Grande
Ral, grande amigo, grande poeta da nossa geração. Recebo a notícia
de seu passamento com tristeza e resignação, afinal, como já
dissera alguém, somos seres nascidos para a morte.
Um
a outro, nos conhecemos ainda na segunda metade dos anos setenta, em
verdade, uma das primeiras pessoas que de nossa geração que tive o
prazer de conhecer. Trabalhamos juntos (eu, ele e Paulo Machado, o
poeta, registre-se) na então recém-inaugurada (e hoje extinta)
Livraria Corisco, que ficava na esquina da 13 de maio com a Areolino
de Abreu. Éramos vendedores e atendentes, ao mesmo tempo. Foi o meu
primeiro emprego e trabalhava com o que eu mais gostava (e gosto):
livros. Na época, a Livraria Corisco (que ainda não tinha sido
picada pelo aguilhão dos livros didáticos e produtos de papelaria)
só se dedicava à literatura (ficção e poesia). Foi ali que,
juntamente com o Ral, tive contato inicial com os contistas e poetas
nacionais que me influenciariam, em especial quanto ao realismo
fantástico e que, posteriormente, me levariam até Kafka, Júlio
Cortázar, Borges, Juan Rulfo e Gabo, dentre outros. Vivíamos o
"boom" da literatura. E o conto era o principal veículo
daquele momento literário. Civilização Brasileira e Codecri eram
as editoras mais evidentes nesse segmento. Lembro, como se fosse
hoje, das palavras do Cíneas Santos, meu professor de Literatura e
primeiro grande incentivador: "para escrever, basta olhar pela
janela". Claro que estava querendo dizer que, vivíamos os anos
de chumbo, tema havia para todos os gostos, o que não dispensava,
por óbvio, o talento para escrever. Na prosa curta, Dalton Trevisan,
Rubem Fonseca, J.J. Veiga, Roberto Drummond, Murilo Rubião, Domingos
Pellegreni Jr, Wander Piroli, João Antônio, Luiz Vilela, Antônio
Torres, Luiz Fernando Emediato, Caio Fernando de Abreu, Deonísio da
Silva, dentre tantos outros, eram os nomes emergentes de nossa
ficção. Tempos bons aqueles. Havia uma grande dose de romantismo em
tudo, natural para um jovem de 18 anos. Talvez isso tenha contribuído
para que não percebêssemos que o ovo da serpente, que mais tarde
transformaria a utopia em mais uma desilusão, já cozinhava. Mas
enquanto durou, o sentimento, jurado em conjunto, de que o mundo
poderia vir a ser outro, nos alimentou a esperança.
O
tempo, a distância e a necessidade de assumir compromissos pautados
pela faticidade cuidaram de nos afastar (eu e o Ral, eu e outros
tantos) e recortar nossos objetivos.
Mas,
esse tempo que afasta é o mesmo que aproxima, é o que se guardou na
memória rígida. E isso não há força ou alguém possa nos
arrancar.
Tempos
bons aqueles, Raimundo Alves de Lima. Onde quer que esteja, fique
bem, fique em paz.
Fonte: Blog do Emerson Araújo
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