sexta-feira, 7 de junho de 2013

Quilo de fava a 20 reais, maxixe e quiabo a 5?


José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Dezenas de órgãos públicos dirigidos à atividade agrícola e meio ambiente. Municipais, estaduais, federais, perdi a conta. Maior a quantidade de funcionários e gestores, sem contar os que não batem ponto. Generosos contracheques, quase sempre para adubar o campo do dolce far niente.
Entro no supermercado, espanto: Quilo de maxixe ou quiabo: 4.99; chegou a 8 noutro supermercado. Pimenta de cheiro disputando preço da carne de primeira. Essas hortaliças desenvolvem-se rápido, até em pé de muro. No Mercado da Piçarra, quilo de fava 20 reais, valor de picanha! Bastam três sementes plantadas. Após um mês, a folhagem esparrama-se nas cercas e garranchos, generosa produção, verde e saborosa com arroz, pimenta de cheiro, azeite de coco.
O salário de um secretário ou delegado da Agricultura daria para plantar centenas de pés de feijão, fava, quiabo, maxixe, ainda colher toneladas dos produtos. Quer prova? Passe-me o contracheque. Garanto milagre da multiplicação. Vai sobrar grana, como as cestas milagrosas dos pães e peixes.
Promoveu-se, em Teresina, a Semana Ambiental, pelo Dia Mundial do Meio Ambiente. Temas debatidos, entrevistas, prometidos projetos. A mesmice todo ano, resultados pífios. Secretário Macambira culpando a Prefeitura por não fiscalizar e punir residências e empresas que despejam porcarias no rio Parnaíba, além das centenas de esgotos e galerias da capital desembocando no rio. Problema histórico, segundo Macambira. Ou macabra morte do manancial, secretário?
A consciência ambiental não se resume a uma visão poética de sustentabilidade e preservação da natureza. É preciso partir para o campo, plantar, explorar as riquezas, racionalmente, conforme o Criador nos ordenou desde o começo do mundo. Terras e rios do Piauí, sem falar nos aquíferos subterrâneos, poderiam render monumental produção de alimentos para consumo nacional e exportação. Mas a dádiva divina vira contracheques e desvios de metas e objetivos.
Nesta semana, jornalista Francisco José, da TV Globo, veio a Teresina para ministrar palestra, no simpósio de jornalismo ambiental, e receber título de cidadão piauiense. Merecidamente. Outros recebem pelo tributo à bajulação. Francisco José especializou-se em reportagens sobre meio ambiente. "Adoro o tema...Descobri que o Nordeste, minha terra, tem mais belezas a oferecer do que a seca... Produzi matéria sobre o Delta do Parnaíba, Serra Vermelha e Serra das Confusões, me encantei. Voltarei ao Delta. Irei ao Cânion do rio Poti... No Brasil, só preservam a natureza as pessoas, empresas e instituições sem fins lucrativos. A Serra da Capivara é acompanhada por instituição francesa e dedicação de Niéde Guidon. O setor público só tem projetos... O Piauí tem uma das mais belas paisagens... Já fiz cinco reportagens, virei mais."

Cultivando e criando no meu pedacinho de terra, eu me extasio, só de contemplar uma berinjela, um prato de salada. Porém, revolta-me o dinheiro público desviado, mais contracheques plantados do que sistemas de irrigação. Explica-se o elevado preço de modestos produtos, como maxixe, quiabo e fava.

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