Fonseca
Neto 15/07/13
Estudei
a vida inteira em escola pública: o curso primário, fiz em Passagem
Franca, onde nasci; depois, três anos ginasiais numa escola
fundacional ligada à paróquia de Colinas, MA; em Teresina concluí
o ensino médio no Liceu Piauiense; graduei-me e fiz mestrado, na
Ufpi; agora o doutoramento na Ufma.
Na
Passagem, depois de estudar a “carta de abc” e a “cartilha”,
na escolinha Getúlio Vargas, fui para o primário na escola Clodomir
Cardoso, funcionando em salões alugados. No dia 12 de julho de 1963,
a cidade inaugurou o seu primeiro prédio escolar e nele criada uma
nova escola, o Grupo Escolar Estado do Paraná. Fiz nela do primeiro
ao quinto ano primário –com breve passagem pela escola paroquial
Pio XII.
Agora
completando 50 anos da inauguração “do Paraná”, as lembranças
batem. Por isso escrevo. Eu fazia o 2º ano no dia da inauguração,
um prédio enorme para a cidade: quatro salas de aula, boas e
arejadas, piso “mosaico” (quadro negro na parede), diretoria,
cantina, sentinas e um grande salão de recreio. Tempo de férias,
mas todos fomos chamados à escola, pela manhã, de farda, porque
haveria – como houve – distribuição de material escolar e
merenda. A parte solene ficou para “gente grande”: professoras,
prefeito, padre, pais. Cada sala recebeu um nome: a do 1º ano,
“Raimundo Correa”; do 2º (?); 3º, “Padre Manoel Oliveira”;
4º, “Padre Vicente Britto”; 5º/diretoria, “Governador Newton
Bello”; salão de recreio, “Senador Vitorino Freire”.
Lembro
que, naquela manhã, recebemos das mãos das professoras e das filhas
do prefeito, cadernos novos, lápis, borracha – mas o mino maior, a
“máquina de fazer ponta de lápis”, só para professores...
Houve mais de uma rodada de distribuição de bombons “sortidos”.
Nossas carteiras novas eram muito bonitas (“cimo”), daquelas que
sentavam dois estudantes em cada uma, com um engavetado para guardar
os materiais, a cavidade de repousar lápis e canetas, e, ao meio, o
lugar para se encaixar o tinteiro. O quintal da escola era enorme,
parte dele, com laranjeiras, cajueiros, pés de ata; mas outra parte
era chão recém brocado; distinguia-se um pequizeiro erado, no pátio
descoberto –na época deles, da sala de aula, ouvia-se o som dos
pequis caindo ao chão... A cantina, a parte menos cuidada: uma
bilheira com dois potes de água fria, que logo secavam; as sentinas
eram uma fábrica de brigas, confusão todo dia.
Naquela
primeira metade dos anos 60, pelo “Estado do Paraná” ou nas
demais escolas que por lá funcionavam, o magistério era somente de
professoras; lembro das minhas: Maria da Paz Almeida, Mocinha
Saraiva, Jesus Angeline, Carmelita Saraiva, Maria da Luz Lopes,
Oscarina Ventura, Jacira Fernandes e Clóris Labre da Silveira Dias.
Antes disso, fizera o “jardim” com dona Eurides Borges (minha
primeira professora, do ABC) e dona Teresinha Moreira (a Cartilha).
A
testemunhar esta história que agora tiro da cabeça, há centenas de
colegas do tempo, com suas próprias memórias. Mas três pessoas são
testemunhas da vida desse grupo escolar, como poucas: as vizinhas
dele, dona Chiquinha do Mané Corró e dona Maria do Leó; também
dona Sidona do Zé Cearense (já falecida), que desde o primeiro dia
montou uma banquinha de venda de bolos e manga rosa e vivia às
voltas com as professoras que não liberavam a saída de quem tinha
um trocado para ir comprar –também nos davam água.
A
cada dia, no início de tudo, “tia” Clóris, a diretora, fazia a
formatura, regia o hino e a oração do dia. Cada dia, um hino:
nacional, do Maranhão, Independência, à Bandeira e até o do
Descobrimento do Brasil, que nunca mais vi cantado em lugar nenhum.
Aqui e acolá aparecia alguma “autoridade constituída” para
participar. O inspetor estadual era a autoridade educacional mais
reverenciada – e temida – das que vinham de fora: lembro-me bem
do professor Tony Macedo, perfilado, de terno.
Friozinho
bom o da Passagem, era coisa ruim acordar cedo para ir à escola.
Vida dura: encanto? Desconfio que a escola pública mudou.
(Dedico
esta crônica aos padres Manoel e Vicente; donas Chiquinha, Maria e
Sidona; a Anastácio Borges, prefeito que a inaugurou – falecido há
seis dias.)
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