariano, dos Humildes, do Desterro, do Amparo e Livramento.
Assim também exemplar, por seu arruado original se elaborando pela irradiação de caminhos que partem da igreja e do adro central. Sim, pelas histórias de seu povo, operariando coletivamente o devenir, sabe-se que o lugar acolheu muito agregado, enquanto seus caminhos de gadaria viravam vias vitais – aquela do rumo de Campo Maior, aqueloutra pro curato do Longá, outra mais que vai pras bandas do Estanhado. A criação de Teresina, e já antes o arraial da Barra do Poti, orientaram a abertura de outra senda rumando à novacap. Ora, erguida Teresina, na barranca do Parnaíba, essa ligação com a Altos-embriã, qual cordão umbilical, nutrirá a gravidez da municipalidade altoana que logo luzirá. E já quando anoitece o Oitocentos, mas ainda fazendeira a república, já por ali há escola, padre, reisado e comércio, além da Repartição coletora.  
Altos é cidade pequena. Tão próxima de Teresina e tão – milagrosamente – protegida da conurbação insinuante. Curtir uma sacada em suas ruas velhas, o casario baixo, geminado e sem assobradações horrorosas, assim o tatear sensível que faz capturá-la em suas rugosidades essenciais, é exercício que reacende as silhuetas das cidadelas que habitam nossa memória. Nossa, dos nascidos e vividos em cidadezinhas imorredouras, edificadas em pedra e cal, viveres e saberes, soantes/consoantes, no meado do “breve” século XX. 
Faço essa concertação sobre Altos, em que pese não conhecê-la tanto assim. Dela, tenho sido apenas um desses passantes. Já estive palestrando, lá, com Kennedy; almoçando com Luís Inácio, Weffort e Meireles.
Estive, porém, certa vez, um dia inteiro por lá, ainda eu um jovem advogado, acompanhando um amigo que se chama Chico Paiva – Francisco de Paiva Dias. Este andava apreensivo, no antigo Colégio Agrícola, pela perda suposta de um “tempo de serviço” que prestara à Prefeitura, como “foguista” numa velha Usina de Luz da cidade. Fomos e procuramos Felipão, o prefeito, amigo dele de infância, o qual determinou a abertura dos arquivos empoeirados da Secretaria para a busca pretendida. E mover aquela papelada prefeitural altoana, equivalia a buscar agulha em palheiro. E deu certo. Imagine como é o registro do ponto de quem bota fogo na Usina. Estava apontado e redigi no gabinete do prefeito a Certidão: Chico servira a seu município parece que no tempo do prefeito Anísio.
São instantes da vida e desse quilate que movem as recordações e reacendem o estopim memorial em tantas buscas. E nesta, em particular, guiaram-me também as cuidadosas pesquisas do professor Carlos Dias.
Do que de tudo vale aclamar um Viva Altos de Chico Paiva. E bons Dias!

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