terça-feira, 7 de maio de 2013

Semana do Henrique



Fonseca Neto

Já uma dúzia de anos vividos para dentro do século 21, a pessoa que nasce atualmente tem perspectiva de alcançar o século 22. Caso mude a forma de marcar a passagem das eras –quem sabe outra maneira de calendariar a experiência humana– aportará ao tempo que a tanto for equivalente. E viverá a fluente centúria quase que inteiramente. 
Dois bons exemplos: Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho (1907-2012) e Eric John Ernest Hobsbawm (1917-2012), homens que nasceram no alvorecer de um século e transpuseram os umbrais do seguinte; existem, sem dúvida, outros exemplos, noutros cantos e recantos do ecúmeno. 
Aliás, faz-se oportuno invocar essas duas figuras humanas solares para falar de vida e do século que foi, que passa e que vem, pois artistas sensíveis às coisas que correm nas vagas do tempo. Lembrou Oscar, à poética do simples aparente, amante de todas as curvas: “A vida nos leva pra onde ela quer. Cada um vem, escreve sua historinha e vai embora. Não vejo segredo em levar a vida [mas a] gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem”. 
Já Eric, cerebral, o coração ferido pelas guerras da “era dos extremos”, ensinou: "A revolução cultural de fins do século XX pode assim ser mais bem entendida como o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, ou melhor, o rompimento dos fios que antes ligavam os seres humanos em texturas sociais". E aponta uma tarefa: “‎A injustiça ainda precisa ser denunciada e combatida. O mundo não vai melhorar sozinho”.
Estamos no ano de número 2.013 na contagem proposta pelos cristãos, num mundo cujas forças atemporais em movimento, seus viventes tentam decifrar e dominar. Universo que relampeja e trovoa, e, assim, inspira novas vidas e sugere finitudes abissais. Num lugar particular a que chamamos Piauí, onde correm os rios, idem, Parnaíba e Poty –três nominações aprendidas dos falares da humanidade ancestral que aqui viveu em tempos longos e não contados.
O agora chegado por aqui, semana chuvosa que passou, tem, descortinado ante si, um mundo sem idade, pois o leito em que se move é uma “via” lactante e em translação parece que perene. Mundo que explode em vidas, em formas formidáveis delas. Claro, em mortes. Enfim, pois, a província e os provincianos que passam são “o pó dos pósteros”, tal nos lembra, do ludovico Maranhão, o iluminado equinocial poeta, Nauro Machado.
Tramas? É viver o receituário de Oscar e Eric; sonhar e lutar: par vocabular, cheio de polissemia, que abriga campos de possibilidades infindas para elaborar caminhos a seguir. Ainda que já feitos, caminhos a fazer com os pés que nascem para novas jornadas. Sonhar, porque é preciso existir amanhã; lutar, porque o ontem e o hoje, criadores de belezas e modos indescritíveis de existir, legaram, porém, estoques de desesperança na construção do Justo.  
Perfeição? O Deus da fé de cada criatura e coletividade; sopro esperançoso de todo vivente. Vivente, só? As pedras seriam as esquecidas Dele? Não, as maravilhas preciosas esculpidas no coração delas, fartas em cor e consistência, encerram partículas vagantes do Cosmo.
O que há pela frente, por vir? O “retornar eternamente”? Ninguém tem a resposta que não seja apenas um modo de desejar. O chamado “progresso científico” é escravo das forças da vida quanto da morte, nisto não inovando nessa espécie de busca da condição perfeita, pós Sol e pós Lua, isto é, superada a dualidade que move matéria e alma na História, as forças vívicas, solares, e as forças danadas, lunares...
Mas algo integra as sensações do cosmos e confere sentido à experiência dos viventes: a própria vida, ainda que seu significado seja realçável, para não poucos, quando fina, inexorável.
Agora nasceu o Henrique Fonseca Ayres. Terá um século para viver. E se advinda alguma forma de imortalidade-corpo? Queira somente se a quiser servida a todos os viventes essenciais à caminhada. Seja sonhador e lutador; seu século um palco luminar. Amar/ante, antes: beira-rio, franciscana, é uma sua referência avoenga e “é um céu, se há um céu sobre a terra”.

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