Fonseca Neto
Da
cidade assim chamada para a capital do Piauí são apenas 40
quilômetros. Entre aquela e esta, uma estrada de rodagem asfaltada e
um verde triunfal de encher olhos: caminho que vai ganhando sentidos
de alameda sinuosa, que ora faz olhar à esquerda, mais à frente, à
direita.
Indo
de uma para a outra, e assim mirando o passeante a paisagem que se
faz fugidia, verá pelos lados, terreiros, mourões e porteiras. Lá
por entre aqueles serrotes, o pórtico colmeico da penitenciária do
César. E lá naquela boca de mata, a estrela chã se levantando aos
céus, capela das devoções, penitência dos sitiantes. Há moradas,
moradias e vida comunitária à beira do caminho.
São
marcas de coisas que ficam em nós quando rumamos de Teresina para
Altos, cidade sertã que sente o “cheiro” da Capital; que, ao
“cismar, sozinha, à noite”, noites claras agostinas, vislumbra o
amarelão das nuvens, do luzeiro poenteiro, da chapada sem corisco.
Altos,
bela Altos, que os de lá dizem de João, de Paiva e de São José.
De lá tiraram as Coivaras, o Pau d’Arco e a Prata, das nascenças
do bom Zé.
Altos
é a cidadela piauiense exemplar, por suas fazenças fundantes, nos
planaltos potienses: porque trocou pequizal por mangueira,
estrangeira, se fez de roça em cidade, o paivanado em paróquia.
Católica essa Altos de João e José, filha das freguesias primevas
e do derredor mariano, dos Humildes, do Desterro, do Amparo e
Livramento.
Assim
também exemplar, por seu arruado original se elaborando pela
irradiação de caminhos que partem da igreja e do adro central. Sim,
pelas histórias de seu povo, operariando coletivamente o devenir,
sabe-se que o lugar acolheu muito agregado, enquanto seus caminhos de
gadaria viravam vias vitais – aquela do rumo de Campo Maior,
aqueloutra pro curato do Longá, outra mais que vai pras bandas do
Estanhado. A criação de Teresina, e já antes o arraial da Barra do
Poti, orientaram a abertura de outra senda rumando à novacap. Ora,
erguida Teresina, na barranca do Parnaíba, essa ligação com a
Altos-embriã, qual cordão umbilical, nutrirá a gravidez da
municipalidade altoana que logo luzirá. E já quando anoitece o
Oitocentos, mas ainda fazendeira a república, já por ali há
escola, padre, reisado e comércio, além da Repartição coletora.
Altos
é cidade pequena. Tão próxima de Teresina e tão –
milagrosamente – protegida da conurbação insinuante. Curtir uma
sacada em suas ruas velhas, o casario baixo, geminado e sem
assobradações horrorosas, assim o tatear sensível que faz
capturá-la em suas rugosidades essenciais, é exercício que
reacende as silhuetas das cidadelas que habitam nossa memória.
Nossa, dos nascidos e vividos em cidadezinhas imorredouras,
edificadas em pedra e cal, viveres e saberes, soantes/consoantes, no
meado do “breve” século XX.
Faço
essa concertação sobre Altos, em que pese não conhecê-la tanto
assim. Dela, tenho sido apenas um desses passantes. Já estive
palestrando, lá, com Kennedy; almoçando com Luís Inácio, Weffort
e Meireles.
Estive,
porém, certa vez, um dia inteiro por lá, ainda eu um jovem
advogado, acompanhando um amigo que se chama Chico Paiva –
Francisco de Paiva Dias. Este andava apreensivo, no antigo Colégio
Agrícola, pela perda suposta de um “tempo de serviço” que
prestara à Prefeitura, como “foguista” numa velha Usina de Luz
da cidade. Fomos e procuramos Felipão, o prefeito, amigo dele de
infância, o qual determinou a abertura dos arquivos empoeirados da
Secretaria para a busca pretendida. E mover aquela papelada
prefeitural altoana, equivalia a buscar agulha em palheiro. E deu
certo. Imagine como é o registro do ponto de quem bota fogo na
Usina. Estava apontado e redigi no gabinete do prefeito a Certidão:
Chico servira a seu município parece que no tempo do prefeito
Anísio.
São
instantes da vida e desse quilate que movem as recordações e
reacendem o estopim memorial em tantas buscas. E nesta, em
particular, guiaram-me também as cuidadosas pesquisas do professor
Carlos Dias.
Do
que de tudo vale aclamar um Viva Altos de Chico Paiva. E bons Dias!
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