José
Maria Vasconcelos
Sento-me
diante do computador, paro um instante, inclino a cabeça, fecho os
olhos, invoco ao Espírito Santo de Deus o discernimento e fluxos da
inspiração. Não me envergonha confessar esse hábito, e, olhe, não
sou anjo barroco, cabeça torta aos incensos e louvores. Tenho
certeza, apenas, de que não me encontro à toa neste mundo. De que
meus dias estão contados. De que me foram confiados talentos, pelos
quais prestarei contas, quando me libertar do ciclo solar, na direção
etérea do infinito. Acreditar nesse mistério provoca imensa
responsabilidade, não permite apego exagerado ao material. Só ao
bem, espírito malhado na academia e ginástica das virtudes. Inútil
exagerar nos bens fugazes, pois nada, nem a chave do carro, se
carregará deste mundo.
Semanalmente,
chegam-me carinhosos e-mails de toda parte. Leitores de blogs e
sites, que reproduzem a crônica, deste jornal. Radialistas e
professores que leem e comentam passagens, sem asco de religiosidade,
mas de espiritualidade. Sabe por quê? Por que ainda há uma casta de
gente ávida de degustar o vinho raro do bem. Alegra-me, por
acrescentar um tijolinho na construção do mundo. Leitores, como
Pimentel, Brasília: “Li e repassei aos amigos”. Ou Camila
Coelho, de Parnaíba: “Reúno meus filhos e conversamos sobre temas
educativos do jornal”. Homem público, como Sílvio Mendes, médico,
ex-prefeito de Teresina, louvado pela conduta enxuta de gestor,
assediado por partidos: “Repassando sua crônica aos meus amigos,
caríssimo JM. Então você entende bem porque tenho resistido a
retornar à gestão pública.”Infelizmente, Sílvio, o campo
político assemelha-se à fábula grega de Esopo, recontada por La
Fontaine e Monteiro Lobato : cordeiro e lobo bebiam no mesmo riacho:
o lobo mais acima, o cordeiro mais embaixo do monte. O lobo acusava o
cordeiro de turvar a água, a fim de encontrar motivo para devorá-lo.
“Como posso turvar a água, se você, lobo, se encontra mais
acima?”
Está
difícil cordeiros do bem conviverem com lobos do mal na política e
gestão pública. Lobos tentam, a todo custo, turvar a Justiça com
recursos, a fim de voltar ao canibalismo do dinheiro público.
Assimilam princípios imorais revestidos de argumentos morais.
Consequentemente, o confronto é inevitável, e, quase sempre,
cordeiros são levados ao holocausto.
Em tempo
de vacas magras de políticos e gestores virtuosos, o povo clama por
José ou Moisés que o libertem do cativeiro da corrupção e avanço
do mal.
Sinto-me
gratificado, concluído mais um texto. Debruço-me novamente,
agradeço os fluxos recebidos. Brinde de raro vinho dirigido à
congregação do bem.
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