O rio de
minha terra
Herculano
Moraes (1945)
O rio de
minha terra é um deus estranho.
Ele tem braços, dentes, corpo, coração,
muitas vezes homicida,
foi ele quem levou o meu irmão.
Ele tem braços, dentes, corpo, coração,
muitas vezes homicida,
foi ele quem levou o meu irmão.
É muito
calmo o rio de minha terra.
Suas águas
são feitas de argila e de mistérios.
Nas solidões das noites enluaradas
a maldição de Crispim desce
sobre as águas encrespadas.
Nas solidões das noites enluaradas
a maldição de Crispim desce
sobre as águas encrespadas.
O rio de
minha terra é um deus estranho.
Um dia ele
deixou o monótono caminhar de corpo mole
para subir as poucas rampas do seu cais.
Foi conhecendo o movimento da cidade,
a pobreza residente nas taperas marginais.
para subir as poucas rampas do seu cais.
Foi conhecendo o movimento da cidade,
a pobreza residente nas taperas marginais.
Pois tão
irado e tão potente fez-se o rio
que todo um povo se juntou para enfrentá-lo.
Mas ele prosseguiu indiferente,
carregando no seu dorso bois e gente,
até roçados de arroz e de feijão.
que todo um povo se juntou para enfrentá-lo.
Mas ele prosseguiu indiferente,
carregando no seu dorso bois e gente,
até roçados de arroz e de feijão.
Na sua
obstinada e galopante caminhada,
destruiu paredes, casas, barricadas,
deixando no percurso mágoa e dor.
destruiu paredes, casas, barricadas,
deixando no percurso mágoa e dor.
Depois
subiu os degraus da igreja santa
e postou-se horas sob os pés do Criador.
e postou-se horas sob os pés do Criador.
E desceu
devagarinho, até deitar-se
novamente no seu leito.
novamente no seu leito.
Mas toda
noite o seu olhar de rio
fica boiando sob as luzes da cidade.
fica boiando sob as luzes da cidade.
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